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Londres é mesmo 'uma das cidades mais seguras do mundo', como diz seu prefeito?

O prefeito da capital britânica, Sadiq Khan, reagiu ao ataque de sábado reforçando que estatísticas criminais na cidade são baixas.

6 jun 2017 - 12h14
(atualizado às 12h27)
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Policiais
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Foto: BBC News Brasil

"Tenho certeza que estamos numa das cidades globais mais seguras do mundo, se não a mais segura", disse o prefeito de Londres, Sadiq Khan, após o ataque que deixou sete mortos e 48 feridos no sábado no centro da capital britânica.

Em outro recente atentado, o de 22 de março nos arredores do Parlamento, o prefeito também tinha defendido os índices de segurança da metrópole, onde vivem 8,7 milhões de pessoas.

Martin Hewitt, comissário-assistente da Polícia Metropolitana, deu declarações semelhantes em abril, quando divulgou as estatísticas criminais da cidade entre 2016 e 2017. Segundo Hewitt, "há poucas (cidades) com níveis tão baixos em crimes graves, como homicídio e crimes com armas de fogo".

"Como no resto da Inglaterra e País de Gales, as taxas de crimes em Londres estão aumentando, mas muitas ainda estão num nível muito mais baixo do que há cinco anos", disse o comissário.

No último ano, foram registrados 110 homicídios em Londres - 58 a menos que há dez anos, destacou Hewitt.

Mas o que isto significa em comparação a outras cidades grandes?

Mais ou menos?

Há poucas estatísticas recentes oficiais para homicídios para fazer comparações a nível internacional. Dados de 2013 do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) parecem confirmar, pelo menos em parte, as declarações do prefeito de Londres.

No ano de 2011, o último para o qual há dados comparáveis com Londres, houve na capital britânica 100 homicídios dolosos, o que representa uma taxa de 1,3 homicídios a cada 100 mil habitantes, segundo o documento.

Flores
Flores
Foto: BBC News Brasil

Essa taxa de homicídio de 2011 é menor do que em capitais europeias consideradas seguras, como Oslo, na Noruega, com 3,2 por 100 mil habitantes; ou Helsinki, na Finlândia, com 2,4/100 mil - embora nestes locais os números absolutos sejam menores, já que concentram uma população também menor.

Há cidades europeias populosas, entretanto, onda a taxa é ainda mais baixa, como Roma, Lisboa e Madri.

Ainda assim, Londres tem uma taxa menor de homicídios do que todas as grandes cidades da América Latina, segundo a ONU. O documento cita o exemplo de São Paulo, onde, em 2011, a taxa de homicídios era de 9,4/100 mil, num total de 1.069 homicídios. Nesta segunda-feira, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou dados referentes a 2015 mostrando que o Brasil acumulou 59.080 homicídios - uma taxa de 28,9/100 mil. A capital mais violenta é Fortaleza, com taxa de 66,7/100 mil.

Cifras recentes mostram que a capital britânica registrou aumento nos crimes com armas de fogo (42%) entre abril de 2016 e abril de 2017 - foram 2.544 delitos, comparados com 1.793 do período anterior.

Os crimes com armas brancas (facas, canivetes) também aumentaram (24%), em particular entre jovens e membros de gangues.

Mas a pergunta agora é: como os ataques recentes afetam a segurança de Londres?

Campo de batalha

No momento, uma das consequências mais imediatas dos recentes ataques, incluindo o de Manchester no qual 22 pessoas morreram em maio, é que a segurança se tornou o principal tema de campanha das eleições gerais que serão realizadas nesta quinta-feira (6).

Com três ataques no Reino Unido num período de 75 dias, o Partido Trabalhista critica os cortes do orçamento policial realizados desde 2010 pelos conservadores (quando a atual primeira-ministra, Theresa May, ocupou o posto de ministra do Interior) dizendo que eles "foram longe demais".

Por isso, o líder trabalhista, Jeremy Corbyn, pediu nesta segunda-feira a renúncia de May.

Polícia armada
Polícia armada
Foto: BBC News Brasil

May, no entanto, garante que os investimentos no combate ao terrorismo foram mantidos e que não se trata apenas de uma questão de números, mas da capacidade que os policiais têm de patrulhar as ruas.

O número de policiais aumentou gradualmente desde 1980, e registrou um forte aumento em torno de 2000. Desde por volta de 2010, no entanto, ele foi caindo significativamente.

Segundo o Ministério do Interior, houve um corte de 21.495 (9,7%) agentes de setembro de 2010 a setembro de 2016 na Inglaterra e no País de Gales.

Em 2016, havia um total de 198.228 agentes na região.

Outros dados separados do ministério mostram ainda que havia 5.639 policiais armados em março de 2016 na região, queda de 18% em relação a março de 2009 (nem todos os policiais britânicos portam armas de fogo, diferentemente de outros países).

Estes cortes foram "mais facilmente justificáveis" com as quedas nos números de criminalidade nos últimos 30 anos, diz o jornal britânico Financial Times, mas o cenário muda com o aumento de determinados crimes em Londres e, principalmente, após os recentes ataques.

Chrissy Archibald
Chrissy Archibald
Foto: BBC News Brasil

Segundo o analista para assuntos internos da BBC, Dominic Casciani, o governo britânico confirmou, no ano passado, investimentos de £ 143 milhões (R$ 608 milhões) para recrutar novos agentes. Por isso, nesta época, no próximo ano, o número de oficiais armados deverá alcançar os cerca de sete mil.

Além disso, os policiais recrutados hoje "não se comparam aos de antes", diz Casciani. Por anos, a polícia britânica foi treinada para "localizar, conter e neutralizar", enquanto agora eles são treinados para "confrontar o agressor".

O que se viu nesses últimos ataques extremistas é que os agressores tentam matar até que sejam abatidos. No atentado de sábado em Londres, os autores só interromperam suas ações dolosas quando foram alvejados a tiros pela polícia. Os polícias levaram 8 minutos para executar os agressores, contados a partir das primeiras chamadas de emergência.

Esta rapidez é resultado de anos de treinamento para responder a este tipo de incidente, diz Casciani.

O que torna uma cidade segura?

Mas para além das ameaças de ataques terroristas, há outros aspectos que contribuem para a sensação de segurança ou insegurança em uma cidade.

Para calcular o seu Índice de Cidades Seguras em 2015, a unidade de Inteligência da publicação britânica The Economist fez um ranking analisando quatro quesitos de segurança urbana: segurança digital, sanitária, de infraestrutura e pessoal.

A cidade mais segura é Tóquio, capital do Japão, enquanto que Londres figura em 18º lugar entre as 50 analisadas.

Apenas quatro cidades europeias aparecem à frente de Londres: Estocolmo, Amsterdã, Zurique e Barcelona.

Se for analisado apenas o que o documento qualifica de "violência pessoal", ou seja, os aspectos mais tradicionais da segurança, como os crimes violentos, Londres fica em 12º lugar.

Mas os atentados, como o deste fim de semana, têm como um de seus objetivos provocar medo. Desde 2013, o serviço de segurança do Reino Unido conseguiu desbaratar e impedir 18 planos de ataques extremistas.

E, com três ataques em menos de três meses, este tipo de ato de terror está começando a parecer, para algumas pessoas, "a nova normalidade", diz Casciani.

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