Entenda a polêmica das eleições deste domingo na Ucrânia
Rússia anunciou que reconhecerá o resultado da votação, mas para Kiev, União Europeia e Estados Unidos, os pleitos não apresentam nenhum valor
Os habitantes das regiões separatistas pró-Rússia do leste da Ucrânia comparecem às urnas neste domingo para eleições polêmicas, reconhecidas pela Rússia, mas rejeitadas pelos países ocidentais e por Kiev, que denunciou uma "tomada de poder" inconstitucional.
As eleições que devem escolher os presidentes e os representantes dos parlamentos das regiões separatistas acontecem em um momento de aumento dos combates. Horas depois do início da votação, as autoridades ucranianas abriram uma investigação criminal por tentativa de "tomada de poder" e "alteração da ordem constitucional".
A investigação responde a "atos que têm como objetivo revogar a ordem constitucional e tomar o poder", afirmou um diretor dos Serviços de Segurança (SBU), Markian Lubkivski, que chamou de "terroristas" os representantes das repúblicas autoproclamadas de Donetsk e Lugansk.
A Ucrânia denunciou o envio de equipamentos e de tropas procedentes da Rússia ao leste do país. "Há um envio intenso de equipamentos militares e de tropas inimigas a partir do território russo para o território controlado pelos rebeldes", declarou o porta-voz militar ucraniano, Andrii Lyssenko.
Fotografias divulgadas pela imprensa ucraniana mostram dezenas de caminhões militares sem placas apresentados como uma "coluna russa nas ruas de Donetsk".
O jornalista Roland Oliphant do jornal britânico The Telegraph afirmou no sábado ter visto "62 caminhões Kamaz verdes sem placas, três deles com (lança-foguetes) Grad a caminho de Donetsk".
O primeiro-ministro da autoproclamada República Popular de Donetsk, Alexander Zajarchenko, que parece ter a vitória assegurada, afirmou durante a semana que as "eleições permitirão constituir um governo legítimo". "Esta votação dará legitimidade ao nosso poder e nos afastará um pouco mais de Kiev", declarou ainda Roman Liaguin, diretor da comissão eleitoral em Donetsk.
Na também autoproclamada República Popular de Lugansk, o presidente Igor Plotnitski também deve vencer a votação.
Histórico
A Rússia anunciou que reconhecerá o resultado das eleições, mas para Kiev, a União Europeia e os Estados Unidos, os pleitos não apresentam nenhum valor.
O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, denunciou "as pseudo-eleições que os terroristas e os bandidos querem organizar nos territórios ocupados", enquanto a ONU e a UE consideram que as votações afetarão negativamente os acordos de Minsk.
Assinados em 5 de setembro entre Kiev e os separatistas pró-Rússia, assim como pela Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) e Rússia, eles deveriam abrir um processo de paz que parece estar paralisado.
Bruxelas considera que as eleições constituem uma violação dos acordos de Minsk. Moscou e os separatistas pró-Rússia pensam o contrário.
O texto ratificado na capital de Belarus prevê a organização de eleições para os conselhos locais, de acordo com a lei ucraniana, mas sem referência a eleições legislativas ou presidenciais nas regiões pró-Rússia.
Em Kiev, Lysenko anunciou que três soldados morreram nas últimas 24 horas, dois deles em uma explosão na manhã de domingo em um posto de controle ucraniano na entrada de Mariupol, porto estratégico e última grande cidade do leste controlada pelo governo central. No sábado, o governo ucraniano anunciou a morte de sete soldados, um dos dias mais violentos desde setembro.
A votação pode complicar os esforços de paz, em um momento no qual o cessar-fogo parece ter sido esquecido com a retomada de combates em várias regiões, que deixaram 300 mortos nos últimos 10 dias, segundo a ONU.
Todos os candidatos das eleições, que não contam com observadores enviados por organizações internacionais, defendem a independência a respeito da Ucrânia e a aproximação da Rússia.
Também não é possível saber o número exato de eleitores, porque muitos dos quase cinco milhões de registrados na justiça eleitoral ucraniana antes do conflito fugiram da região em consequência dos combates.
A validade internacional das eleições é duvidosa. Apenas a Rússia informou que reconhecerá os resultados e nenhuma organização internacional enviou observadores, apesar dos comentários na imprensa russa atribuídos a "observadores estrangeiros".
Com a criação de uma falsa OSCE, a ASCE (Associação para a Segurança e a Cooperação na Europa), por parte da Rússia, em tese composta por "políticos italianos e austríacos", Kiev acusou Moscou de "manipulação".