A 'cidade-luz' está em chamas. Paris vive tensão por ataques desde a quarta-feira, quando um atentado terrorista contra a revista satírica Charlie Hebdo matou 12 pessoas, entre elas dez jornalistas. Na quinta-feira, uma explosão foi registrada em um restaurante no interior do país, além de ter havido um tiroteio na periferia da capital, que deixou uma policial morta. Como se não bastasse, um sequestrador armado fez reféns em um mercado judaico no nordeste de Paris, no qual quatro pessoas morreram, nesta sexta-feira.
Acompanhamos o noticiário e o clima de tensão não só em Paris, mas também na França e na Europa de uma forma geral. No entanto, alguns brasileiros veem mais do que o noticiário, eles estão lá, sentindo na pele a comoção de parisienses que, de certa maneira, estão todos reféns da violência.
A jornalista e fotógrafa Cristina Zarur é um exemplo. De férias com a família desde 11 de dezembro, para uma visita a uma amiga que mora nas terras francesas, ela acompanhou os acontecimentos, além de sentir na própria pele a revolta pelas mortes de tantas pessoas inocentes.
“O que tenho visto é uma comoção coletiva. União, mais do que medo entre as pessoas. Tanto que umas das frases das manifestações é ‘on n’a pas peur’ (Não temos medo, em tradução livre)”, conta Cristina.
A fotógrafa também revela que percebe o sentimento de revolta de todos os cidadãos, que se manifestam também de forma silenciosa, com cartazes por toda a cidade.
“Os dizeres ‘Nous sommes Charlie’ (Somos todos Charlie, em tradução livre) estão em lojas, bancas de revistas, postes e até mesmo naqueles espaços próprios para informações públicas (letreiros luminosos da prefeitura). A manifestação do dia 7, no mesmo do atentado, foi espontânea. Nós participamos e tinha muita gente. E tinha ainda mais pessoas do que na manifestação do dia 8, que foi convocada”, afirma.
Segundo Cristina, até os filhos pequenos de sua amiga, que é casada com um francês, foram às manifestações, algo que chamou a atenção dela pela força política do povo local. “Vi várias crianças com os pais, todos segurando cartazes com capas antigas do Charlie”.
Indagada se não sente medo, a brasileira afirma que existe realmente uma tensão no ar, mas que a cidade tem bastante policiamento e que, por isso, tem se sentido segura, circulando por todos os lados. Aliás, sobre a segurança, ela nota a diferença entre o volume de policiais nas ruas entre o dia que chegou e agora.
“Há algumas mesquitas que foram depredadas, há mais policias nas ruas agora do que quando chegamos, em dezembro”, pontua.
A brasileira Ana Clara Campacci, que mora em Paris há um ano, também percebeu a diferença no cuidado com a segurança. Ela estuda na Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris 3 e disse que nesta quinta e sexta-feira teve de apresentar a carteirinha aos seguranças, logo na entrada do prédio. “É estranho, ao mesmo tempo não cai a ficha sobre tudo o que está acontecendo aqui, me senti dentro do problema quando cheguei à Universidade e estavam controlando a entrada, só entra quem apresenta carteirinha”, disse.
Apesar de se sentir chocada e bastante triste, Ana Clara conta que sente a comoção ainda maior nos franceses que encontra pelas ruas e na sala de aula. “Como os ataques seguiram eu já sinto e vejo nas pessoas na rua uma grande tensão, mesmo que todo mundo esteja fazendo tudo normalmente”, afirma.
Cristina também acompanha o ritmo “seguindo” na cidade. “A vida na cidade continua. Mas, tenho certeza, todos os franceses se mobilizaram. É impossível ficar alienado diante dos fatos. Estou indignada com a barbaridade do banho de sangue, temerosa diante da possibilidade de outros atentados e o medo da radicalização da xenofobia”, reflete a fotógrafa.
Apesar de toda a violência, os brasileiros também não parecem ter desistido de conhecer Paris, que é a mais visitada do mundo. A enfermeira e estudante de Direito, Cintia Souza, está partindo para Paris no próximo dia 18.
Esta será a primeira vez que irá para a cidade e diz que estar bastante animada para conhecer a culinária, filosofia, cultura e história francesa. Ela ficará na casa de um amigo parisiense durante suas férias.
