Crise cambial na Rússia pode abalar estrutura de poder de Putin
A Rússia fracassou em evitar o colapso do rublo na terça-feira, colocando o presidente Vladimir Putin diante de uma crise cambial que pode enfraquecer seu poder.
Um aumento de 6,5 pontos percentuais na taxa de juros, para 17 por cento, durante a noite não conseguiu evitar que a moeda atingisse mínimas recordes frente à “tempestade perfeita” nos baixos preços do petróleo, temores de recessão e sanções do Ocidente por conta da crise na Ucrânia.
Putin culpou especuladores e o Ocidente pelo colapso do rublo, e um porta-voz presidencial atribuiu, na terça-feira, a turbulência do mercado a “emoções e humor especulativo”.
O rublo perdeu 11 por cento frente ao dólar na terça-feira, a queda diária mais aguda desde a crise financeira da Rússia em 1998. A moeda já caiu 20 por cento desde o começo da semana, e acumula desvalorização de mais de 50 por cento neste ano.
Enquanto Moscou enfrentava a crise, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, disse que as sanções podem ser suspensas se Putin tomar mais medidas para aliviar as tensões e cumprir os compromissos firmados sob os acordos de cessar-fogo para encerrar o conflito na Ucrânia.
“Estas sanções podem ser suspensas em questão de semanas ou dias, dependendo das escolhas que o presidente Putin tomar”, disse Kerry a repórteres em Londres.
Mantendo a pressão sobre Moscou, o presidente Barack Obama deve assinar uma lei nesta semana autorizando novas sanções contra a Rússia por conta de suas atividades na Ucrânia, e fornecerá armas para o governo de Kiev, disse o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest.
Mas ele disse que os EUA não querem adotar novas medidas que não estejam sincronizadas com seus parceiros europeus.
Para a economia russa, a crise cambial significa que uma recessão mais profunda é mais provável no ano que vem, à medida que as altas taxas de juros devem prejudicar o crescimento. Para o setor empresarial, isso significa mais incertezas e menos acesso a financiamentos. Para o banco central, significa crise de credibilidade.
Já para Putin, a crise aumenta o risco de perder dois de seus principais pilares de apoio --estabilidade financeira e prosperidade-- e traz uma indesejada dor de cabeça sobre suas políticas em uma época em que as relações com o Ocidente também sofrem por causa da Ucrânia.
(Reportagem adicional de Elizabeth Piper, Alexander Winning e Lidia Kelly)