Ao retornar à sala de aula depois dos atentados em Paris na semana passada, Antoine Thiboult não teve como fugir do assunto diante das perguntas dos alunos de sete e oito anos em uma escola na capital francesa.
“É um assunto difícil de ser tratado, porque não podemos entrar nos detalhes com as crianças. Nós fomos até o fato de que eles foram mortos”, disse ao Terra, por e-mail. Thiboult avalia que seus alunos são muito jovens para perceber a gravidade do ocorrido, mas que entenderam que "existiam bonzinhos e malvados" e fizeram um minuto de silêncio.
Se adultos se assustam e, muitas vezes, não entendem atentados terroristas, falar com as crianças pode ser ainda mais difícil. Talvez alguns pais prefiram não comentar ou minimizar a situação. Decisão errada, segundo especialistas. Ítalo Francisco Curcio, professor de pedagogia da Faculdade Presbiteriana Mackenzie, explica que é importante dizer a verdade para os mais jovens. “Não se pode florear ou fantasiar a realidade. É preciso dizer o que aconteceu e em que contexto.”
Mas as crianças podem ter dificuldades para entender certos conceitos. Segundo Curcio, o conceito de terrorismo, por exemplo, só é compreendido a partir da pré-adolescência. Então, a explicação para os pequenos pode ser um pouco mais superficial. “Quando a criança perguntar o que é terrorismo, é importante dizer que vem do terror, que está relacionado à violência, que é errado. Mas não se pode dar uma aula muito complexa.”
A ideia de questões absolutas, como a morte, também não é completamente entendida por crianças pequenas. Contudo, de acordo com o terapeuta familiar Moises Groisman, mesmo assuntos que não são totalmente compreendidos precisam ser trabalhados. “Mesmo que não entendam a morte, eles percebem que alguma coisa estranha aconteceu. As crianças notam a máscara de terror no rosto dos adultos.” O terapeuta ressalta ainda que, além de questões de terrorismo, os adultos também precisam explicar situações de violência urbana, assaltos e orientar como as crianças devem agir em cada situação.
Aqui no Brasil, a distância dos acontecimentos pode dar aos pais a impressão de que os filhos não percebem o ocorrido. Groisman alerta que as tragédias não marcam apenas as crianças mais próximas aos eventos, mas também aquelas que acompanham de longe. Elas percebem os comentários dos adultos, escutam o que é dito nos noticiários, por isso é importante que possam conversar com os mais velhos sobre o assunto.
No entanto, a explicação e a linguagem precisam estar de acordo com o entendimento e a realidade da criança, é o que diz a coordenadora do Núcleo de Família e Comunidade da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Rosa Maria Stefanini de Macedo. Ela explica que, com uma criança pequena, vale usar analogias com a escola, como a relação com os colegas, por exemplo. “Você pode comentar que, às vezes, um amigo da escola pode se ofender com algum comentário e reagir com violência. É preciso dizer que a reação está errada, que se alguém se sente ofendido precisa procurar a professora, ou entre adultos, a Justiça.”
Além de mostrar como as reações violentas são erradas, Cursio diz que é interessante explicar que todos têm o direito de se expressar, mas é importante cuidar para não ferir os valores de outros e que algumas pessoas podem não ter equilíbrio para lidar com ofensas. “O pai pode dizer: olha meu filho, precisamos medir nossas palavras.” Ele acrescenta que é importante ensinar a tolerância e o convívio com as diferenças.
Terrorismo e religião
Na mesma linha, Rosa Maria lembra que é importante explicar que a violência não é fruto de uma determinada religião, mas de pessoas que não sabem respeitar as diferenças ou como reagir de forma correta quando se sentem ofendidas. Principalmente quando os atentados envolvem questões religiosas, é preciso entender que nem todos os seguidores de uma religião são terroristas e nem todos os terroristas seguem alguma religião.