Cintia acompanha os casos pelas notícias, mas diz que não sente medo de ir para a cidade neste contexto. “Estou acompanhando os ataques sim, inclusive conversando com ele sobre o assunto. Esse tipo de atentado tem uma simbologia muito maior porque fere princípios pelos quais os franceses lutaram (e até morreram) na Revolução Francesa. Eu, particularmente, não estou com medo de ir para lá nesse momento. Claro que eu estarei atenta e procurarei me afastar de situações que possam oferecer riscos, mas estou bem animada com a viagem”, conta.
Após os casos e uma caçada policial, os dois responsáveis pelas mortes do atentado à revista e o homem envolvido no sequestro no mercado foram mortos. A dúvida é se a cidade-luz está segura ou, ainda, qual o futuro para a cidade, já que o próprio presidente afirmou que ao menos quatro atentados terroristas foram evitados este ano, sendo o país uma constante ameaça.
Segura ou não, parisienses, brasileiros e centenas de milhares de turistas continuarão andando por suas ruas, tentado seguir a vida, como afirmou Cristina, Ana Clara e Cintia, pois a Torre Eiffel ainda 'chama'.
Atentados, assassinatos, sequestros e perseguições em Paris
A sede da revista Charlie Hebdo, em Paris, foi alvo de um ataque que matou 12 pessoas no dia 7 deste mês. De acordo com testemunhas, dois homens encapuzados invadiram a redação armados de fuzis e, enquanto atiravam nas pessoas que trabalhavam no local, gritaram “vamos vingar o profeta” e Allah akbar (Alá é grande). O semanário já havia sofrido diversas ameaças por publicar charges e caricaturas da figura religiosa de Maomé.
O atentado causou comoção no mundo todo. Manifestações foram organizadas com cartazes escritos "je suis Charlie" (Sou Charlie) e mãos empunhando lápis, o material de trabalho dos quatro cartunistas mortos no episódio.
Veja explosão durante caça aos irmãos Kouachi, em Paris:
Cidades da França entraram em alerta máximo para ataque terrorista e 88 mil homens das forças de segurança iniciaram uma caçada aos envolvidos no atentado. Nove pessoas foram presas no dia seguinte. Os irmãos nascidos em Paris e de pais argelinos Cherif Kuachi, 32 anos, e Said Kuachi, de 34, foram identificados como os autores dos disparos. O primeiro já havia sido condenado, em 2008, por ter atuado num grupo que enviava jihadistas ao Iraque.
Nesta sexta-feira (9), a polícia fechou o cerco após os dois irmãos, que estavam foragidos, roubarem um carro e invadirem uma fábrica na cidade de Dammartin-en-Goële, ao norte de Paris, onde mantiveram um refém. Ao mesmo tempo, no leste de Paris, o casal Hayat Boumediene e Amedy Coulibaly matou três pessoas em um mercado judaico e fizeram outras dez reféns. Coulibaly, que conheceria um dos irmãos Kuachi, foi identificado pela polícia como o autor dos disparos que mataram uma policial na periferia de Paris no dia anterior.
Após horas de negociações, ambos os lugares foram invadidos pela polícia. Em Dammartin-en-Goële, os irmãos foram mortos e o refém liberado. No mercado, um sequestrador foi morto, assim como um refém, e a outra terrorista permanece foragida.
Polícia mata irmãos suspeitos de ataque a ‘Charlie Hebdo’:
A revista satírica "Charlie Hebdo", que foi ameaçada no passado por ter publicado caricaturas de Maomé, foi alvo nesta quarta-feira em Paris de um ataque
Foto: AFP
Ao menos 12 pessoas morreram em ataque
Foto: AFP
Quatro cartunistas e dois policiais estão entre as vítimas fatais
Foto: AFP
O presidente francês afirmou que se trata de um ataque terrorista
Foto: Christian Hartmann / Reuters
Equipes de segurança e emergência estão no local
Foto: Christian Hartmann / Reuters
Homens armados atacam sede de revista francesa; tiroteio deixa ao menos 12 mortos
Foto: The Telegraph / Reprodução
Homens armados atacam sede de revista francesa; tiroteio deixa ao menos 12 mortos
Foto: The Telegraph / Reprodução
Ao menos dois homens armados atacaram a sede da revista em Paris
Foto: The Telegraph / Reprodução
Vítimas são retiradas no prédio
Foto: The Telegraph / Reprodução
Bombeiros e policiais trabalham no resgate das vítimas do ataque terrorista contra a revista satírica "Charlie Hebdo"
Foto: Philippe Wojazer / Reuters
Vítima do atentado à revista "Charlie Hebdo" é socorrida por bombeiros
Foto: <p>Vítima do atentado à revista "Charlie Hebdo" é socorrida por bombeiros</p>
Ao todo, doze pessoas foram mortas no atentado, incluindo três cartunistas e o editor-chefe da revista
Foto: <p>Ao todo, doze pessoas foram mortas no atentado, incluindo três cartunistas e o editor-chefe da revista</p>
Pessoas se abraçam em frente ao escritório da revista "Charlie Hebdo" após atentado
Foto: Remy de la Mauviniere / AP
A Torre Eiffel de Paris, um dos monumentos mais emblemáticos do mundo, apagou sua luzes em homenagem às vítimas do atentado.
