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'Não confie em nós alemães. Em uma crise, autoritarismo pode voltar', adverte filho de criminoso nazista

26 abr 2017 - 16h03
(atualizado às 17h44)
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O pai de Niklas Frank foi governador-geral da Polônia durante a ocupação alemã
O pai de Niklas Frank foi governador-geral da Polônia durante a ocupação alemã
Foto: BBC / BBC News Brasil

Até os sete anos de idade, Niklas Frank teve uma infância privilegiada, em que brincar de esconde-esconde no castelo Wavelm, na Cracóvia (Polônia), era uma atividade comum.

Tudo mudaria em 1945, quando seu pai foi preso por soldados americanos em Tegernsee, no sul da Alemanha, e o filho descobriu seu papel no Holocausto: Hans Frank foi o homem que Hitler nomeou governador-geral da Polônia quando tropas nazistas ocuparam o país, em 1939.

Frank foi também um dos responsáveis pela aplicação da política de extermínio de judeus - quatro dos seis campos de extermínio estavam sob sua jurisdição.

Condenado por crimes contra a humanidade nos julgamentos de Nuremberg e pelo envolvimento na morte de ao menos quatro milhões de pessoas, Hans Frank foi enforcado em outubro de 1946.

E o filho passou boa parte de sua vida lidando não apenas com a herança maldita dos atos do pai, mas com o temor de que possam se repetir na Alemanha.

Em entrevista ao programa Hard Talk, da BBC, o jornalista e escritor, de 78 anos, disse acreditar em um retorno do autoritarismo ao país caso haja uma crise econômica mais séria.

"Enquanto nossa economia for robusta e estivermos ganhando dinheiro, tudo será muito democrático. Mas se tivermos cinco ou dez anos de problemas econômicos mais graves, o brejo vai virar um lago, depois um mar e aí vai engolir tudo."

Hans Frank (terceiro, da esquerda para a direita) foi executado em 1946
Hans Frank (terceiro, da esquerda para a direita) foi executado em 1946
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Frank fez alusão ao contexto de profunda crise vivida pela Alemanha no início da década de 1930, que ajudou a levar Adolf Hitler ao poder. Mas o jornalista alemão comentou também sobre sua preocupação com o que definiu como uma "maioria silenciosa" - o setor da população que se recusa a acertar contas com atrocidades do passado.

"Não confie em nós, alemães. Amo meu país, sou um nacionalista. Mas temos uma maioria silenciosa, que não aceita o que seus pais fizeram".

Na entrevista, Frank fala sobre a dificuldade de lidar com os crimes cometidos pelo pai, e diz "sentir desprezo" por ele. O jornalista percorre a Alemanha para dar palestras sobre os crimes cometidos pelos nazistas e contar a história de Hans Frank.

Frank se diz preocupado com a decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia. Pois, em sua opinião, o processo conhecido como Brexit deixa a Alemanha com poder desproporcional no bloco.

"Fiquei muito feliz com a formação da União Europeia, porque isso deixaria a Alemanha sendo observada pelos vizinhos. Mas agora o Reino Unido está saindo, a Alemanha novamente vai ser o país forte".

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