Incêndios misteriosos causam intrigas em vilarejo na Itália
Desde 2004, moradores de aldeia testemunham sofás, eletrodomésticos, fiações e até caixas d'água pegarem fogo sem razão aparente
Na última quarta-feira, uma moradora de Canneto, pequena aldeia da cidade de Caronia, na Sicília, assistiu o próprio televisor derreter, a tomada da cozinha queimar e a penteadeira incendiar-se.
No mesmo dia, o assento de um veículo anti-incêndio da Proteção Civil (Defesa Civil), chamado para apagar as chamas na garagem de uma residência há poucos metros dali, pegou fogo sem causa aparente.
Esses foram dois dos mais de 30 incêndios "espontâneos" ocorridos na aldeia em um período de 48 horas.
Desde 2004, os 180 moradores da pequena vila com vista para o mar Tirreno assistem a sofás, cortinas, eletrodomésticos, colchões, fiações elétricas, cestos de roupas e até caixas d'água em PVC incendiarem-se espontaneamente. Mas os fenômenos se intensificaram recentemente.
Duas pessoas foram internadas por intoxicação devido à fumaça e outras dezenas tiveram que deixar as próprias residências.
De acordo com o prefeito de Caronia, Calogero Beringheli, que passou a noite entre 24 e 25 de setembro em vigília ao lado dos poucos moradores que continuam na aldeia, os focos de incêndio passaram a ocorrer com maior frequência a partir de julho deste ano.
"O fenômeno está em plena expansão e estamos todos em alerta. Há pouco uma dispensa pegou fogo e graças à ação do Corpo de Bombeiros conseguimos apagar as chamas", afirmou o prefeito a jornais italianos.
"Algumas residências foram evacuadas em julho, mas é preciso monitorá-las constantemente para evitar que peguem fogo. O problema é descobrir as causas deste fenômeno", disse Beringheli.
Desde o dia 25 setembro, graças aos sucessivos apelos do prefeito às autoridades regionais, a pequena vila conta com a presença constante de uma unidade de Bombeiros e voluntários da Proteção Civil.
Na próxima terça-feira o prefeito deve ser recebido pelo Ministro do Interior, Angelino Alfano, para solicitar maior empenho nas investigações sobre a natureza dos incêndios.
Diversos moradores foram diagnosticados pela rede de saúde pública com transtorno do estresse pós-traumático. Eles devem começar a receber atendimento de médicos especialistas na próxima semana.
Primeiro caso
O primeiro incêndio misterioso em Canneto ocorreu na casa de Peppina Pezzino, quando um televisor explodiu inexplicavelmente.
"Os fenômenos começaram na minha casa e logo se difundiram na vizinhança. Sofás, cabos não alimentadas pela corrente elétrica, colchões, lampadários e eletrodomésticos se autoincendiavam sem explicação".
"Os sistemas de alarme e fechamento automático dos carros entravam em pane e os celulares recarregavam-se mesmo sem estarem ligados à tomada", disse Pezzino à mídia italiana.
"Inicialmente pedimos ajuda aos técnicos da ENEL (companhia de energia elétrica) e da Rede Ferrovia Italiana, acreditando que se tratasse de dispersão elétrica, visto à proximidade com a linha ferroviária. Mas os estudos não identificaram nenhuma anomalia".
"A companhia chegou a criar uma nova central elétrica e, sucessivamente, a suspender o fornecimento de eletricidade. Nada disso adiantou e nos dias seguintes os fenômenos se intensificaram", disse Peppina.
Causas não naturais
No início, as autoridades suspeitaram que um ou mais piromaníacos estivessem por trás dos incêndios. Em seguida, eles foram atribuídas à presença de campos eletromagnéticos de alta intensidade na região.
Alguns chegaram a considerar que o fenômeno pudesse estar relacionado à suposta presença de "extra-terrestres", já que a região é conhecida por relatos de avistamento de objetos não-identificados.
Em 2005, o então governo de Silvio Berlusconi instituiu uma comissão com cientistas, professores universitários e técnicos do Ministério das Comunicações, da Aeronáutica e da Marinha para analisar o fenômeno.
Dois anos depois, embora não tenham chegado a uma conclusão sobre a origem dos incêndios, as investigações excluíram as causas naturais ou humanas, assim como qualquer relação com a linha ferroviária ou com as redes elétrica e de telecomunicações.
"Canetto foi atingida por emissões eletromagnéticas de alta potência de origem não natural que alcançaram uma potência entre 12 e 15 gigawatts" diz o relatório do coordenador da Comissão, Francesco Venerando Mantegna, divulgado em outubro de 2007 pela revista L’Espresso.
Para o porta-voz da associação local de moradores, Nino Pezzino, que em dez anos teve a própria residência incendiada três vezes, as chamas seriam deliberadamente causadas por "tecnologias secretas" de última geração. "Estou disposto a apostar até o que não tenho: estão testando uma arma militar", disse em entrevista à TV.
Obra do demônio
Desde o início, o único a não ter tido dúvidas sobre os estranhos incêndios de Canneto é o padre Gabriele Amorth, exorcista da Diocese de Roma, para o qual o fenômeno é "obra do demônio".
"Está acontecendo o que normalmente acontece quando o diabo entra na vida de quem lhe permite entrar. Se está acontecendo tudo isso é porque um motivo existirá. Pode ser inclusive que alguém esteja se divertindo com a magia, negra ou branca que seja, que é a porta de ingresso preferida por Satanás", declarou em entrevista a um site de notícias.
Os moradores, cansados da atenção da imprensa e da visita de físicos, vulcanólogos, geólogos, cientistas e paranormais de diversos países, pedem às autoridades uma rápida solução, antes que Canneto se torne uma aldeia fantasma.