Foto: AFP
Forças policiais de intervenção procuram dois suspeitos de cometerem o atentado
Foto: Christian Hartmann / Reuters
Policial faz vigília em Porte de la Villete, um dos acessos da cidade de Paris, durante a busca pelos suspeitos do atentado.
Foto: EFE en español
Policiais franceses com um cão farejador em local de tiroteio perto de Paris. 08/01/2015
Foto: Christian Hartmann / Reuters
Cartazes de solidariedade na Praça da República em Paris
Foto: EFE en español
Cherif (esquerda) e Said Kuachi, os dois suspeitos do ataque à revista satírica Charlie Hebdo.
Foto: AP
Franceses e brasileiros se uniram em homenagem aos mortos no atentado contra a revista francesa, em Paris
Foto: André Naddeo / Terra
Um cartaz onde está escrito "Somos todos Charlie Hebdo" é erguido na embaixada francesa em Washington, nos EUA
Foto: Gary Cameron (UNITED STATES - Tags: POLITICS CRIME LAW CIVIL UNREST) / Reuters
Homem exibe cartaz com a mensagem "Eu Sou Charlie", em referência à revista francesa Charlie Hebdo, durante vigília na praça Republique, em Paris, em homenagem às vítimas do atentado ocorrido na redação da publicação, nesta quarta-feira. 07/01/2015
Foto: Youssef Boudlal / Reuters
Jornalistas da redação da agência AFP seguram cartazes em solidariedade às vítimas do ataque à revista Charlie Hebdo, em Paris
Foto: Bertrand Guay / AFP
Mulher segura cartaz com a frase "Eu sou Charlie" em frente ao Portão de Brandemburgo, perto da embaixada francesa em Berlim, para protestar contra o atentado à revista satírica francesa Charlie Hebdo. 07/01/2015
Foto: Fabrizio Bensch / Reuters
Atos de apoio a vítimas de ataque se espalham pela Europa
Foto: EFE
Governo francês elevou o alerta contra terrorismo ao nível máximo
Foto: AFP
Milhares de pessoas participam de uma vigília, na praça Republique, no centro de Paris
Foto: EFE en español
Uma pessoa ferida é transportada em uma ambulância depois do tiroteio
Foto: AP
Policiais investigam tiroteio na sede da revista francesa Charlie Hebdo, em Paris, na França, nesta quarta-feira. 07/01/2015
Foto: Youssef Boudlal / Reuters
Capa do dia da revista Charlie Hebdo, nesta quarta-feira
Foto: BBC Brasil / Reprodução
Nesta imagem de arquivo, o cartunista Charb, que ocupava o cargo de editor-chefe da revista, posa na redação da Charlie Hebdo, em Paris
Foto: Jacky Naegelen / Reuters
Polícia busca os culpados pelo atentado terrorista na revista satírica francesa
Foto: Reuters
Polícia fecha posto onde suspeitos teriam sido vistos na manhã seguinte ao atentado
Foto: Twitter
Funcionários do portal Mashable também realizaram uma homenagem aos jornalistas que morreram no atentado
Foto: Mashable / Twitter
Milhares de pessoas se reuniram em Paris, em homenagem às vítimas do sangrento atentado contra a revista humorística Charlie Hebdo
Foto: Twitter
Jornalistas da AFP protestam contra o ataque segurando cartazes
Foto: Loic Venance / AFP
Policiais buscam evidências enquanto homem não identificado é detido em operação na cidade francesa de Reims. 08/01/2015
Foto: Christian Hartmann / Reuters
"Nossa melhor arma é a nossa união. Nada pode nos dividir, nada deve nos separar", declarou Hollande, chefe de Estado da França
Foto: Philippe Wojazer / Reuters
Atos foram convocados por vários sindicatos, associações, meios de comunicação e partidos políticos
Foto: Reuters
Cerca de cinco mil pessoas se reuniram a partir das 17h locais (14h de Brasília) na praça da República, perto da sede do semanário.
