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Itália: papa denuncia sofrimento de jovens vítimas da máfia

Jovens calabreses são recrutados para o tráfico de drogas e morrem também vítimas da violência da 'Ndrangheta, a máfia calabresa, ou terminam na prisão

21 jun 2014 - 09h39
(atualizado às 09h49)
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<p>Papa Francisco beija uma garota enquanto ele chega para visitar uma catedral em Cassano allo Jonio, sul da Itália</p><p> </p>
Papa Francisco beija uma garota enquanto ele chega para visitar uma catedral em Cassano allo Jonio, sul da Itália
Foto: Reuters

O papa Francisco denunciou neste sábado, em sua primeira visita à Calábria (sul da Itália), o sofrimento das crianças vítimas da máfia, e enviou uma mensagem de solidariedade a mães e avós em uma prisão local.

"Nunca mais uma criança deve suportar tais sofrimentos", declarou o santo padre na prisão de Castrovillari, perto de Cassano allo Jonio, às duas avós do pequeno Nicola ("Coco") Campolongo, de três anos.

Em janeiro passado, este menino foi vítima de um ajuste de contas que comoveu toda a Itália. Seu corpo foi encontrado junto ao de seu avô em um veículo carbonizado.

Além das crianças, jovens calabreses são recrutados para o tráfico de drogas e morrem também vítimas da violência da 'Ndrangheta, a máfia calabresa, ou terminam na prisão.

Durante uma cerimônia cercada de emoção, diante de 200 homens e mulheres detidos, alguns chorando e a quem o Papa saudou um a um, Francisco acrescentou: "Eu também cometo erros e devo cumprir penitência".

"Quero expressar a proximidade do Papa e da Igreja para com todo homem ou mulher que se encontra na prisão, em todas as partes do mundo", acrescentou o pontífice, que, em Buenos aires, visitava frequentemente as prisões e lavou os pés de jovens detidos em Roma durante a Quinta-feira Santa, pouco depois de sua eleição em 2013.

Francisco centrou sua mensagem na plena reinserção na sociedade, para que a detenção não seja apenas "um instrumento de punição e represália social" que acabaria sendo uma perda de tempo para o detido e para a sociedade.

Por isso, o bispo de Roma convidou os prisioneiros a "se encontrarem com Deus na prisão". "Deus é um mestre da reinserção, que nos pega pela mão e nos acompanha novamente na comunidade social", disse encorajando-os.

O papa argentino realizou em Cassano, localidade pobre perto do Mar Jônico, uma visita com um tom muito social. A máfia prosperou se aproveitando do fracasso dos investimentos da economia legal em uma região na qual o desemprego dos jovens com menos de 25 anos alcançou 56,1%, recorde da Itália em 2013, segundo a agência Eurostat.

Uma multidão acolheu Jorge Bergoglio, de 77 anos, em sua chegada a uma residência para doentes terminais. Depois se reuniu com os bispos da região na catedral.

Francisco pediu aos bispos que não sejam apenas empregados da Igreja, mas "canais abertos e generosos para com seus fiéis".

Esta visita de nove horas à região meridional mais pobre da Itália, depois de Campania, terminará com uma grande missa na qual são esperadas 100.000 pessoas.

Esta é sua quarta visita na Itália fora da diocese de Roma. No ano passado, este Papa muito popular na península viajou a Cagliari (Sardenha), onde denunciou o desemprego dos jovens, a Assis (Umbria), onde celebrou São Francisco, e à ilha de Lampedusa (sul), onde criticou a "globalização da indiferença" e defendeu os direitos dos imigrantes que desembarcam na Europa.

A máfia calabresa, ou N'drangheta, que trafica com parte da cocaína da América do Sul, é hoje a mais rica e a mais diversificada das máfias, com interesses no norte da Itália e na Europa.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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