Em Paris, o professor Thiboult aproveitou para contextualizar a questão religiosa. “Eu tentei explicar que existem três grandes religiões presentes no planeta, seus pontos comuns e, acima de tudo, as suas diferenças. E também o fato de que os muçulmanos recusam representações do profeta”.
Além de esclarecer os fatos, os pais e professores também precisam acalmar as crianças. Muitas vezes os pequenos se assustam com a repercussão. Quando a notícia é sobre algo mais distante, como em outro país, é possível explicar que o crime aconteceu em outro lugar, com uma realidade diferente. Quando a situação é mais próxima, Rosa Maria orienta que se mostre as ações que estão sendo tomadas pelas autoridades para evitar um novo caso.
O tamanho do susto que as crianças levam nem sempre pode ser medido, segundo explica Curcio. Ele aponta que o educador, seja pai ou professor, precisa ter cuidado para explicar as causas e evitar confusões. “É preciso tentar explicar as motivações de um atentado. Se a criança não entender o que aconteceu, pode ver coisas diferentes, como uma manifestação de rua, e se assustar, achar que é a mesma coisa.”
O terapeuta Groismam entende que tentar proteger os filhos da realidade pode ter um impacto mais perigoso depois. “Se a criança não foi orientada sobre os fatos e acontece algo semelhante no futuro, o choque pode ser muito maior. Ela não foi preparada, mas faz associação com o acontecimento anterior.” Para o psicólogo, os pais devem aproveitar o ocorrido para alertar os filhos sobre as questões de segurança.
A revista satírica "Charlie Hebdo", que foi ameaçada no passado por ter publicado caricaturas de Maomé, foi alvo nesta quarta-feira em Paris de um ataque
Foto: AFP
Ao menos 12 pessoas morreram em ataque
Foto: AFP
Quatro cartunistas e dois policiais estão entre as vítimas fatais
Foto: AFP
O presidente francês afirmou que se trata de um ataque terrorista
Foto: Christian Hartmann / Reuters
Equipes de segurança e emergência estão no local
Foto: Christian Hartmann / Reuters
Homens armados atacam sede de revista francesa; tiroteio deixa ao menos 12 mortos
Foto: The Telegraph / Reprodução
Homens armados atacam sede de revista francesa; tiroteio deixa ao menos 12 mortos
Foto: The Telegraph / Reprodução
Ao menos dois homens armados atacaram a sede da revista em Paris
Foto: The Telegraph / Reprodução
Vítimas são retiradas no prédio
Foto: The Telegraph / Reprodução
Bombeiros e policiais trabalham no resgate das vítimas do ataque terrorista contra a revista satírica "Charlie Hebdo"
Foto: Philippe Wojazer / Reuters
Vítima do atentado à revista "Charlie Hebdo" é socorrida por bombeiros
Foto: <p>Vítima do atentado à revista "Charlie Hebdo" é socorrida por bombeiros</p>
Ao todo, doze pessoas foram mortas no atentado, incluindo três cartunistas e o editor-chefe da revista
Foto: <p>Ao todo, doze pessoas foram mortas no atentado, incluindo três cartunistas e o editor-chefe da revista</p>
Pessoas se abraçam em frente ao escritório da revista "Charlie Hebdo" após atentado
Foto: Remy de la Mauviniere / AP
A Torre Eiffel de Paris, um dos monumentos mais emblemáticos do mundo, apagou sua luzes em homenagem às vítimas do atentado.
Foto: AFP
Forças policiais de intervenção procuram dois suspeitos de cometerem o atentado
Foto: Christian Hartmann / Reuters
Policial faz vigília em Porte de la Villete, um dos acessos da cidade de Paris, durante a busca pelos suspeitos do atentado.
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Policiais franceses com um cão farejador em local de tiroteio perto de Paris. 08/01/2015
Foto: Christian Hartmann / Reuters
Cartazes de solidariedade na Praça da República em Paris
Foto: EFE en español
Cherif (esquerda) e Said Kuachi, os dois suspeitos do ataque à revista satírica Charlie Hebdo.
