Polícia inglesa pede que vítimas investiguem crimes sozinhas
Documento de órgão oficial diz que autoridades 'desistiram' de investigar alguns casos; para policiais, situação está relacionada a medidas de austeridade
Um relatório sobre a atuação das forças policiais na Inglaterra e no País de Gales concluiu que as autoridades "praticamente desistiram" de investigar crimes menores.
Vítimas de crimes como roubos a imóveis comerciais e de veículos, por exemplo, estão sendo "encorajadas" a fazer investigações por conta própria. Estes casos raramente são priorizados, afirma um relatório do órgão do governo britânico responsável pela fiscalização do trabalho da polícia.
Segundo o documento, ao ligar para a polícia, as vítimas costumam ser questionadas sobre a suas expectativas em relação à resolução do caso.
Quando elas não sabem como responder a essa pergunta, são aconselhadas pela polícia a "conversar com vizinhos, checar imagens de câmeras de segurança" e até mesmo "fazer pesquisas em sites de vendas de segunda mão para ver se o objeto roubado está sendo revendido".
Roger Baker, um dos responsáveis pelo relatório, disse que existe uma "mentalidade" dentro da polícia inglesa de "praticamente desistir de investigar alguns crimes".
"Há uma mentalidade que faz com que nós não lidemos mais com essas coisas. O que efetivamente está acontecendo é que algumas ofensas estão quase sendo descriminalizadas", disse Baker.
"Não é culpa de um ou outro indivíduo, mas de uma mentalidade na polícia."
O relatório foi elaborado pelo HMIC, o inspetor da polícia da Coroa. O levantamento conclui que civis que trabalham em funções auxiliares na polícia estão cada vez mais atuando como "detetives" e que a resposta das autoridades a crimes semelhantes varia dependendo do bairro onde a vítima more.
Austeridade
Defendendo as forças policiais, Hugh Orde, presidente da associação britânica de chefes de polícia, afirmou que a atual situação está relacionada a medidas de contenção de gastos.
"A realidade da austeridade no policiamento significa que as forças devem assegurar que os oficiais usem seu tempo da melhor maneira, e isto significa a priorização de alguns casos", disse.
Ele nega, entretanto, que a polícia tenha "abdicado" de sua responsabilidade de cuidar dos cidadãos.
O relatório do HMIC aponta dificuldades da polícia de identificar pessoas vulneráveis e vítimas de repetidos crimes.
Além disso, muitas vezes a utilização de métodos inadequados de investigação faz com que a polícia acabe perdendo o rastro de suspeitos.
Para o órgão, a ideia de que as vítimas devam investigar seus próprios crimes "é surpreendente e preocupante".
"O público deu à polícia o poder e os recursos para investigar os crimes. As forças policiais não podem esperar que seja aceitável uma inversão de responsabilidades", diz o documento.
Ao final, o estudo faz 40 recomendações para que as forças policiais da Inglaterra e Gales melhorem sua atuação.