Grã-Bretanha promete recursos à Escócia contra independência
Políticos britânicos asseguram que entregarão "amplos novos poderes" ao parlamento escocês - especialmente tudo que for relativo à saúde pública
A Grã-Bretanha prometeu garantir altos níveis de financiamento à Escócia, concedendo aos escoceses maior controle sobre seus gastos de saúde, em uma última tentativa para alavancar apoio pela manutenção do Reino Unido antes do referendo sobre a independência na quinta-feira.
A promessa, contida em carta publicada na capa de hoje do jornal escocês "Daily Record", está assinada pelo primeiro-ministro do Reino Unido, o conservador David Cameron; o líder da oposição trabalhista, Ed Miliband; e o vice-primeiro-ministro, o liberal-democrata Nick Clegg.
Na carta, os políticos asseguram que entregarão "amplos novos poderes" ao parlamento escocês - especialmente tudo que for relativo à saúde pública - através de um processo estipulado pelas três legendas de Westminster (Londres).
Cameron, Miliband e Clegg afirmam que compartilham a opinião que o Reino Unido é um país que garante "oportunidade e segurança" para todos ao distribuir recursos entre as quatro nações - Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte.
Os políticos acrescentam que podem afirmar "categoricamente" que a palavra final sobre os fundos destinados ao Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês) na Escócia será competência do parlamento de Edimburgo.
O financiamento do NHS é um dos temas de grande debate na campanha sobre o referendo, além da libra.
Após a publicação da carta, um porta-voz da campanha pelo "sim" disse que o lado do "não" está em estado de "pânico" e quer frear a independência da Escócia.
"A realidade é que a única maneira de garantir que a Escócia obtenha os poderes que necessitamos para criar empregos e proteger o NHS é com um voto do 'sim' na quinta-feira, para que possamos utilizar nossa enorme riqueza para criar um país melhor e mais justo", acrescentou o porta-voz.
O compromisso dos três líderes políticos foi divulgado depois que o ex-primeiro-ministro britânico trabalhista, Gordon Brown - que faz campanha pelo "não" -, assegurou há poucos dias que o plano para entregar mais autonomia à Escócia começaria imediatamente após uma rejeição nas urnas à independência.
Entre as competências que os partidos britânicos querem entregar a Edimburgo figuram, além do NHS, estão as relacionadas com o imposto de renda e sobre políticas de habitação.
Com as pesquisas mostrando que a decisão sobre o destino do Reino Unido será apertada, os gastos com bem-estar social e com o futuro do renomado Sistema Nacional de Saúde formaram uma parte central do argumento do nacionalista Alex Salmond pela secessão.
Em um acordo patrocinado pelo ex-primeiro-ministro Trabalhista Gordon Brown, os líderes dos três principais partidos britânicos disseram que manteriam a equação de financiamento que sustenta um nível maior de gastos públicos na Escócia.
“As pessoas querem ver mudanças”, disse o acordo, publicado no jornal escocês Daily Record e assinado pelo primeiro-ministro David Cameron, pelos líderes trabalhista, Ed Miliband, liberal democrata, Nick Clegg.
“Um voto pelo ‘não’ propiciaria uma mudança mais rápida, segura e melhor do que a separação”, disse o acordo.
Cameron, cujo cargo estará em jogo se os escoceses votaram pela saída da Escócia do Reino Unido, alertou em sua última visita à região antes do referendo de quinta-feira que não haveria volta, e que qualquer separação seria dolorosa.
Líderes britânicos concordam que mesmo se a Escócia votar pela manutenção da união de 307 anos, a estrutura do Reino Unido terá que mudar, já que os esforços para conceder tantos poderes à Escócia provocará clamores por um Estado menos centralizador de eleitores no País de Gales, na Inglaterra e na Irlanda do Norte.
Diversos eleitores nas zonas industriais do norte da Inglaterra e de Gales dependem dos gastos sociais do governo, ao passo que alguns parlamentares ingleses do próprio partido de Cameron já pediram que a Inglaterra tenha mais poderes.
Diante da maior ameaça interna ao Reino Unido desde que a Irlanda se separou há quase um século, o "establishment" britânico - desde Cameron até o ex-jogador de futebol David Beckham - se uniram em um esforço para convencer os escoceses de que o Reino Unido é “Melhor Junto”.
“Não haverá volta. Não haverá nova tentativa. Se a Escócia votar ‘sim', o Reino Unido irá se separar e nós iremos por caminhos separados para sempre”, disse Cameron em Aberdeen, centro da indústria petrolífera escocesa.
Se os escoceses votarem pela independência, a Grã-Bretanha e a Escócia teriam 18 meses de negociações pela frente sobre todos os temas, desde o petróleo do Mar do Norte até a libra esterlina e a filiação à União Europeia, além da principal base nuclear submarina da Grã-Bretanha, que fica na Escócia.
A possibilidade de cindir o Reino Unido, sexta maior economia do mundo e membro com poder de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidos, levou cidadãos e aliados a ponderar o que sobraria disso tudo.
Escoceses têm decisão mais importante em 300 anos
Quatro milhões de escoceses maiores de 16 anos decidirão nesta quinta-feira se a Escócia se tornará independente do Reino Unido em um referendo histórico, debate que só foi possível graças a um acordo entre Edimburgo e Londres.
Esta é a decisão mais importante que o Reino Unido adotará em três séculos, desde a adesão da Escócia pelo Ata da União (1707), e seu resultado é uma incógnita, dado o enorme número de indecisos às vésperas da consulta.
Mais de 4,3 milhões de residentes na Escócia, incluindo cidadãos europeus e membros da Commonwealth, se registraram para votar no referendo e decidir com um "sim" ou com um "não" a simples pergunta: "A Escócia deveria ser um país independente?".
Será a primeira vez que jovens de 16 anos, faixa etária com 124 mil escoceses e a priori mais favorável à secessão, votarão no Reino Unido. Segundo as pesquisas, a maior oposição à independência está entre os maiores de 55 anos e as mulheres.
O resultado nos 32 distritos eleitorais escoceses, que será conhecido na sexta-feira, pode depender de poucos votos, pois ganhará o lado que conquistar maioria simples (50% mais um) e todos os envolvidos se comprometeram a respeitá-lo.
A realização deste histórico referendo, observado cautelosamente por muitos países da Europa, é possível graças ao acordo fechado em Edimburgo em 15 de outubro de 2012 pelo primeiro-ministro do Reino Unido, o conservador David Cameron, e o ministro principal escocês, o social-democrata Alex Salmond.
Com informações da Reuters e EFE.