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Cronista da revista Charlie Hebdo: "Não pude salvá-los"

"Enquanto cuidávamos das vítimas, eles (os assassinos) continuavam matando gente na rua", contou o colaborador da Charlie Hebdo em entrevista à agência AFP

8 jan 2015 - 15h49
(atualizado às 17h51)
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<p>Bombeiros levam vítima em maca após ataque a jornal satírico em Paris, em 7 de janeiro</p>
Bombeiros levam vítima em maca após ataque a jornal satírico em Paris, em 7 de janeiro
Foto: Jacky Naegelen / Reuters

"Não pude salvá-los...", lamenta Patrick Pelloux. O médico e colaborador da Charlie Hebdo chegou ao jornal minutos depois do ataque que dizimou a redação da revista satírica e, com a voz embargada, deu um depoimento comovente sobre a tragédia.

Excepcionalmente, Pelloux não participou da reunião de pauta do semanário. Presidente da Associação de Médicos de Emergência da França, assistia na mesma hora, não muito longe do jornal, a uma reunião dedicada a melhorar a coordenação entre os serviços de emergência médica e os bombeiros.

"Estava nesta reunião quando Jean-Luc, o gráfico (do Charlie Hebdo), me ligou e disse: 'você tem que vir rápido, atiraram em nós com kalachnikov", contou Patrick Pelloux, entrevistado por telefone pela AFP.

Após ataque, imprensa mundial entra em luto:

"Achei que era uma brincadeira... Mas não era. Quando cheguei, foi assustador", contou, soluçando. O ataque deixou 12 mortos, entre eles oito jornalistas e dois policiais, e onze feridos.

"Chegamos três minutos depois com um coronel dos bombeiros de Paris, que foi heroico, pôs em andamento todo o socorro. E enquanto cuidávamos das vítimas, eles (os assassinos) continuavam matando gente na rua...".

"Não pude salvá-los", lamentou Pelloux, chorando a morte dos colegas. Para alguns, "não havia mais nada a fazer porque atiraram na cabeça".

Quanto a Charb, diretor da revista, morto ao lado dos outros cartunistas, Cabu e Wolinski, "acho que deve ter se levantado e chamado de imbecis ou sido ríspido, ou tentado tirar suas armas. Na posição em que morreu, estava entrelaçado à cadeira, é como se tivesse sido morto quando estava se levantando. Eu o conheço bem, era meu irmão, e sei que deve ter feito isso...".

Os feridos, entre os quais estão o cartunista Riss e os jornalistas Philippe Lançon e Fabrice Nicolino, estavam melhor na manhã desta quinta-feira, segundo Pelloux.

No estúdio do canal iTélé, Patrick Pelloux contou, ainda, ter ligado para o presidente François Hollande imediatamente após o ataque: "Liguei para o presidente, ele passou ao telefone em seguida. Disse, 'chego já'".

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"O presidente quis nos ver quando viu que o jornal tinha dificuldades este verão. Fomos vê-lo. O presidente queria mudar a lei para que os jornais continuem existindo", disse.

A solidariedade manifestada desde o atentado "me faz ser otimista", explicou à AFP o médico e cronista. As "milhares de pessoas" que se manifestaram na quarta-feira e "as palavras de François Hollande, de David Cameron e de Barack Obama são algo muito importante".

"As duas coisas que fazem os integristas fugir são a cultura e a liberdade de imprensa. Os países democráticos devem fazê-las viver", disse, acrescentando que o Charlie Hebdo será publicado na próxima quarta-feira, como de hábito.

"Todos temos nossas aflições, nossa dor, nossos medos, mas vamos fazê-lo de toda forma porque a estupidez não vencerá", concluiu.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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