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Europa

Putin defende Rússia como reduto conservador em um mundo sem rumo

"O mundo é cada vez mais contraditório e agitado. Nestas condições, é reforçada a responsabilidade histórica da Rússia", declarou Putin em sua mensagem à nação em um grande salão do Kremlin

12 dez 2013 - 16h23
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O presidente russo, Vladimir Putin, discursa à nação no Kremlin, em Moscou
O presidente russo, Vladimir Putin, discursa à nação no Kremlin, em Moscou
Foto: AP

O presidente russo, Vladimir Putin, defendeu nesta quinta-feira sua visão de uma Rússia com responsabilidade histórica, em um mundo instável, bastião contra a hegemonia americana e fiador dos valores ante a decadência do mundo ocidental. A Rússia defende os valores tradicionais, em especial a concepção tradicional da família, e se opõe à tolerância estéril praticada em muitos países, declarou nesta quinta-feira o presidente, em um discurso no Kremlin.

A Rússia rejeita "a suposta tolerância, estéril, que não faz diferença entre sexos", afirmou Putin. "Cada vez mais gente no mundo adota nossa postura, que é a defesa dos valores tradicionais, que constituem há milênios os fundamentos morais e espirituais da civilização de cada povo", acrescentou.

O chefe de Estado russo também denunciou a "reavaliação das normas morais" em muitos países do mundo, nos quais se exige da sociedade, "por mais estranho que pareça, que coloque no mesmo nível o bem e o mal". A Rússia defende "um ponto de vista conservador" com o objetivo de impedir um retorno em direção ao "caos das trevas", declarou Putin citando o filósofo ortodoxo Nicolas Berdiav, expulso da Rússia após a revolução de 1917.

A Rússia foi muito criticada no Ocidente por promulgar em junho uma lei que proíbe a propaganda homossexual a menores, um texto considerado discriminatório pelos defensores dos direitos humanos. E reagiu com vigor à legalização do casamento homossexual em vários países, entre eles a França.

"O mundo é cada vez mais contraditório e agitado. Nestas condições, é reforçada a responsabilidade histórica da Rússia", declarou Putin em sua mensagem à nação em um grande salão do Kremlin. Trata-se da responsabilidade de um "fiador chave da estabilidade global e regional, e de um Estado que defende com constância seus valores", acrescentou, reivindicando o papel de seu país na crise síria.

Crítica aos Estados Unidos

Aliado há tempos do regime de Damasco, a quem fornece armas, a Rússia bloqueou qualquer intenção de intervenção ocidental em nome do direito internacional. "Não aspiramos ao nome de superpotência, caso se entenda por isso uma ambição de hegemonia mundial ou regional, nós não atacamos os interesses de ninguém, não impomos a ninguém nossa proteção e não damos lições a ninguém", declarou Putin, em clara alusão aos Estados Unidos.

"Mas nos esforçaremos em ser líderes", acrescentou o ex-agente do KGB, no poder há mais de 13 anos e cujo domínio sobre o país foi se afirmando cada vez mais, assim como as posições russas no cenário internacional.

Ele ressaltou sua determinação em alcançar o projeto de união econômica euroasiática de países criados a partir da ex-URSS, à qual a Rússia convida com insistência a Ucrânia. A renúncia súbita da ex-república soviética a um acordo de associação com a União Europeia para se voltar à Rússia provocou novas tensões nas últimas semanas entre russos e ocidentais.

Já a condenação a dois anos das jovens do grupo Pussy Riot, que cantaram uma "oração punk" contra Putin na catedral de Moscou para denunciar o conluio entre o poder e a Igreja ortodoxa, foi alvo de muitas críticas do Ocidente. Putin advertiu os Estados Unidos, sem citá-los, contra uma tentativa de garantir a superioridade estratégica. "O problema nuclear iraniano termina, mas o sistema de defesa antimísseis prossegue", ironizou.

A Rússia sempre denunciou a instalação ao seu lado de elementos deste dispositivo, justificados pelos Estados Unidos pela ameaça de Estados párias. "Ninguém deve ter ilusões sobre a possibilidade de obter a superioridade sobre a Rússia. Não aceitaremos isso nunca", declarou Putin, lembrando ter lançado um programa de rearmamento do país sem precedentes.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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