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"Fique longe dos EUA", aconselha advogado de Assange a Snowden

12 ago 2013 - 15h17
(atualizado às 15h17)
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Representante do fundador do WikiLeaks, Michael Ratner afirma que Snowden errou ao não buscar refúgio inicialmente na Venezuela. Para ele, o julgamento de Bradley Manning foi injusto e manda um sinal ao delator da NSA.

Para Michael Ratner, advogado de Julian Assange nos Estados Unidos, o julgamento do soldado Bradley Manning enviou uma mensagem clara: a Justiça americana trata os dois - e o WikiLeaks - como parte de uma única conspiração. E vai fazer o possível para colocá-los atrás das grades.

Em entrevista à DW Brasil, Ratner admite que Assange e o WikiLeaks estão ajudando como podem Edward Snowden, atualmente em asilo na Rússia, mas nega o estar representantando juridicamente. Ele deixa, no entanto, um conselho ao delator do megaesquema de espionagem da Agência de Segurança Nacional: "Fique longe dos EUA".

Deutsche Welle: O Wikileaks e Julian Assange vêm ajudando Edward Snowden. Você também representa Snowden?

Michael Ratner: Não, nós não representamos Snowden. Julian, é claro, adotou uma posição de bastante princípio sobre o caso. Como você disse, ele vem sendo aconselhado por Julian e tem uma pessoa do Wikileaks, Sarah Harrison, o acompanhando.

O que você aconselharia a Snowden se você fosse o advogado dele?

Ratner: Desde o início, eu teria ido imediatamente para outro país que não fosse China e Hong Kong. Talvez, eu teria ido para a Venezuela. E, agora, os EUA seriam o último lugar para onde eu iria. Viu-se como Bradley Manning foi tratado: ele vai passar provavelmente um longo período na prisão. As condições em que ele está preso são conhecidas e sabe-se quão injusto foi seu processo.

Também é possível ver que Julian Assange está praticamente preso numa embaixada, vivendo com o medo de ser extraditado para os EUA, de não obter fiança, de não ter contato com o mundo exterior e de se submeter a um processo injusto. Assim, o melhor conselho que eu poderia dar a Edward Snowden é: fique longe dos EUA.

Que recado o veredicto de Bradley Manning manda para Assange?

Ratner: Durante o julgamento, Wikileaks e Julian Assange foram mencionados diversas vezes. Todos os dias, eles queriam denegrir a imagem do Wikileaks e de Assange ou dizer que eles foram, praticamente, cúmplices de Bradley Manning. E há um esforço para diferenciar WikiLeaks e Julian Assange do jornal New York Times.

A única forma que eles têm para pegar o Wikileaks e Julian Assange é de alguma forma dizer que eles não são jornalistas, que não são como o New York Times. Os promotores sabem que têm um problema. Eles talvez queiram processar os editores por espionagem, mas, pelo menos por agora, parece que isso seria inaceitável nos EUA.

Essa foi uma parte assustadora do processo, porque eles estão, claramente, atrás de Assange e do Wikileaks. O recado do julgamento é o seguinte – levando em conta que para eles Assange e o Wikileaks são conspiradores: uma parte da conspiração foi condenada. Se eles não tivessem conseguido isso, naturalmente, um processo contra o Wikileaks ficaria muito mais difícil.

Só para esclarecer: nos EUA, nunca houve investigação por espionagem contra jornalistas. Por esse motivo, você acha que na possível queixa contra Assange está escrito que ele não é jornalista, para que ele possa ser processado. Certo?

Ratner: Exatamente. Eles vão alegar que Julian Assange é um ativista e que as pessoas do Wikileaks não se encaixam na imagem que os poderosos têm de jornalistas. Até mesmo alguns dos grandes órgãos de comunicação tentam, desde então, distanciar-se de Assange. O Ministério Público dos EUA tentará fazer com que um processo contra um editor se torne aceitável para os cidadãos americanos.

Há mais de um ano, Julian Assange não pode deixar a Embaixada do Equador em Londres. Você está otimista sobre o destino dele num futuro próximo?

Ratner: Otimista? Não sei. Ele acredita que não vai ficar lá por mais um ano. O ponto decisivo para Assange é obter uma garantia da Suécia e/ou do Reino Unido de que ele não será extraditado imediatamente para os EUA quando ele deixar a embaixada. O problema dele não é a Suécia. Ele está disposto a enfrentar as alegações de assédio sexual. Mas o problema é que, quando ele for para a Suécia, muito provavelmente um bilhete somente de ida para os EUA estará esperando por ele.

Mas qual a possibilidade de que a Suécia e o Reino Unido, com suas estreitas relações com os EUA, possam garantir que ele não será extraditado?

Ratner: Até agora, eles não deram nenhuma garantia. O Reino Unido é muito próximo dos EUA, e também a Suécia. Os suecos fazem praticamente tudo que os EUA querem. Ou seja, nesse ponto, ambos os países têm um problema. E no caso de Edward Snowden, vimos o que é preciso para desafiar os EUA. Edward Snowden teve de fugir para um país que estava disposto a enfrentar os EUA. E a Rússia estava, em grande parte, disposta a tal.

O que acha que vai acontecer a Snowden?

Ratner: Minha esperança para Edward Snowdern é de que ele possa viajar para um país de sua escolha. No momento, esse país parece ser em primeiro lugar a Venezuela. O problema de Snowden é que será difícil chegar à Venezuela a partir da Rússia, sem que Washington obrigue o avião a aterrissar à força nos EUA. Essa é a situação dele agora. Mas ao mesmo tempo, ele é ao menos um homem livre, comparado com aquilo que poderia acontecer a ele numa prisão secreta americana.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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