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"Lobos" ameaçam revolução do Papa, afirma vaticanista

7 jun 2014 - 21h13
(atualizado às 21h22)
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<p>Papa Francisco</p>
Papa Francisco
Foto: Andrew Medichini / AP

Os "Lobos" ameaçam a revolução pacífica que o papa Francisco promove e usam a inércia e sua personalidade latino-americana como armas para desprestigiá-lo, afirma o vaticanista Marco Politi em entrevista concedida à AFP neste sábado.

Para o especialista em assuntos da Santa Sé, o primeiro papa latino-americano da história tem uma estratégia precisa que gera resistência em certos setores.

"Está em curso uma batalha muito séria entre o projeto reformista de Francisco e seus vários opositores. É uma oposição silenciosa, mas que se manifesta de forma muito agressiva em certos portais da internet" - explicou Politi após lançar seu novo livro: Francesco tra i lupi (Francisco entre os lobos).

Por intermédio destes portais, numerosos grupos católicos ultraconservadores, tanto da Europa como da América Latina, manifestam sua rejeição à política de abertura de Francisco e o acusam de "entregar a catedral" a judeus, protestantes e muçulmanos.

"Há uma blogueira mexicana muito dura. São em geral portais ultratradicionalistas. Acusam o Papa de demagogia, populismo, de diminuir o primado papal, de promover uma 'protestantização' da Igreja e falar excessivamente da pobreza."

"Há oposições, no plural. Há prelados a favor de um ponto e contra outro. Alguns estão a favor da comunhão para os divorciados que se casam novamente, mas não aceitam que as mulheres tenham cargos de poder na Igreja. Outros pensam que não se deve ser tão duro com os homossexuais, mas rejeitam a legalização do casamento homossexual."

Como o santo dos pobres que inspirou seu nome de pontífice, o Papa argentino quer transformar os lobos em cordeiros e espera vencer as resistências através do exemplo, do diálogo, da humildade e dos gestos emblemáticos.

"Há muita resistência passiva, inércia. Não fazem nada, apenas esperam."

"Os lobos são os adversários na cúria, fora da cúria, o mundo econômico. Existe uma espécie de aliança transversal", observa Politi, editorialista do jornal italiano Il Fatto Quotidiano.

"Francisco está mexendo com grandes interesses econômicos e a ameaça de um atentado contra ele (...) é muito séria", disse o vaticanista ao citar as medidas do Papa para garantir transparência no Instituto de Obras para a Religião, também conhecido como Banco do Vaticano, acusado por décadas de lavagem de dinheiro.

Alguns prelados criticam com frequência a falta de postura do Papa, que age como um latino-americano afável. "É uma maneira que alguns na cúria encontraram para diminui-lo, para reduzi-lo a uma personalidade folclórica."

"Mas Francisco quer humanizar a figura do Papa, perder o sabor de imperador romano, os sapatos e a capa vermelha, o título de máximo pontífice..."

"A verdade é que é o único papa da era moderna que vem de uma metrópole. Ele não é do 'fim do mundo', vem de uma metrópole com mais de 15 milhões de habitantes, onde convivem culturas, religiões e etnias diferentes", destaca Politi sobre Buenos Aires.

"Isto lhe dá uma abertura e uma visão que outros papas não tiveram. Por isso foi capaz de levar um judeu e um muçulmano na sua viagem à Terra Santa."

"Noto que os episcopados de todo o mundo não tomam posição a favor de sua política reformista. É estranho. Todos tendem a dizer: vamos ver no que vai dar. Uma inércia total, não apresentam documentos ou programam iniciativas a seu favor."

Francisco "quer que surjam diversas posições, que haja debate, que votem. Uma grande experiência parlamentar, como no Concílio Vaticano II, na década de 60. Os dois sínodos sobre a família, em 2014 e 2015, são etapas favoráveis para a mobilização", conclui Politi.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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