Merkel freia expectativas de acordo de paz em Moscou
Chanceler federal se mostra cautelosa quanto a sucesso da iniciativa conduzida por ela e pelo presidente Hollande, que vão se reunir com Vladimir Putin na capital russa. Em Paris, Hollande fala em "um primeiro passo"
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, mostrou-se cautelosa, nesta sexta-feira (06), em relação às chances de sucesso da iniciativa de paz que ela e o presidente François Hollande conduzem na Ucrânia e na Rússia. "Não sabemos se vai dar certo, talvez novas conversações sejam necessárias", afirmou em Berlim.
Merkel disse que o objetivo da missão é acabar o mais rápido possível com o conflito no leste da Ucrânia. Ela reiterou que não existe uma solução militar para o conflito. Merkel e Hollande elaboraram uma nova proposta de paz, com base no acordo de Minsk, e a apresentaram nesta quinta-feira ao presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko. Nesta sexta, eles estarão em Moscou, para expor os planos ao presidente da Rússia, Vladimir Putin.
A chanceler desmentiu novamente informações divulgadas pelo jornal Süddeutsche Zeitung, segundo o qual a proposta prevê, além de um cessar-fogo imediato, a concessão de mais autonomia aos separatistas do leste da Ucrânia. Essa autonomia seria ampla e abrangeria um território maior do que o acertado anteriormente. "Como chanceler alemã, eu nunca vou passar por cima de outro país, neste caso a Ucrânia, ocupando-me com questões territoriais. Isso está fora de questão."
Além disso, ela e Hollande não se apresentam como negociadores neutros, afirmou Merkel. "Trata-se de defender os nossos interesses – alemães, franceses, principalmente europeus. Trata-se de paz, de uma ordem europeia pacífica, da sua manutenção e da autodeterminação dos povos", declarou Merkel em Berlim.
Em Paris, Hollande disse que ele e Merkel vão se encontrar com Putin com o objetivo "buscar um acordo" para resolver a crise. "Qualquer um sabe que o primeiro passo é um cessar-fogo, mas que isso não é suficiente e que falta ainda buscar um acordo mais amplo", declarou, pouco antes de partir para Moscou.
Armas para a Ucrânia
Além de Merkel e Hollande, Poroshenko também recebeu em Kiev, nesta quinta-feira, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry. Durante o encontro, o presidente ucraniano voltou a solicitar o envio de armas pelos Estados Unidos, mas o representante americano deixou em aberto se o pedido será atendido. Os Estados Unidos priorizam a solução diplomática, afirmou Kerry.
"Queremos uma solução diplomática, mas não podemos fechar os olhos para os tanques que estão atravessando a fronteira com a Rússia e entrando em território da Ucrânia. Não podemos fechar os olhos para soldados russos usando uniformes sem insígnias cruzando a fronteira e liderando os chamados separatistas no campo de batalha", disse. "Os Estados Unidos não procuram o conflito com a Rússia. Ninguém procura. Nem o presidente Petro Poroshenko, nem os Estados Unidos, nem os europeus", declarou o secretário de Estado.
Em Moscou, o governo russo advertiu que uma eventual entrega de armas pelos Estados Unidos à Ucrânia causaria um "dano colossal" às relações entre os EUA e Rússia, além de provocar um acirramento no conflito ucraniano e ameaçar a segurança da Rússia. "Isso ameaça não só provocar um acirramento da situação no sudeste da Ucrânia, como a segurança da Rússia, cujo território tem sido repetidamente bombardeado a partir da Ucrânia", disse um porta-voz do Ministério do Exterior.