Foto: AP
Franceses e brasileiros se uniram em homenagem aos mortos no atentado contra a revista francesa, em Paris
Foto: André Naddeo / Terra
Um cartaz onde está escrito "Somos todos Charlie Hebdo" é erguido na embaixada francesa em Washington, nos EUA
Foto: Gary Cameron (UNITED STATES - Tags: POLITICS CRIME LAW CIVIL UNREST) / Reuters
Homem exibe cartaz com a mensagem "Eu Sou Charlie", em referência à revista francesa Charlie Hebdo, durante vigília na praça Republique, em Paris, em homenagem às vítimas do atentado ocorrido na redação da publicação, nesta quarta-feira. 07/01/2015
Foto: Youssef Boudlal / Reuters
Jornalistas da redação da agência AFP seguram cartazes em solidariedade às vítimas do ataque à revista Charlie Hebdo, em Paris
Foto: Bertrand Guay / AFP
Mulher segura cartaz com a frase "Eu sou Charlie" em frente ao Portão de Brandemburgo, perto da embaixada francesa em Berlim, para protestar contra o atentado à revista satírica francesa Charlie Hebdo. 07/01/2015
Foto: Fabrizio Bensch / Reuters
Atos de apoio a vítimas de ataque se espalham pela Europa
Foto: EFE
Governo francês elevou o alerta contra terrorismo ao nível máximo
Foto: AFP
Milhares de pessoas participam de uma vigília, na praça Republique, no centro de Paris
Foto: EFE en español
Uma pessoa ferida é transportada em uma ambulância depois do tiroteio
Foto: AP
Policiais investigam tiroteio na sede da revista francesa Charlie Hebdo, em Paris, na França, nesta quarta-feira. 07/01/2015
Foto: Youssef Boudlal / Reuters
Capa do dia da revista Charlie Hebdo, nesta quarta-feira
Foto: BBC Brasil / Reprodução
Nesta imagem de arquivo, o cartunista Charb, que ocupava o cargo de editor-chefe da revista, posa na redação da Charlie Hebdo, em Paris
Foto: Jacky Naegelen / Reuters
Polícia busca os culpados pelo atentado terrorista na revista satírica francesa
Foto: Reuters
Polícia fecha posto onde suspeitos teriam sido vistos na manhã seguinte ao atentado
Foto: Twitter
Funcionários do portal Mashable também realizaram uma homenagem aos jornalistas que morreram no atentado
Foto: Mashable / Twitter
Milhares de pessoas se reuniram em Paris, em homenagem às vítimas do sangrento atentado contra a revista humorística Charlie Hebdo
Foto: Twitter
Jornalistas da AFP protestam contra o ataque segurando cartazes
Foto: Loic Venance / AFP
Policiais buscam evidências enquanto homem não identificado é detido em operação na cidade francesa de Reims. 08/01/2015
Foto: Christian Hartmann / Reuters
"Nossa melhor arma é a nossa união. Nada pode nos dividir, nada deve nos separar", declarou Hollande, chefe de Estado da França
Foto: Philippe Wojazer / Reuters
Atos foram convocados por vários sindicatos, associações, meios de comunicação e partidos políticos
Foto: Reuters
Cerca de cinco mil pessoas se reuniram a partir das 17h locais (14h de Brasília) na praça da República, perto da sede do semanário.
