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“É mais comoção do que medo”, diz brasileira em Paris

Turistas ou residentes brasileiras em Paris conversaram com o Terra sobre seus sentimentos e percepções na cidade-luz nos últimos dias

9 jan 2015 - 16h30
(atualizado às 19h39)
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A jornalista e fotógrafa Cristina Zarur fez imagens da cidade durante os dias de tensão, violência e comoção
A jornalista e fotógrafa Cristina Zarur fez imagens da cidade durante os dias de tensão, violência e comoção
Foto: Cristina Zarur / Divulgação

A 'cidade-luz' está em chamas. Paris vive tensão por ataques desde a quarta-feira, quando um atentado terrorista contra a revista satírica Charlie Hebdo matou 12 pessoas, entre elas dez jornalistas. Na quinta-feira, uma explosão foi registrada em um restaurante no interior do país, além de ter havido um tiroteio na periferia da capital, que deixou uma policial morta. Como se não bastasse, um sequestrador armado fez reféns em um mercado judaico no nordeste de Paris, no qual quatro pessoas morreram, nesta sexta-feira.

Acompanhamos o noticiário e o clima de tensão não só em Paris, mas também na França e na Europa de uma forma geral. No entanto, alguns brasileiros veem mais do que o noticiário, eles estão lá, sentindo na pele a comoção de parisienses que, de certa maneira, estão todos reféns da violência.

A jornalista e fotógrafa Cristina Zarur é um exemplo. De férias com a família desde 11 de dezembro, para uma visita a uma amiga que mora nas terras francesas, ela acompanhou os acontecimentos, além de sentir na própria pele a revolta pelas mortes de tantas pessoas inocentes.

<p>A jornalista e fot&oacute;grafa Cristina Zarur fez imagens da cidade durante os dias de tens&atilde;o, viol&ecirc;ncia e como&ccedil;&atilde;o</p>
A jornalista e fotógrafa Cristina Zarur fez imagens da cidade durante os dias de tensão, violência e comoção
Foto: Cristina Zarur / Divulgação

“O que tenho visto é uma comoção coletiva. União, mais do que medo entre as pessoas. Tanto que umas das frases das manifestações é ‘on n’a pas peur’ (Não temos medo, em tradução livre)”, conta Cristina.

A fotógrafa também revela que percebe o sentimento de revolta de todos os cidadãos, que se manifestam também de forma silenciosa, com cartazes por toda a cidade.

“Os dizeres ‘Nous sommes Charlie’ (Somos todos Charlie, em tradução livre) estão em lojas, bancas de revistas, postes e até mesmo naqueles espaços próprios para informações públicas (letreiros luminosos da prefeitura). A manifestação do dia 7, no mesmo do atentado, foi espontânea. Nós participamos e tinha muita gente. E tinha ainda mais pessoas do que na manifestação do dia 8, que foi convocada”, afirma.

Segundo Cristina, até os filhos pequenos de sua amiga, que é casada com um francês, foram às manifestações, algo que chamou a atenção dela pela força política do povo local.  “Vi várias crianças com os pais, todos segurando cartazes com capas antigas do Charlie”.

<p>A jornalista e fot&oacute;grafa Cristina Zarur fez imagens da cidade durante os dias de tens&atilde;o, viol&ecirc;ncia e como&ccedil;&atilde;o</p>
A jornalista e fotógrafa Cristina Zarur fez imagens da cidade durante os dias de tensão, violência e comoção
Foto: Facebook / Reprodução

Indagada se não sente medo, a brasileira afirma que existe realmente uma tensão no ar, mas que a cidade tem bastante policiamento e que, por isso, tem se sentido segura, circulando por todos os lados. Aliás, sobre a segurança, ela nota a diferença entre o volume de policiais nas ruas entre o dia que chegou e agora.

“Há algumas mesquitas que foram depredadas, há mais policias nas ruas agora do que quando chegamos, em dezembro”, pontua.

A brasileira Ana Clara Campacci, que mora em Paris há um ano, também percebeu a diferença no cuidado com a segurança. Ela estuda na Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris 3 e disse que nesta quinta e sexta-feira teve de apresentar a carteirinha aos seguranças, logo na entrada do prédio. “É estranho, ao mesmo tempo não cai a ficha sobre tudo o que está acontecendo aqui, me senti dentro do problema quando cheguei à Universidade e estavam controlando a entrada, só entra quem apresenta carteirinha”, disse.

