Equipes vasculham montanhas após acidente "inexplicável" com Airbus nos Alpes franceses
A Lufthansa informou nesta quarta-feira que não tem como explicar por que um Airbus da Germanwings, unidade de baixo custo da empresa alemã, caiu nos Alpes franceses matando todas as 150 pessoas a bordo, enquanto investigadores tentavam descobrir o que causou o pior desastre aéreo da França em 15 anos.
As equipes que analisam o acidente afirmaram que o fato de o local da queda ser de difícil acesso significa que podem levar dias até terem uma imagem mais clara da tragédia de terça-feira.
No entanto, eles disseram que o fato de os destroços estarem concentrados em uma pequena área mostra que o A320 não deve ter explodido no ar, o que indica que o avião não foi alvo de um ataque terrorista.
"É inexplicável que isso possa ter acontecido com um avião livre de problemas técnicos e com um piloto experiente e treinado pela Lufthansa", disse o executivo-chefe da Lufthansa, Carsten Spohr, a repórteres em Frankfurt.
A Lufthansa informou que o avião, em operação havia 24 anos, passou por manutenção na segunda-feira na abertura pela qual a roda do nariz desce para o pouso. Uma porta-voz disse que não era um item de segurança e que os reparos tinham sido feitos para reduzir um ruído.
A polícia e equipes forenses que chegam a pé ou em helicópteros investigam o local em que ocorreu a queda, situado cerca de 100 quilômetros ao norte de Nice, quando o avião fazia o trajeto entre Barcelona e Dusseldorf.
"Quando vamos ao local de um acidente esperamos encontrar parte da fuselagem. Mas aqui não vemos absolutamente nada", disse o piloto Xavier Roy, que coordena as operações aéreas.
Roy disse que os membros das equipes de investigadores foram levadas de helicóptero para o local e estavam trabalhando amarrados uns aos outros por cordas, em altitudes de cerca de 2.000 metros. Levará pelo menos uma semana para recuperar todos os restos mortais das vítimas, disse.
Nenhum pedido de socorro foi recebido antes do acidente, mas as autoridades francesas disseram que uma das “caixas-pretas” com os gravadores de voz do voo tinha sido recuperada, embora necessite de reparos.
"A caixa-preta foi danificada. Teremos de consertá-la novamente nas próximas horas para ser capazes de chegar ao fundo desta tragédia", disse o ministro do Interior da França, Bernard Cazeneuve, à rádio RTL.
Ao todo, 72 alemães morreram no primeiro grande desastre com um avião de passageiros em solo francês desde o acidente com um Concorde, em 2000, nos arredores de Paris. Autoridades na Espanha disseram que 49 espanhóis estavam entre as vítimas.
O presidente francês, François Hollande, acompanhado da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e do premiê da Espanha, Mariano Rajoy, foi ao local participar em uma homenagem às vítimas e encontrar as equipes de busca em sua base na aldeia vizinha de Seyne-les-Alpes.
Outras vítimas incluem um norte-americano, um marroquino e cidadãos da Grã-Bretanha, Argentina, Austrália, Bélgica, Colômbia, Dinamarca, Israel, Japão, México e Holanda, disseram autoridades francesas. No entanto, exames de DNA para identificá-los podem levar semanas.
VOOS CANCELADOS
A Germanwings disse que cancelou voos nesta quarta-feira e usou 11 aviões de outras companhias áreas para cerca de 40 voos depois que alguns membros de sua tripulação se recusaram a voar.
Funcionários depositaram velas e flores na sede da Germanwings no aeroporto de Colônia/Bonn. Empregados da Lufthansa e da Germanwings em todo o mundo mantiveram um minuto de silêncio às 10h53 local (6h53 em Brasília) – o instante em que o avião desapareceu.
Entre as vítimas estavam 16 adolescentes e dois professores do Joseph-Koenig-Gymnasium, escola de ensino médio na cidade de Haltern am See, no noroeste da Alemanha. Eles voltavam para casa depois de um período de intercâmbio na Espanha, perto de Barcelona.
A escola realizou um dia de luto nesta quarta-feira. Uma placa pintada à mão dizia simplesmente: "Ontem éramos muitos, hoje, estamos sozinhos."
"Na terça-feira da semana passada nós enviamos 16 jovens alegres, com dois colegas alegres em uma viagem, e o que era para ser uma viagem feliz ... acabou em tragédia", disse o diretor Ulrich Wessel a repórteres.
O Grande Teatro do Liceu, de Barcelona, informou que dois cantores, Oleg Bryjak, nascido no Cazaquistão, e a alemã Maria Radner morreram na viagem de volta a Duesseldorf depois de atuarem numa apresentação de Siegfried, de Wagner.
A Germanwings disse na terça-feira que o avião começou a descer um minuto depois de atingir a altura de cruzeiro e perdeu altitude durante oito minutos. Para especialistas, embora o Airbus tenha descido rapidamente, não parece ter simplesmente caído do céu.
O A320 é um dos aviões de passageiros mais usados do mundo e tem um bom histórico de segurança.
Em operação havia 24 anos, o avião era mais velho do que muitos outros da Lufthansa, onde a idade média da frota é 11,5 anos. O Airbus tinha sido entregue à Lufthansa em 1991 e estava com 58.000 horas de voo, ao longo de mais de 46.000 voos, disse a fabricante.
(Reportagem adicional da redações da Reuters em Paris, Berlim, Frankfurt e Madrid)