Grupos pretendem acusar Vaticano de "crime de Estado" por pedofilia
Organizações civis do México querem acusar o Vaticano de "crime de Estado" em um tribunal internacional pelos casos de padres pedófilos, declarou nesta quarta-feira o ex-sacerdote católico Alberto Athié, ao comentar o relatório da Organização das Nações Unidas sobre abusos sexuais contra crianças cometidos pelos religiosos. Em entrevista coletiva, na qual parabenizou o relatório do Comitê da ONU sobre os Direitos da Criança, o mexicano Athié afirmou, no entanto, que o documento não coloca um processo contra o Estado do Vaticano por suas omissões.
Por isso, o ex-sacerdote declarou que as organizações civis querem "que um tribunal internacional responsabilize a Santa Sé por crime de Estado". "Nós queremos construir a verdade histórica, e parte do fato é que há responsabilidade institucional da Santa Sé", declarou.
De acordo com Athié, "existem todos os elementos para entrar com um processo em uma instância das Nações Unidas" para que determine se a Igreja Católica cometeu um crime de Estado ao praticar "uma conduta sistemática ao logo do tempo e do espaço para agir de forma sistemática contra um grupo humano, neste caso meninas e meninos inocentes".
Além disso, afirmou que o papa Francisco "deveria reconhecer a responsabilidade institucional da Santa Sé diante dos milhares de casos" de pedofilia por parte de sacerdotes "a quem preferiu acobertar ao invés de atender às vítimas e suas famílias". Contudo, Athié elogiou o relatório do Comitê da ONU e considerou que o mesmo tem um "valor histórico sem precedentes, pois o Vaticano nunca foi convocado a prestar contas".
"Hoje o Comitê sobre os Direitos das Crianças, em um pronunciamento histórico, afirma contundentemente que a Santa Sé é responsável por um mecanismo sistemático de proteção e encobrimento dos clérigos pedófilos que, em muitas partes do mundo, cometeram abusos sexuais contra meninas e meninos", afirmou.
Na entrevista coletiva também participaram representantes de diversas organizações civis como a Associação Mexicana de Reflexão Teológica, a Rede Sobreviventes de Abusos Sexuais por Sacerdotes-México e o Observatório Eclesial.
Em seu relatório divulgado nesta quarta-feira, o Comitê da ONU acusou o Vaticano de não ter reconhecido nunca "a amplitude dos crimes" de abuso sexual cometidos por sacerdotes contra crianças, além de adotar "políticas e práticas que levaram à continuidade dos abusos e à impunidade dos responsáveis".