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Conflitos na Ucrânia transformam Donetsk em cidade-fantasma

A cidade está no centro das tensões do país há três meses

29 jul 2014 - 09h19
(atualizado às 11h01)
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Donetsk vira cidade-fantasma com piora nos conflitos ao leste da Ucrânia
Donetsk vira cidade-fantasma com piora nos conflitos ao leste da Ucrânia
Foto: Sandro Fernandes / Especial para Terra

“A guerra está cada vez mais perto”. É com estas palavras que Masha, a dona de uma pousada em Donetsk, no leste da Ucrânia, tenta explicar o esvaziamento da cidade. “Todo mundo está indo embora e vocês (jornalistas) estão vindo pra cá. Vocês são doidos”.

A cidade, quinta maior da Ucrânia, está há pelo menos três meses no centro da crise política do país, que culminou com o conflito armado entre o Exército ucraniano e os rebeldes separatistas pró-Rússia. “Era uma questão política. Agora, é uma questão humanitária. Estamos entre tiros”, revela Masha, que é uma das poucas do bairro que não pensa em emigrar. “Tenho toda a minha vida aqui. Onde vou recomeçar? Como? Do zero?”.

Bibliotecas, lojas, bares, escolas, hoteis – quase tudo está fechado. O movimento de pedestres e carros nas ruas é mínimo. “Esta é uma das ruas mais movimentadas de Donetsk. Num dia de semana comum, estaria tudo engarrafado ou com tráfego muito lento. Agora, posso até sentar no meio da avenida”, conta Nastya, uma professora de Biologia recém-formada que decidiu se mudar para a Crimeia esta semana.

O medo não é em vão. No último final de semana, pelo menos 14 civis foram mortos na região. “Não sei de onde vêm os tiros. A maioria da população acha que é o Exército ucraniano, nosso próprio exército, mas são apenas rumores”, diz Nastya. Entre lágrimas, a jovem se mostra pessimista com o desenrolar da situação. Ela não apoiava a intervenção de nenhum país, mas agora não vê outra maneira para solucionar o problema.

“Já nem me importa quem vai intervir. Que venham. Só queremos paz. Eu adoraria te mostrar uma cidade diferente, uma cidade viva, mas olha isso (apontando uma rua vazia). Virou uma cidade-fantasma. Por isso eu vou pra Crimeia”, lamenta. A Crimeia era uma república autônoma da Ucrânia e foi anexada pela Rússia em março deste ano, depois de um controverso referendo.

O perigo iminente de uma guerra de maiores proporções tem impulsionado um êxodo que parece sem fim. Juntamente com a região vizinha de Luhansk, estima-se que pelo menos 160 mil pessoas já tenham deixado suas casas temendo uma nova onda de conflitos.

No último dia 5 de julho, o Exército ucraniano recuperou o controle das cidades de Sloviansk e Kramatorsk e os rebeldes recuaram para as cidades de Donetsk e Luhansk, onde ainda estão no poder. A Ucrânia não parece disposta a ceder e a perder mais partes do seu terriório. As ofensivas contra os rebeldes devem continuar nos próximos dias.

A reportagem do Terra chegou a Donetsk no último domingo e comprovou que artilharia pesada está sendo usada no conflito. Explosões podem ser vistas e ouvidas a poucos quilômetros do centro da cidade. Nas últimas duas noites, era possível ouvir bombas e disparos durante toda a madrugada nos subúrbios da cidade, além de forte cheiro de fumaça.

<p>O perigo iminente de uma guerra de maiores proporções tem impulsionado um êxodo que parece sem fim na cidade</p>
O perigo iminente de uma guerra de maiores proporções tem impulsionado um êxodo que parece sem fim na cidade
Foto: Sandro Fernandes / Especial para Terra

Os rebeldes afirmam não possuir armas pesadas e acusam o Exército ucraniano dos recentes ataques. Já os Estados Unidos divulgaram imagens de satélite que, segundo eles, comprovariam que a artilharia russa lançou foguetes e morteiros em direção à Ucrânia em apoio aos separatistas pró-russos. Moscou nega qualquer intervenção direta no conflito ucraniano.

Enquanto os governos da Ucrânia, dos EUA, da Rússia e dos separatistas trocam acusações, a população local tenta se proteger como pode dos ataques. “Não há maior sensação de impotência. As bombas vêm do alto e você sabe que elas podem cair a qualquer momento em cima de você”, relata Irina, que trabalhava em uma loja de telefones que está fechada há mais de um mês. “Quero sair daqui. Uma amiga quer que a gente se mude para a Turquia”.

Um relatório divulgado nesta segunda-feira pela ONU aponta que o confronto no leste da Ucrânia já matou 1.129 pessoas e feriu outras 3.442 desde abril. Na semana passada, a Cruz Vermelha declarou que o conflito na região pode ser classificado como uma guerra civil.

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Fonte: Especial para Terra
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