Conheça a história de Erdogan, eleito presidente da Turquia
Eleições realizadas no país neste domingo confirmaram o resultado esperado: com quase 52% dos votos, Erdogan continua no poder
A Comissão Eleitoral da Turquia confirmou a vitória por maioria absoluta nas eleições presidenciais realizadas hoje do atual primeiro-ministro do país, Recep Tayyip Erdogan, o que o transforma no novo chefe de Estado eleito.
Com 99% da apuração concluída, Erdogan venceu no primeiro turno com 51,8% dos votos e sucederá o presidente Abdulah Gül em um mandato de cinco anos.
Seu rival mais próximo, o acadêmico Ekmeleddin Ihsanoglu, obteve 38,5%, e o ativista curdo Selahattin Demirtas, 9,8%, segundo o jornal "Hürriyet".
"Já foram apurados 99% dos votos. Os votos sem contar não vão alterar o resultado", disse em comunicado o presidente da Comissão Eleitoral, Sadi Güven. Os dados finais da apuração serão divulgados amanhã.
"Erdogan alcançou a maioria absoluta dos votos válidos. Decidimos portanto que não há necessidade de preparar um segundo turno", disse a nota.
Quem é Erdogan
O presidente da Turquia tem poderes limitados e um papel mais cerimonial, embora Erdogan tenha dito que quer realizar uma reforma legal para conceder mais poder ao chefe do Estado.
O carismático premier islâmico-conservador Recep Tayyip Erdogan, 60, no poder desde 2003, venceu neste domingo as eleições presidenciais na Turquia, tornando-se o mais longevo dirigente da república fundada em 1923 por Mustafa Kemal Ataturk sobre as ruínas do Império Otomano.
Erdogan, que, quando jovem, foi vendedor ambulante, torna-se o líder mais poderoso da Turquia moderna e uma figura providencial para seus partidários, mas a encarnação da polarização crescente no país para seus detratores.
Mas "o sultão", como é chamado, enfrentou nos últimos anos, nas ruas e redes sociais, acusações de despotismo, por parte de ex-aliados e opositores.
A repressão às manifestações sociais e as leis de controle da internet mancharam a imagem de um homem considerado responsável por uma década de crescimento ininterrupto em uma potência emergente de 76 milhões de habitantes.
As denúncias envolvendo corrupção em seu entorno e os ataques nas redes sociais o irritaram a ponto de ele começar a chamar os adversários de "traidores" e "terroristas".
Também foi acusado de minimizar o acidente na mina de Soma, que, em maio, deixou 301 mortos, atribuindo-o a uma fatalidade e comparando-o aos desastres em minas inglesas do século XIX.
Mas ele segue tendo um apoio sólido nas zonas rurais e nos meios religiosos, que prosperaram sob seu governo.
O partido de Erdogan venceu todas as eleições desde 2002, e o primeiro-ministro, no cargo desde 2003, ganhou o status de homem que trouxe a estabilidade depois de décadas de golpes de Estado e alianças frágeis, e que soube cortar as asas dos militares.
Grande incentivador de pontes, aeroportos e projetos faraônicos de infraestrutura, Erdogan transformou a Turquia em um mercado robusto, controlando a inflação e triplicando a renda da população.
Seu impulso de construtor chocou-se, em maio de 2013, com a resistência da população de Istambul à transformação do parque Gezi em um centro comercial de estilo otomano.
Durante três semanas, 3,5 milhões de turcos protestaram em centenas de cidades, desafiando a repressão policial. As manifestações resultaram em oito mortos, mais de 8 mil feridos e milhares de prisões.
Em dezembro, Erdogan acusou seus ex-aliados da irmandade do imã Fethullah Gülen de estarem por trás das acusações de corrupção contra o Executivo.
Este ano, promulgou leis que reforçam o controle sobre a internet, denunciadas como "liberticidas" pela oposição.
Segundo o professor Ilter Turan, da Universidade Bilgi, de Istambul, o apoio constante nas urnas teve o efeito paradoxal de incentivar as "tendências autoritárias" do chefe de governo.
"Desde que chegou ao poder, o premier foi mudando aos poucos das tendências pragmáticas para a autoritárias, do trabalho em equipe para as decisões pessoais, da democracia para o autoritarismo, das políticas elaboradas para as impulsivas", afirma.
Erdogan, filho de um guarda-costas de Kasimpasa, foi vendedor ambulante de limões e pães na adolescência.
Aderiu rapidamente a grupos islâmicos que enfrentavam o regime secular-nacionalista e os governos militares que consideravam parte de sua missão manter uma separação rigorosa entre as mesquitas e as instituições estatais.
Foi jogador semiprofissional de futebol e realizou estudos empresariais, antes de ser eleito, em 1994, prefeito de Istambul, cargo em que ganhou popularidade com medidas para tentar reduzir os congestionamentos e a poluição na megalópole, de 15 milhões de habitantes.
Seu partido foi declarado ilegal e Erdogan passou quatro meses na prisão por ter recitado em uma manifestação um poema islamita considerado pelos juízes incitação ao ódio religioso.
Em 2001, Erdogan e Abdullah Gul, atual presidente turco, fundaram o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), que, no ano seguinte, obteve a primeira vitória nas urnas.
Seus governos promoveram reformas que aproximaram a Turquia da União Europeia, embora o processo de adesão se encontre paralisado, em grande parte devido a disputas internas.
Nos últimos anos, Erdogan flexibilizou a proibição do uso do véu islâmico, restringiu a venda de bebidas alcoólicas e tentou afastar os dormitórios de homens e mulheres nos alojamentos universitários, o que lhe valeu denúncias de tentar impor uma islamização desenfreada da sociedade.
"Não concordo com a opinião de que a cultura islâmica e a democracia são incompatíveis", declarou, em certa ocasião.
Os defensores do regime laico criado por Ataturk o acusam de trair seu legado, mas Erdogan afirma que a transformação de um país atrasado em uma potência regional teria sido aprovada pelo pai da Turquia moderna.
Com informações da EFE e AFP.