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MH17: um mês depois, Holanda tenta apurar tragédia

A investigação criminal da tragédia do voo MH17 no leste da Ucránia é a maior já conduzida na Holanda. São dez promotores e 200 policiais envolvidos na coleta de provas e no inquérito

17 ago 2014 - 20h23
(atualizado às 20h37)
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Tragédia do MH17 completa um mês, e muitos dos corpos das vítimas sequer foram encontrados
Tragédia do MH17 completa um mês, e muitos dos corpos das vítimas sequer foram encontrados
Foto: AFP

Um mês após a tragédia do voo MH17 no leste da Ucrânia, ainda há um longo esforço de investigação pela frente, sobretudo na Holanda - país de origem da maioria das vítimas.

"Se você me dissesse, um mês atrás, que eu estaria feliz pelo fato de o corpo da minha filha estar em um pedaço, e não em 17, eu diria que você é louco... Agora, estou apenas grato que ela esteja em casa."

A filha única de Hans de Borst, Elsemiek, foi identificada no dia 8 de agosto. Ela tinha 17 anos. É uma das 127 vítimas identificadas até agora pela equipe forense internacional que trabalha na base militar holandesa de Hilversum.

"Eles usaram o dente dela e um anel", diz Borst à BBC. "Falei sobre o anel aos Detetives Familiares (grupo que faz a intermediação entre os investigadores forenses e os parentes em luto). Ela não usava joias, mas sempre usava o anel, com as letras Els."

Dois terços das 298 pessoas a bordo do voo da Malaysia Airlines eram holandeses. É por isso que coube à Holanda a liderança nos esforços de identificação dos corpos e a investigação criminal sobre as causas da tragédia.

Governos ocidentais suspeitam que o avião foi alvejado por um míssil disparado por separatistas pró-Rússia na Ucrânia. Já os rebeldes e o governo russo culpam o Exército ucraniano.

Como a maioria dos familiares das vítimas, Hans de Borst cedeu amostras de DNA uma semana após o acidente. Questionado se queria ver o corpo de sua filha no necrotério, ele disse não. "Eles me disseram que ela estava inteira. Nesse sentido, talvez eu tenha tido sorte. Mas é claro que ela estava machucada. Não quero ver isso. Quero lembrar dela do jeito que ela era. Eles tiraram fotos, caso eu mude de ideia daqui a dez anos."

Investigação

Esta é a maior investigação criminal já conduzida na Holanda. "Nunca antes tivemos um caso de assassinato com tantas vítimas", diz Wim de Bruin, da Promotoria holandesa. Havia passageiros de dez nacionalidades diferentes a bordo do MH17.

Dez promotores e 200 policiais estão envolvidos na coleta de provas e no inquérito.

Ainda há três grandes dúvidas quanto a um eventual julgamento do caso: onde ele será realizado? Quem será acusado do quê? Quanto tempo será necessário até que que os acusados sejam levados à justiça?

Os promotores holandeses ainda estão na fase inicial da investigação criminal, mas negam que o caso possa ser julgado na Corte Criminal Internacional, eA m Haia.

A corte só assume casos que países não querem ou não conseguem julgar. A Holanda quer e pode julgar o caso do MH17.

O plano atual envolve a extradição dos suspeitos para um julgamento na Corte Distrital de Haia. Mas essa extradição dependeria da cooperação do país dos acusados, quando estes forem identificados.

Quanto às acusações, Bruin diz que elas devem envolver homicídio, destruição de aeronave e, até mesmo, genocídio.

Lockerbie

Por enquanto, os investigadores se recusam a estabelecer um prazo para a conclusão do caso. A única referência que têm é a tragédia de Lockerbie (Grã-Bretanha) - na qual o voo 103 da Pan Am foi alvejado enquanto sobrevoava a Escócia, em 1988, matando as 259 pessoas a bordo e 11 em terra. Em 2001, um oficial de inteligência líbio foi preso pelo caso.

Mas até hoje restam dúvidas quanto a quem perpetrou o crime e suas motivações. Em 2003, o ex-líder líbio Muamar Khadafi - morto durante a Primavera Árabe - aceitou responsabilidade e ofereceu compensação financeira às famílias das vítimas.

"Em Lockerbie, foram necessários três anos para a investigação e outros sete para o julgamento", lembra Bruin. "E isso se tratando de um avião que caiu em uma área pacífica. Com o MH17 é mais complicado."

O avião foi derrubado em uma área de conflito, e destroços se espalharam por 35 km2. Há preocupações quanto à remoção indevida de pedaços da aeronave nos primeiros dias após a tragédia. Não se sabe se provas cruciais foram perdidas ou manipuladas, e dois promotores holandeses viajaram a Kiev, mas não conseguiram acesso ao local.

Em 6 de agosto, o premiê holandês, Mark Rutte, anunciou que investigadores forenses e seus cães farejadores seriam retirados do local até que a situação ali estivesse mais tranquila.

Ainda não se sabe ao certo quantos corpos não foram sequer encontrados.

Causas

Enquanto isso, especialistas de Ucrânia, Rússia, Alemanha, Reino Unido, Malásia e EUA colaboram com o Gabinete de Segurança Holandês, em Haia, para tentar entender as causas da tragédia.

Wim van der Wegen, representante do órgão, diz que eles já têm dados suficientes para um relatório preliminar. "Estamos usando o registro das conversas, da caixa-preta, imagens de satélite, informações do controle de tráfego e fotos tiradas por pessoas que chegaram ao local da queda."

Esse relatório deve ser entregue em duas semanas, sem por enquanto apontar culpados.

Mas levar os autores da tragédia à justiça ajudaria a curar profundas feridas sentidas atualmente pela sociedade holandesa.

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