Opinião: A violência na cúpula do G20
Diante das cenas de black blocs e carros em chamas, é correto que a polícia intervenha em Hamburgo, pois, de outra forma, não se escutam as reivindicações dos manifestantes pacíficos, opina jornalista Henrik Böhme.
Hamburgo em julho - a bela metrópole no norte alemão, sempre digna de uma visita, exceto nos últimos dias. Pois, em alguns lugares, a cidade não é mesma. O seu brilho desapareceu por trás de nuvens de fumaça, de jatos lançados por canhões de água, de black blocs, de policiais de aparência marcial. Por trás de arame farpado, de grades de segurança, de bloqueios de estradas, do trânsito caótico nas estradas e nos trilhos. Automóveis em chamas, tanto carros de luxo quanto veículos de família. Seja o que for, o que importa é que queime.
Tem início então o jogo infantil: quem começou? Quem é culpado? A polícia, que intervém de forma "desproporcional", até mesmo provocando? Os manifestantes? Muitos deles com uma atitude pacífica, mas nem todos. Poucos, que se escondem atrás daqueles que, por diversas razões, são contra essa cúpula, contra o sistema, contra a injustiça no mundo, contra qualquer coisa. Isso é a democracia, é possível ser contra, pode-se mostrar isso.
Hamburgo é conhecida por sua cena alternativa. Mas isso também é Hamburgo: ninguém se entende, não importa se lá encima no nobre distrito de Bankenese ou lá embaixo nos bairros de St. Pauli ou no Schanzenviertel.
Mas, de uma forma e outra, geralmente tudo mundo é deixado em paz. E é por isso que o Rote Flora, o centro dos alternativos, também já existe há tanto tempo.
Então era facilmente previsível que tais confrontos acontecessem. Para essa cena alternativa, é o evento do ano. Ainda melhor quando não há custos de viagem, já que o inimigo - no caso o G20 - vem visitar diretamente a cidade. Antes da cúpula se pôde ver que protestos também podem ser feitos de forma colorida, criativa e barulhenta. Mas, para alguns, isso não é suficiente. Tem que queimar, tem que fazer bagunça, afinal de contas a polícia não deve vir à toa. É preciso pôr mais água no canhão.
O ruim é quando os vidros de vitrines no próprio Schanzenviertel também vêm abaixo, porque ali também tem roupas de marca e não somente vestuário de malha ecológica e de produção justa. O ruim é quando os moradores, que gostam de morar ali, mas não têm o mínimo interesse em violência, também são afetados.
Mais uma vez, em palavras bem claras: manifestações são válidas, a liberdade de expressão é um bem valioso - assim, o entorno da cúpula também é um exemplo de democracia para os chefes de Estado e governo no encontro, que não veem isso exatamente dessa forma. Mas tudo isso que manifestantes pacíficos criticam na globalização em geral e principalmente na cúpula - tudo isso some nas nuvens de fumaça dos caóticos. E, assim, também na insignificância.
O Estado tem que agir contra essa violência. Quem atira em helicópteros da polícia com fogos de artifício deve ser punido. Isso não se pode negar. Isso diz a lei. E se houve alguma coisa desproporcional na atuação policial, então é o caso de entrar com um processo judicial para que isso seja esclarecido. É assim que funciona o Estado de Direito.
E quando as nuvens de fumaça tiverem passado, quando Hamburgo mostrar novamente o seu lado bonito: então Blankenese e Schanzenviertel vão se encontrar novamente numa hamburgueria americana ou numa loja de móveis sueca. A vida tem que continuar.
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