EUA e Inglaterra cogitam ampliar sanções à Rússia
Acordo de cessar-fogo foi assinado em 12 de fevereiro, mas conflitos continuam
Apesar do acordo de cessar-fogo selado entre Rússia e Ucrânia neste mês, os conflitos na região continuam. Neste cenário, os Estados Unidos e a Inglaterra cogitam ampliar ainda mais as sanções a Moscou.
Em visita a Londres neste sábado, o Secretário de Estado americano, John Kerry, acusou o governo russo de ter um "comportamento covarde" ao apoiar os rebeldes, minando o acordo de cessar-fogo.
Segundo Kerry, "sanções adicionais" a Moscou estão nos planos. "A Rússia se envolveu em um processo absolutamente óbvio e cínico nos últimos dias", disse ele. "Não vamos ficar assistindo e aceitando esse comportamento completamente covarde às custas da soberania e integridade de uma nação".
Um porta-voz do Kremlin, no entanto, disse que sanções não vão ajudar a resolver a crise na Ucrânia. "A obsessão por fazer alguém 'pagar o preço', como eles gostam de dizer em Washington, não contribui em absolutamente nada para resolver a situação no sudeste da Ucrânia", disse o porta-voz do governo russo Dmitry Peskov à rádio russa Ekho Moskvy.
Cessar-fogo
O acordo de cessar-fogo, assinado em Minsk neste mês, tem chegado perto do colapso. Isso porque, nos últimos dias, um lado tem acusado o outro de "violar a trégua" e vice-versa.
Ainda assim, os rebeldes anunciaram a troca de prisioneiros como parte do cessar-fogo. Algo entre 35 e 39 soldados ucranianos e 37 pessoas detidas pelo governo ucraniano estavam para ser libertadas na região de Luhansk.
Enquanto isso, um assessor do presidente ucraniano Viktor Poroshenko, Yuri Biriukov, disse que o número de ucranianos mortos na batalha da semana passada em Debaltseve, uma das cidades-chave do conflito, foi possivelmente de 179 – sendo que 81 ainda estão desaparecidos. O número é muito maior do que o que foi previamente anunciado.
Os rebeldes tomaram o centro estratégico de transporte, apesar do cessar-fogo assinado no dia 12 de fevereiro, e argumentaram que o pacto não valia para a cidade central do conflito – o que forçou as tropas do governo a recuarem.
O governo ucraniano, junto com os líderes do Ocidente e a Otan disse que há claras evidências de que a Rússia está ajudando os rebeldes no leste da Ucrânia com armamento pesado e soldados. Especialistas independentes também ecoam essas acusações, mas Moscou alega que "se há russos lutando do lado dos rebeldes, eles estão lá voluntariamente."
Cerca de 5.700 pessoas morreram desde o início dos conflitos entre Rússia e Ucrânia, em abril do ano passado, e cerca de 1,5 milhão de pessoas fugiram de suas casas, de acordo com a ONU.
Situação
O dicurso mais duro de John Kerry veio depois que um grupo de senadores Americanos escreveu para ele pedindo sanções mais rígidas à Rússia e o fornecimento de armas de defesa para o governo ucraniano.
O secretário americano descreveu a situação na cidade portuária de Mariupol, na região do conflito, como inaceitável – lá, os rebeldes são acusados de bombardear as forças do governo e de acumularem equipamentos e tropas.
O governo ucraniano teme que os rebeldes tentem dominar a cidade para construir um corredor em direção à Crimeia, território ucraniano anexado pela Rússia no ano passado.
Enquanto isso, os rebeldes dizem que o exército ucraniano bombardeou suas tropas em várias áreas na madrugada, incluindo partes da cidade de Donetsk.
Michael Bociurkiw, porta-voz de Kiev do OSCE, que está monitorando o conflito, disse que houve uma "longa e justa lista de violações do cessar-fogo", mas que também é preciso considerar a "paz em lugares onde por um bom tempo era impossível circular".
Protestos
Os conflitos seguem acontecendo quando já se completa um ano desde a saída do presidente ucraniano pró-Rússia, Viktor Yanukovych, depois de protestos massivos terem tomado conta do centro de Kiev.
Uma manifestação aconteceu em Moscou neste sábado em protesto contra a destituição do ex-presidente, que muitos russos consideram como um "golpe". A polícia estima que cerca de 35 mil pessoas estiveram nas ruas para protestar.
A correspondente da BBC, Sarah Rainsford, esteve na marcha e disse que muitas pessoas ali culpavam os Estados Unidos e a Europa por "terem articulado" uma mudança de regime na Ucrânia.