Foto: Reuters
Diversos cartazes foram levantados em memória dos que morreram no ataque
Foto: Reuters
Velas foram acesas em homenagem às vítimas da revista semanal
Foto: Reuters
Ataque deixou 12 pessoas mortas na redação da revista
Foto: Reuters
Flores foram levadas para o ato em homenagem às vítimas do atentado
Foto: Reuters
Manifestação durou a noite toda em Paris
Foto: Reuters
Milhares de pessoas participam de uma vigília, na praça Republique, no centro de Paris
Foto: AFP
Alguns usavam adesivos e cartazes onde se podia ler a mensagem "Je suis Charlie" ("Eu sou Charlie"), que também circula nas redes sociais
Foto: AFP
Polícia revista pessoa que andava no entorno do mercado onde terroristas fizeram reféns
Foto: Dan Kitwood / Getty Images
População local observa cerco da polícia ao mercado judaico em Paris
Foto: Dan Kitwood / Getty Images
Ambulâncias e resgate foram disponibilizados para os sobreviventes da invasão.
Foto: Michel Euler / AP
População que ficou presa dentro do mercado saiu correndo do local; informações iniciais apontam que quatro reféns morreram na operação.
Foto: Michel Euler / AP
Polícia foi obrigada a usar força dentro mercado, matando um dos terroristas e libertando dezenas de reféns presentes no local. Um refém acabou morto e a sequestradora fugiu.
Foto: Dan Kitwood / Getty Images
Perímetro foi isolado pelas forças de segurança, que trabalham ativamente desde quarta-feira, quando 12 pessoas foram mortas dentro da sede da Charlie Hebdo.
Foto: Gonzalo Fuentes / Reuters
Grande contingente policial francês foi deslocado para tentar solucionar a questão.
Foto: Dan Kitwood / Getty Images
Respectivamente, Hayat Boumediene e Amedy Coulibaly, que mantiveram reféns no mercado judaico.
Foto: Twitter
O casal terrorista Hayat Boumediene e Amedy Coulibaly fez reféns dentro de um mercado judeu no leste de Paris, nesta sexta-feira. Outras três pessoas foram mortas por eles.
Foto: Gonzalo Fuentes / Reuters
Ao todo, cerca de 88 mil homens das forças armadas francesas participaram, por três dias, da caçada ao suspeito de envolvimento no ataque a revista Charlie Hebdo
Foto: Twitter
Por fim, a polícia invadiu o local e matou os dois irmãos. O refém foi liberado e passa bem.
Foto: Twitter
A polícia falou por celular com os irmãos durante o cerco a fábrica.
Foto: Twitter
Cerco policial foi formado para capturar os irmãos Said e Cherif Kouachi.
Foto: Christian Hartmann / Reuters
Os terroristas mantiveram um refém dentro de uma fábrica ao nordeste de Paris.
Foto: Pascal Rossignol / Reuters
Cherif Kuachi e Said Kuachi, irmãos suspeitos do atentado terrorista na revista Charlie Hebdo na quarta-feira, foram vistos na manhã desta sexta na cidade de Dammartin-en-Goele, no norte da França.
Foto: Thibault Camus / AP
Chinesa carrega cartaz em homenagem ao jornal alvo dos ataques na última quarta-feira, em francês e chinês
Foto: Reuters
Premiê de Israel, Benjamin Netanyahu chega a Grande Sinagoga de Paris para discurso em homenagem às vítimas do ataque ao mercado kosher
Foto: Reuters
O presidente francês, Francois Hollande, conforta o colunista do Charlie Hebdo Patrick Pelloux durante a marcha pela liberdade
Foto: Reuters
Pessoas escalam o monumento da Queda da Bastilha durante os últimos momentos da marcha pela liberdade
Foto: EFE
Jovens sobem no monumento 'O Triunfo da República', no fim da marcha pelas ruas de Paris
Foto: Fernando Diniz / Terra
Cartaz que foi o mote da manifestação, "Eu sou Charlie" é visto no meio da manifestação
Foto: Reuters
Manifestação foi até o cair, com velas sendo acendidas pelos franceses
Foto: Reuters
No dia 14 de janeiro, franceses fizeram fila para comprar a primeira edição da revista após o ataque terrorista
Foto: Bertrand Guay / AFP
Fila é formada em banca de jornais; franceses encontraram dificuldades em comprar o Charlie Hebdo