A mais alta corte criminal italiana anunciou nesta terça-feira o cancelamento da absolvição da americana Amanda Knox e do italiano Rafaelle Sollecito no caso do assassinato da estudante britânica Meredith Kercher, que se tornou celebre nos Estados Unidos e no mundo.
Kercher, 21 anos, foi encontrada morta em Perugia, na Itália, em novembro de 2007 com mais de 40 ferimentos e um corte fundo na garganta. Knox, sua então colega de quarto, e Sollecito, namorado da americana na época, foram presos acusados de assassinato.
Inicialmente, a dupla e o marfinense Rudy Guede foram condenados pelo crime. Mas em 2011, a Corte de Cassação, a última instância de apelação da Itália, reverteu a condenação de Knox e Sollecito, que já tinham ficado presos por quatro anos, sob a alegação de que as provas levantadas pelo Promotoria não eram conclusivas. O tribunal decidiu nesta terça-feira que um novo julgamento deve ser realizado.
A família de Knox, que estudava na Itália na época do crime e atualmente retomou os estudos na Universidade de Washington, em Seattle, emitiu um comunicado afirmando que a notícia do novo julgamento era dolorosa. "É doloroso receber a notícia de que a Suprema Corte Italiana decidiu mandar o meu caso de volta para a revisão quando a teoria dos promotores sobre o meu envolvimento no assassinato de Meredith já foi repetidamente mostrada como injusta e infundada", diz a nota.
A promotoria alega que Kercher morreu durante um "jogo sexual" regado a drogas. Knox e Sollecito negam a participação no caso e dizem que nem estavam no apartamento no dia que a britânica foi assassinada. Eles admitem ter consumido maconha no dia e que suas memórias não são precisas.
A lei italiana não pode obrigar Knox a retornar para o país para o novo julgamento. De acordo com o advogado Carlo Della Vedova, a americana não vai voltar para a Itália "no momento", mas deve acompanhar o processo de casa. Ele disse acreditar que um novo julgamento não deve ser iniciado antes do início de 2014.
Em caso de condenação, os Estados Unidos precisariam extraditar Knox para que ela cumpra a eventual pena. "Se a corte ordenar um novo julgamento, se ela for condenada neste julgamento e a condenação for mantida pela mais alta corte, então a Itália poderia pedir a extradição", disse Della Vedova na segunda-feira.
A advogada de Sollecito, Giulia Bongiorno, disse nesta terça-feira que a decisão não era uma determinação de culpa e que apenas apontava que o caso precisa ser mais estudado. "É uma decisão que cancela um veredicto e ordena um novo julgamento. Eu não estou preocupado com uma leitura mais profunda da documentação, porque eu conheço a documentação", disse.
Já Francesco Maresca, advogado da família de Kercher, a vítima, disse que a decisão "era o que nós queríamos".
Foto de fevereiro de 2009 mostra a casa onde, em 1º de novembro de 2007, a britânica Meredith Kercher foi assassinada na cidade de Perugia na Itália. Meredith Kercher Cara Susanna, 21 anos, foi encontrada morta no dia 2 de novembro, na casa onde vivia com Amanda Knox e outras duas italianas - que estavam fora da cidade na data
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Rudy Guede é preso em 20 de novembro na Alemanha e extraditado à Itália em 6 de dezembro. Ele se tornou suspeito de participação no crime a partir de impressões digitais dele que foram encontradas em um travesseiro de Meredith
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Meredith tinha marcas de facadas e de agressão sexual, além de um corte na garganta. Ela foi encontrada morta no dia 2 de novembro de 2007, na casa onde vivia com Amanda Knox
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Amanda Knox é presa no dia 6 de novembro de 2007, em Perugia, na Itália, sob suspeita de envolvimento no assassinato de Meredith
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Amanda Knox é escoltada pela polícia à Corte de Perugia. Naquele ano, o caso ganhou reconhecimento internacional e foi parar nas páginas policiais dos principais jornais do mundo
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Amanda Knox em uma das inúmeras vezes que frequentou a Corte de Perugia, em foto de setembro de 2008
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O ex-namorado de Amanda, o estudante italiano Raffaele Sollecito, 27 anos, também foi preso em 6 de novembro de 2007 por suspeita de envolvimento na morte de Meredith
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Em 2009, Amanda Knox e Raffaele Sollecito foram condenados a 26 e 25 anos de prisão, respectivamente, pela morte de Meredith. O júri considerou que a prova principal - o DNA de Amanda foi encontrado em uma faca - era suficiente para a condenação
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O julgamento de Amanda mobilizou a imprensa internacional na cidade de Perugia. Durante o caso, Amanda Knox foi descrita por promotores como "uma bruxa" de dupla personalidade, com um lado "angelical, bom, misericordioso e de algumas formas até santo" e outro "demoníaco, satânico, diabólico"
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A mãe de Meredith, Arline Kercher, e a irmã, Stephanie, chegam para o julgamento de Amanda e Sollecito em dezembro de 2009. Meredith foi encontrada seminua, com a garganta cortada e marcas de 43 facadas. A autópsia também mostrou que ela foi estuprada
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Durante o desenrolar do caso, Knox também foi condenada pelo crime de calúnia, já que ela acusou falsamente o barman Patrick Lumumba de ser um dos assassinos. No entanto, ele foi inocentado mais tarde
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Knox em novo julgamento na Corte de Perugia no dia 26 setembro de 2011. Durante os quase quatro anos que permaneceu presa, Amanda sempre negou a autoria do crime. Sollecito também
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O juiz Claudio Pratillo Hellmann lê o veredicto sobre o caso de Amanda Knox e Raffaele Sollecito. Após a defesa buscar a apelação, a Justiça reavaliou a condenação depois que investigadores forenses independentes criticaram a atuação da polícia no caso, dizendo que as provas existentes contra os dois no na perícia oficial não eram confiáveis
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Amanda é absolvida pela corte de Perugia no dia 3 de outubro da acusação de homicídio de Meredith. Ela e seu ex-namorado, o italiano Raffaele Sollecito, 27 anos, foram inocentados após apelarem contra as provas que os condenaram, em 2009. O júri considerou que as provas que condenaram os dois - como o DNA da americana encontrado em uma faca - eram insuficientes
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Amanda Knox deixa a Corte de Apelação de Perugia após ouvir sua sentença favorável. O tribunal de recursos manteve a condenação pelo crime de calúnia, por ter acusado falsamente Patrick Lumumba de ser um dos assassinos. No entanto, os três anos de reclusão dos quais ela foi sentenciada já foram cumpridos
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Raffale Sollecito comemora a sentença do juiz com a advogada Giulia Bongiorno. O ex-namorado de Amanda também foi inocentado e sua liberdade já foi ordenada pela Justiça italiana
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A mãe de Meredith, Arline Kercher, e os irmãos, Stephanie e Lyle, concedem entrevista antes do veredicto a favor de Amanda. A acusação, que planeja recorrer, teme que Amanda volte a Seattle, onde sua família mora, e não retorne à Itália no caso do processo ter prosseguimento
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Rudy Hermann Guede, 24 anos, que se declarou inocente, optou por um julgamento rápido, sem passar pelo júri popular, e recebeu uma sentença de 30 anos de prisão. Após apelar à Justiça, sua pena foi reduzida para 16 anos de cárcere privado