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Entre corpos, sobrevivente se declarou à namorada em Paris

Michael O'Connor, 30 anos, e outras pessoas relatam momentos dramáticos que viveram na casa de shows Bataclan

16 nov 2015 - 15h57
(atualizado às 16h37)
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Foto: Getty Images

Um Volkswagen Polo preto estacionou do lado de fora da casa de shows Bataclan às 21h40 (18h40 de Brasília) da última sexta-feira, e três homens fortemente armados saíram.

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Menos de três horas depois eles estavam mortos, haviam matado 89 pessoas e ferido outras 99 com gravidade. O que aconteceu neste meio tempo?

"Parecia um abatedouro", disse à BBC Michael O'Connor, britânico de 30 anos que sobreviveu ao ataque. "Eu estava andando sobre o sangue. Tinha um centímetro de profundidade em alguns lugares. Tive que passar por cima de corpos para sair."

Algumas que conseguiram fugir, mas O'Connor ficou preso na casa de shows, escondendo-se dos extremistas, até a polícia chegar.

"Puxei minha namorada para baixo de mim e fiquei por cima dela", disse. "Havia alguém sobre minhas pernas, havia alguém deitado em cima da cabeça da minha namorada - estava muito apertado. Algumas pessoas estavam inconscientes ou muito feridas - acho que estavam mortas."

O'Connor temeu pelo pior. "Eu falei para minha namorada que a amava - o que mais eu poderia fazer nessa situação?"

Theresa Cede foi outra que não conseguiu sair do local. "Um cara estava gravemente ferido e gemendo, então tentamos dizer, 'Shhh, fique quieto, fique vivo e não se mova', porque todas as vezes em que havia movimento havia mais tiros".

'Rajada'

Os homens armados entraram no prédio pela entrada principal do Bataclan às 21h40, entre 30 e 45 minutos depois que a banda de Eagles of Death Metal começou o show. Testemunhas disseram que viram corpos no chão perto da entrada.

Dentro da casa de shows, ele atiraram contra a multidão. Sua primeira ação foi atirar em todo mundo que estava no bar, disseram ao jornal Libération Grégoire, Thomas e Nicolas, que estavam no local.

O trio estava assistindo ao show do mezanino e lembra de ter visto um movimento da multidão como "uma rajada de vento em uma plantação de trigo", à medida que as pessoas começaram a perceber o que estava acontecendo e se afastaram dos assassinos.

Outro espectador, Fahmi, estava na pista quando ouviu um barulho que pensou que fossem bombinhas. "Primeiro achei que fosse parte do show, mas virei e vi uma pessoa que acabara de ser baleada no olho", disse ele ao Libération.

Muitas pessoas se jogaram no chão, mas mesmo assim não havia muitas pilastras ou algo que servisse para bloquear as balas no espaço. Os homens atiraram aleatoriamente na massa de pessoas deitadas.

Aparentemente, pelo menos um dos extremistas subiu as escadas e matou mais gente no mezanino, possivelmente usando-o como um local privilegiado para atirar nas pessoas na pista.

Em meio à confusão e ao pânico, um segurança gritou para todo mundo segui-lo por uma saída de emergência à esquerda do palco, de acordo com Anthony, outro sobrevivente que falou com o Libération.

Mais gente conseguiu escapar dessa forma, algumas muito feridas. A saída traumática foi gravada em um vídeo feito de um apartamento no lado oposto da rua.

Foto: Divulgação/BBC Brasil / BBC News Brasil

Escondidos no telhado

Julien Pearce, jornalista da rádio francesa Europe 1, ficou deitado no chão perto do palco por cerca de dez minutos durante o ataque.

Ele aproveitou uma pausa nos tiros, enquanto um homem recarregava suas armas, e encorajou um grupo de dez pessoas a seu redor a tentar fugir, pulando no palco.

"Nos escondemos em uma salinha do lado direito do palco, mas infelizmente não havia saída. Estávamos presos." Eles esperaram outra pausa e correram pelo palco para a saída de emergência. Pearce carregava uma mulher gravemente ferida nos ombros.

Segundo os amigos Grégorie, Thomas e Nicolas, cerca de 50 pessoas encontraram uma forma de chegar ao telhado e ficaram lá por duas horas até a operação policial terminar. Outros se esconderam nas salas do local ou se trancaram em banheiros, esperando por ajuda.

Para quem ficou lá dentro, só restava esperar. "Eu conseguia ver a entrada do local atrás da gente. Vi a porta abrir devagar. Não sabia o que estava vindo: então vi lanternas e pensei, 'Tem que ser a polícia'", disse O'Connor.

"Eles estavam com grande escudos à prova de bala. Não disseram nada, estavam gesticulando para ficarmos quietos. Formaram uma barreira nos fundos da pista e apontaram as armas para o mezanino, onde os terroristas ainda estavam."

"Ouvimos tiros - não sei se vieram dos policiais perto da gente ou da pessoa que havia atacado o mezanino, mas ouvimos tiros mais controlados."

De acordo com a Promotoria de Paris, um policial havia atirado em um dos extremistas, e seu cinto de explosivos detonou. Então os outros se explodiram. "Depois a polícia disse para a gente acenar se pudéssemos, para eles saberem que estávamos vivos. Foi um alívio", disse O'Connor.

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