Papa defende luta transparente contra a pedofilia
O Papa Francisco pediu solenemente nesta quinta-feira a todos os líderes da Igreja para que nunca mais acobertem escândalos de pedofilia, em um mundo em que o nível de conscientização e mobilização ainda é muito desigual.
"Não há lugar no ministério da Igreja para aqueles que abusam de menores", insistiu o Papa em uma carta a todos os líderes da Igreja.
"Não será levada em conta qualquer tipo de considerações, de qualquer natureza, tais como o desejo de evitar o escândalo", ressaltou nesta carta publicada na véspera da primeira reunião no Vaticano do comitê de especialistas criado pelo Papa para a proteção dos menores.
"As famílias precisam saber que a Igreja não poupará esforços para proteger os seus filhos e que elas têm o direito de recorrer a ela com toda a confiança, porque é uma casa segura", assegurou o Papa.
As associações de vítimas, como a rede americana SNAP, continuam a criticar fortemente as deficiências do Papa e do Vaticano sobre o assunto, especialmente quanto a confidencialidade que envolve os processos internos contra padres suspeitos de abusos.
Nesta quinta-feira, a SNAP pediu ao novo comitê de especialistas para que não se contente em apenas transmitir suas preocupações a um bispo em particular, mas "que levem à justiça e à imprensa" os nomes dos sacerdotes culpados e daqueles que os acobertam.
Em sua carta, Francisco se mostra consciente do fato que no terreno, as normas destinadas à assegurar tolerância zero aos atos de pedofilia nem sempre são bem aplicadas.
Desta forma, ordenou às instâncias locais que apliquem as regras e "revisem regularmente" seus procedimentos de luta contra a pedofilia estabelecidos após a diretriz de maio de 2011, sob o pontificado de Bento XVI.
De fato, apesar de as conferências episcopais dos países desenvolvidos terem aderido rapidamente à diretriz de 2011, as respostas tardam na África, Ásia e América Latina.
A imagem da Igreja tem sofrido muito ao longo dos últimos vinte anos com a revelação de milhares de casos de crianças e adolescentes vítimas de abusos sexuais por padres, especialmente na Irlanda e nos Estados Unidos entre 1960 e 1990.
No ano passado, uma comissão da ONU considerou em um relatório que ainda há muito a ser feito para esclarecer esses crimes.
Um simpósio organizado em 2011 pela Universidade Jesuíta de Roma, na presença de bispos dos cinco continentes, também mostrou como este assunto continua a ser tabu e ignorado em muitos países em desenvolvimento, das Filipinas à África.
Além disso, algumas conferências episcopais pobres não têm os recursos para implementar ferramentas eficazes, e sua cooperação com as autoridades civis não é transparente.
Em dezembro, o Papa completou a composição do comitê, com oito novos membros da África, América Latina e Ásia.
"Eu acredito que esta comissão pode ser um novo instrumento, válido e eficaz para me ajudar a promover o empenho de toda a Igreja, para garantir a proteção dos menores e de adultos vulneráveis", disse o pontífice argentino.
Presidido pelo cardeal americano Sean O'Malley, este comitê é formado por sete mulheres e nove homens. Dois de seus membros, um britânico e um irlandês, foram vítimas de abusos por padres, e a maioria dos outros são eminentes psicólogos.
A comissão, que se reúne pela primeira vez a partir de sexta-feira, vai cuidar de prevenção, educação e do desenvolvimento de "boas práticas" para proteger as crianças e outras pessoas vulneráveis, como as pessoas com deficiência.