França condecora 3 soldados espanhóis que libertaram Paris
Em um ato de reparação histórica, a prefeitura de Paris condecorou os três últimos soldados espanhóis republicanos ainda vivos que participaram na libertação da capital francesa, no dia 24 de agosto de 1944, de seus ocupantes alemães.
Manuel Fernández, Rafael Gómez e Luis Royo Ibáñez integraram junto a outros 147 espanhóis a 9ª companhia da 2ª Divisão Blindada do general Philippe Leclerc, que contou apenas com 16 sobreviventes após a Segunda Guerra Mundial.
Os blindados ligeiros tipo "semi-lagartos" brilhavam, além de bandeiras republicanas espanholas com nomes como "Ebro", "Teruel", "Guernica", "Guadalajara", "Madrid", "Almirante Buiza", "Belchite", "Góngora", entre outros.
Entretanto, e apesar de quatro dos veículos terem escoltado o general Charles De Gaulle no desfile da vitória pelos Champs-Élysées, a história oficial os ignorou, talvez porque fossem os perdedores de outra guerra, e pouco depois os Aliados acabaram por reconhecer o regime do general Francisco Franco.
Além dos membros da divisão Leclerc, no exército "regular" francês lutaram mais de 3.500 espanhóis.
Para esses homens, a Segunda Guerra Mundial não começou na Europa em 1939 com a invasão nazista da Polônia, mas sim no dia 26 de abril de 1937 com o bombardeio de Guernica, a emblemática população basca, por parte da Legião Condor, integrada por aviões e pilotos alemães.
"Isto é algo, mas muito pouco! Houve falta de interesse e covardia. Critico a França porque gosto dela, assim como critico o meu país Basco", disse antes da cerimônia Lucio Urturia, o "Lucio o falsificador", um personagem lendário, que inspirou o livro "O anarquista irredutível", de Bernard Thomas.
"Agradeço a vocês por toda a sua coragem e determinação para libertar Paris da barbárie nazista. Este ato fica marcado nos trabalhos de recuperação de nossa memória histórica", destacou Pierre Schapira, encarregado da prefeitura de Paris para assuntos de Relações Internacionais.
Após a entrega de medalhas e diplomas, Gómez, Fernández e Royo Ibañez, todos com quase noventa anos, mas com uma surpreendente lucidez, conversaram com a imprensa.
"Estamos felizes. Porque, no fim, é antes tarde do que nunca. Foi o mesmo quando me deram a Legião de Honra (máxima distinção da República francesa) após 60 anos", disse Royo, que comparou o general Leclerc, um nobre francês da Resistência, com o general republicano espanhol Enrique Líster.