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Policiais mexicanos admitem ter entregado turistas italianos para criminosos

Quatro agentes estão sendo processados pelo 'desaparecimento forçado', após confessarem seu envolvimento no desaparecimento de Raffaele Russo, Antonio Russo e Vicenzo Cimmino.

26 fev 2018 - 17h56
(atualizado às 18h19)
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Os três italianos estão desaparecidos desde 31 de janeiro | Fotos: Chi Cha Visto?
Os três italianos estão desaparecidos desde 31 de janeiro | Fotos: Chi Cha Visto?
Foto: BBC News Brasil

Policiais do Estado de Jalisco, no oeste do México, "confessaram" que detiveram e entregaram três cidadãos italianos a um grupo de criminosos local.

O ministério público estadual informou estar trabalhando com base nessa confissão para encontrar Raffaele Russo, de 54 anos, Antonio Russo, de 25, e Vicenzo Cimmino, de 29, que estão desaparecidos desde 31 de janeiro.

Os quatro agentes, três homens e uma mulher, são alvo de um processo judicial pelo "desaparecimento forçado", disse o promotor-geral Raúl Sánchez em uma coletiva de imprensa.

O paradeiro dos três italianos, originários de Nápoles, é desconhecido desde que ele viajaram para Tecalitlán, ao sul de Jalisco.

'Vendidos'

Francesco Russo, filho de Raffaele Russo, disse ter informações de que a investigação aponta que os três foram "vendidos" pelos policiais aos criminosos.

"Por 43 euros de m***, a polícia do México vendeu três cidadãos do meu país. 43 euros, é uma vergonha sem precedentes", declarou Francesco Russo em uma entrevista à rádio italiana RAI1.

No entanto, o promotor de Jalisco disse que ainda são investigadas as motivações dos policiais e se negou a dar detalhes dos testemunhos dos acusados. "É parte da investigação", se limitou a dizer.

Os policiais envolvidos são Emilio "N", Salomón "N", Fernando "N" e Lidia "N" (a letra "N" significa que seus sobrenomes estão em segredo de justiça).

O primeiro a desaparecer

Raffaele Russo foi o primeiro a desaparecer, na tarde de 31 de janeiro, quando estava em Tecalitlán. Ele vivia no México há vários anos.

Segundo Daniele Russo, seu pai é aposentado e vende produtos como "casacos e perfumes" para ganhar um dinheiro extra. Naquele dia, ele havia ido a Tecalitlán para "dar uma volta" e "ver se faturava algum".

Seu filho, Antonio Russo, e seu sobrinho, Vincenzo Cimmino, haviam chegado há cinco dias no país, para visitar Raffaele.

Eles estavam em Ciudad Guzmán, a 40 km de distância, e foram atrás de Raffaele depois de não conseguirem mais se comunicar com ele.

"Ele sofre de hipertensão, e pensamos que havia se acidentado", disse Daniele à agência de notícias EFE.

'Conluio'

O promotor de Jalisco indicou que toda a polícia de Tecalitlán está sendo investigada | Foto: Promotoria de Jalisco
O promotor de Jalisco indicou que toda a polícia de Tecalitlán está sendo investigada | Foto: Promotoria de Jalisco
Foto: BBC News Brasil

Quando Antonio e Vincenzo estavam perguntando por Raffaele pelas ruas de Tecalitlán, policiais municipais pediram que os dois jovens os acompanhassem.

Antonio Russo conseguiu informar seu irmão, Daniele, por mensagem de áudio, que ele e seu primo estavam sendo escoltados por agentes locais.

"Estávamos colocando gasolina, e uns policiais nos detiveram. Duas motos e uma viatura. Nos detiveram e nos disseram: Sigam-nos'."

Mas, cinco minutos depois, seu celular foi desativado, e a família não teve mais notícias dos três homens.

"Foi parte de uma operação que eles (os policiais) fizeram em coordenação e conluio com o crime organizado", disse Sánchez.

'Desaparecimento forçado'

O caso dos italianos se assemelha a outro ocorrido em setembro de 2014 na cidade de Iguala, no sudoeste do país.

Durante uma viagem de ônibus rumo a um protesto, 43 estudantes desapareceram após os veículos serem interceptados por policiais.

A versão oficial, sustentada pelo governo, é de que os jovens teriam sido atacados por policiais municipais e entregues a um cartel do narcotráfico, que os teriam assassinado e incinerado em um depósito de lixo. Os corpos, contudo, nunca foram encontrados.

Mais de cem pessoas já foram detidas durante a investigação do caso, com base em acusações de crime organizado, mas não de "desaparecimento forçado".

Esse tipo de crime é considerado grave, punido com pena de 40 a 60 anos de prisão em Jalisco.

Nos últimos anos, as leis de vários Estados mexicanos endureceram para punir atos assim, em que autoridades estão envolvidas no desaparecimento de pessoas.

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