<p>Ana Clara mora em Paris h&aacute; um ano e conta como foi a quest&atilde;o de seguran&ccedil;a na universidade onde estuda</p>
Ana Clara mora em Paris há um ano e conta como foi a questão de segurança na universidade onde estuda
Foto: Cristina Zarur / Divulgação

Apesar de se sentir chocada e bastante triste, Ana Clara conta que sente a comoção ainda maior nos franceses que encontra pelas ruas e na sala de aula. “Como os ataques seguiram eu já sinto e vejo nas pessoas na rua uma grande tensão, mesmo que todo mundo esteja fazendo tudo normalmente”, afirma.

Cristina também acompanha o ritmo “seguindo” na cidade. “A vida na cidade continua. Mas, tenho certeza, todos os franceses se mobilizaram. É impossível ficar alienado diante dos fatos. Estou indignada com a barbaridade do banho de sangue, temerosa diante da possibilidade de outros atentados e o medo da radicalização da xenofobia”, reflete a fotógrafa.

Após ataque, imprensa mundial entra em luto:

Apesar de toda a violência, os brasileiros também não parecem ter desistido de conhecer Paris, que é a mais visitada do mundo. A enfermeira e estudante de Direito, Cintia Souza, está partindo para Paris no próximo dia 18.

Esta será a primeira vez que irá para a cidade e diz que estar bastante animada para conhecer a culinária, filosofia, cultura e história francesa. Ela ficará na casa de um amigo parisiense durante suas férias.

Cintia acompanha os casos pelas notícias, mas diz que não sente medo de ir para a cidade neste contexto. “Estou acompanhando os ataques sim, inclusive conversando com ele sobre o assunto. Esse tipo de atentado tem uma simbologia muito maior porque fere princípios pelos quais os franceses lutaram (e até morreram) na Revolução Francesa. Eu, particularmente, não estou com medo de ir para lá nesse momento. Claro que eu estarei atenta e procurarei me afastar de situações que possam oferecer riscos, mas estou bem animada com a viagem”, conta.

Após os casos e uma caçada policial, os dois responsáveis pelas mortes do atentado à revista e o homem envolvido no sequestro no mercado foram mortos. A dúvida é se a cidade-luz está segura ou, ainda, qual o futuro para a cidade, já que o próprio presidente afirmou que ao menos quatro atentados terroristas foram evitados este ano, sendo o país uma constante ameaça. 

Segura ou não, parisienses, brasileiros e centenas de milhares de turistas continuarão andando por suas ruas, tentado seguir a vida, como afirmou Cristina, Ana Clara e Cintia, pois a Torre Eiffel ainda 'chama'. 

Atentados, assassinatos, sequestros e perseguições em Paris

A sede da revista Charlie Hebdo, em Paris, foi alvo de um ataque que matou 12 pessoas no dia 7 deste mês. De acordo com testemunhas, dois homens encapuzados invadiram a redação armados de fuzis e, enquanto atiravam nas pessoas que trabalhavam no local, gritaram “vamos vingar o profeta” e Allah akbar (Alá é grande). O semanário já havia sofrido diversas ameaças por publicar charges e caricaturas da figura religiosa de Maomé.

O atentado causou comoção no mundo todo. Manifestações foram organizadas com cartazes escritos "je suis Charlie" (Sou Charlie) e mãos empunhando lápis, o material de trabalho dos quatro cartunistas mortos no episódio.

Veja explosão durante caça aos irmãos Kouachi, em Paris:

Cidades da França entraram em alerta máximo para ataque terrorista e 88 mil homens das forças de segurança iniciaram uma caçada aos envolvidos no atentado. Nove pessoas foram presas no dia seguinte. Os irmãos nascidos em Paris e de pais argelinos Cherif Kuachi, 32 anos, e Said Kuachi, de 34, foram identificados como os autores dos disparos. O primeiro já havia sido condenado, em 2008, por ter atuado num grupo que enviava jihadistas ao Iraque.

Nesta sexta-feira (9), a polícia fechou o cerco após os dois irmãos, que estavam foragidos, roubarem um carro e invadirem uma fábrica na cidade de Dammartin-en-Goële, ao norte de Paris, onde mantiveram um refém. Ao mesmo tempo, no leste de Paris, o casal Hayat Boumediene e Amedy Coulibaly matou três pessoas em um mercado judaico e fizeram outras dez reféns. Coulibaly, que conheceria um dos irmãos Kuachi, foi identificado pela polícia como o autor dos disparos que mataram uma policial na periferia de Paris no dia anterior.

Após horas de negociações, ambos os lugares foram invadidos pela polícia. Em Dammartin-en-Goële, os irmãos foram mortos e o refém liberado. No mercado, um sequestrador foi morto, assim como um refém, e a outra terrorista permanece foragida.

Polícia mata irmãos suspeitos de ataque a ‘Charlie Hebdo’:

Fonte: Terra
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