Papa pede que refugiados sejam acolhidos "tal como vêm"
O papa Francisco defendeu nesta segunda-feira (14) que os refugiados que chegam à Europa vindos do Oriente Médio e da África devem ser recebidos "tal como vêm" e considerou que a onda de migrações é, entre outros aspectos, causada por um "sistema socioeconômico mau e injusto".
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Em uma longa entrevista à rádio católica Renascença, de Portugal, o pontífice disse estar ciente do "perigo da infiltração" terrorista pela proximidade geográfica do continente europeu com organizações como o Estado Islâmico (EI), mas disse que é preciso amparar os refugiados.
"Eu sou filho de emigrantes e pertenço à onda migrante do ano 1929. Na Argentina, desde o ano de 1884, começaram a chegar italianos, espanhóis. (...) Eu sei o que é a migração! E depois, vieram as migrações da Segunda Guerra, sobretudo do centro da Europa, muitos poloneses, eslovacos, croatas, eslovenos e também da Síria e do Líbano. E sempre nos demos bem por lá. Na Argentina, não houve xenofobia", contou o papa, lembrando o início da vida de seu avô e seu pai em um novo país.
No entanto, o papa admitiu que existam desafios na segurança territorial na atual onda migratória. "É verdade e reconheço que, hoje em dia, as condições de segurança territorial não são as mesmas de outra época porque, na verdade, temos, a 400 quilômetros da Sicília, uma guerrilha terrorista sumamente cruel. Então, existe o perigo da infiltração, isso é verdade.", disse.
O papa, que apelou na semana passada para que a comunidade cristã acolhesse refugiados de países em guerra, lamentou que algumas congregações queiram transformar algo genuíno e religioso em um comércio.
"O assunto é sério, porque aí também há a tentação do deus dinheiro. Algumas congregações dizem: 'Agora que o convento está vazio, vamos fazer um hotel e podemos receber pessoas e, com isso, nos sustentamos ou ganhamos dinheiro'. Pois bem, se querem fazer isso, paguem os impostos! Um colégio religioso, por ser religioso, está isento de impostos, mas se funciona como hotel, então, tem que pagar os impostos como qualquer vizinho. Senão, o negócio não é limpo", criticou.
Segundo Francisco, países europeus com baixas taxas de natalidade têm "espaços vazios". "O fenômeno migratório é uma realidade. Mas eu queria abordar o tema, sem censurar ninguém. Quando há um espaço vazio, as pessoas procuram preenchê-lo. Se um país não tem filhos, vêm os emigrantes ocupar o lugar. Penso no nível dos nascimentos de Itália, Portugal e Espanha. Creio que seja de 0%. Então, se não há filhos, há espaços vazios", argumentou.
Já sobre a corrupção, o papa disse que ela é um problema mundial e revela um baixo nível moral. "Eu tenho confiança nos políticos jovens. Os políticos jovens tocam outra música", argumentou.