Foto: Reuters
Diversos cartazes foram levantados em memória dos que morreram no ataque
Foto: Reuters
Velas foram acesas em homenagem às vítimas da revista semanal
Foto: Reuters
Ataque deixou 12 pessoas mortas na redação da revista
Foto: Reuters
Flores foram levadas para o ato em homenagem às vítimas do atentado
Foto: Reuters
Manifestação durou a noite toda em Paris
Foto: Reuters
Milhares de pessoas participam de uma vigília, na praça Republique, no centro de Paris
Foto: AFP
Alguns usavam adesivos e cartazes onde se podia ler a mensagem "Je suis Charlie" ("Eu sou Charlie"), que também circula nas redes sociais
Foto: AFP
Polícia revista pessoa que andava no entorno do mercado onde terroristas fizeram reféns
Foto: Dan Kitwood / Getty Images
População local observa cerco da polícia ao mercado judaico em Paris
Foto: Dan Kitwood / Getty Images
Ambulâncias e resgate foram disponibilizados para os sobreviventes da invasão.
Foto: Michel Euler / AP
População que ficou presa dentro do mercado saiu correndo do local; informações iniciais apontam que quatro reféns morreram na operação.
Foto: Michel Euler / AP
Polícia foi obrigada a usar força dentro mercado, matando um dos terroristas e libertando dezenas de reféns presentes no local. Um refém acabou morto e a sequestradora fugiu.
Foto: Dan Kitwood / Getty Images
Perímetro foi isolado pelas forças de segurança, que trabalham ativamente desde quarta-feira, quando 12 pessoas foram mortas dentro da sede da Charlie Hebdo.
Foto: Gonzalo Fuentes / Reuters
Grande contingente policial francês foi deslocado para tentar solucionar a questão.
Foto: Dan Kitwood / Getty Images
Respectivamente, Hayat Boumediene e Amedy Coulibaly, que mantiveram reféns no mercado judaico.
Foto: Twitter
O casal terrorista Hayat Boumediene e Amedy Coulibaly fez reféns dentro de um mercado judeu no leste de Paris, nesta sexta-feira. Outras três pessoas foram mortas por eles.
Foto: Gonzalo Fuentes / Reuters
Ao todo, cerca de 88 mil homens das forças armadas francesas participaram, por três dias, da caçada ao suspeito de envolvimento no ataque a revista Charlie Hebdo
Foto: Twitter
Por fim, a polícia invadiu o local e matou os dois irmãos. O refém foi liberado e passa bem.
Foto: Twitter
A polícia falou por celular com os irmãos durante o cerco a fábrica.
Foto: Twitter
Cerco policial foi formado para capturar os irmãos Said e Cherif Kouachi.
Foto: Christian Hartmann / Reuters
Os terroristas mantiveram um refém dentro de uma fábrica ao nordeste de Paris.
Foto: Pascal Rossignol / Reuters
Cherif Kuachi e Said Kuachi, irmãos suspeitos do atentado terrorista na revista Charlie Hebdo na quarta-feira, foram vistos na manhã desta sexta na cidade de Dammartin-en-Goele, no norte da França.
Foto: Thibault Camus / AP
Chinesa carrega cartaz em homenagem ao jornal alvo dos ataques na última quarta-feira, em francês e chinês
Foto: Reuters
Premiê de Israel, Benjamin Netanyahu chega a Grande Sinagoga de Paris para discurso em homenagem às vítimas do ataque ao mercado kosher
Foto: Reuters
O presidente francês, Francois Hollande, conforta o colunista do Charlie Hebdo Patrick Pelloux durante a marcha pela liberdade
Foto: Reuters
Pessoas escalam o monumento da Queda da Bastilha durante os últimos momentos da marcha pela liberdade
Foto: EFE
Jovens sobem no monumento 'O Triunfo da República', no fim da marcha pelas ruas de Paris
Foto: Fernando Diniz / Terra
Cartaz que foi o mote da manifestação, "Eu sou Charlie" é visto no meio da manifestação
Foto: Reuters
Manifestação foi até o cair, com velas sendo acendidas pelos franceses
Foto: Reuters
No dia 14 de janeiro, franceses fizeram fila para comprar a primeira edição da revista após o ataque terrorista
Foto: Bertrand Guay / AFP
Fila é formada em banca de jornais; franceses encontraram dificuldades em comprar o Charlie Hebdo
Foto: Fernando Diniz / Terra
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Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra