Grã-Bretanha: ameaças a feminista no Twitter causam prisão
Em meio aos debates sobre violência às mulheres no Brasil, um caso de ameaças feitas pela internet a uma feminista criou comoção e virou caso de polícia na Grã-Bretanha
Em janeiro, dois ingleses foram presos por enviar mensagens abusivas e ameaças de morte à feminista Caroline Criado-Perez pelo Twitter.
A polêmica começou em julho do ano passado, quando Criado-Perez (que nasceu no Brasil) deu início a uma campanha em redes sociais para que o Banco da Inglaterra mantivesse uma mulher entre as figuras históricas presentes na parte de trás das notas de libra esterlina.
O banco havia anunciado que trocaria a imagem da inglesa Elizabeth Fry, conhecida por ter apoiado diversas reformas sociais no país e até então a única mulher presente nas notas de libra além da rainha Elizabeth 2ª, que está na parte da frente de todas as cédulas. No lugar de Fry, entraria o estadista britânico Winston Churchill.
A campanha de Criado-Perez teve efeito e fez o Banco da Inglaterra anunciar que a escritora Jane Austen seria incluída entre as figuras das notas de libra a partir de 2017.
Ameaças
Mas Criado-Perez também foi ameaçada de morte, e os autores foram identificados mais tarde.
Isabella Sorley, de 23 anos, mandou mensagens à feminista dizendo: "Morra, sua inútil".
Em outra, disse que "havia acabado de sair da prisão, mas ficaria feliz em ser presa de novo se isso significasse que a veria debaixo da terra".
Outro acusado, John Nimmo, de 25 anos, disse à vítima para ela "calar a boca" e fez referências a estupros seguidas pela frase "Vou achar você".
A dupla também ameaçou a política Stela Creasy, que apoiou a campanha pela manutenção de uma mulher nas notas de libra.
Os dois de declararam culpados pelo uso indevido de redes de comunicação e foram condenados a 12 e oito semanas de prisão, respectivamente.
Segundo David Wright, do Centro por Uma Internet Mais Segura do Reino Unido, a sentença cria um importante precedente porque "casos se abuso pela internet vem se multiplicando nos últimos 12 meses".
Efeitos
O juiz Howard Siddle disse que os efeitos causados nas vítimas foram "substanciais" e que "era difícil imaginar ameaçar mais graves" do que as que foram enviadas.
Criado-Perez disse em seu depoimento que ficava aterrorizada toda vez que a campainha de sua casa tocava e que chegou a instalar um botão de pânico para o caso de ser alvo de um ataque ou agressão.
"O fato de as mensagens serem anônimas aumentava ainda mais o medo das vítimas", afirmou o juiz. "Não havia como evitar os autores das ameaças nem saber quão perigosas eles realmente eram."
O advogado de defesa de Sorley, Sean Caulfield, disse que a agressora era na verdade uma "vítima da tecnologia que usava" porque "não entendia o efeitos do que estava fazendo".
Por sua vez, o advogado de Nimmo, Paul Kennedy, disse que seu cliente era um "indivíduo triste e recluso" e que, quando sua mensagem foi republicada por outras pessoas no Twitter, ele se sentiu estimulado a seguir em frente.