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Putin ignora ameaças e reitera apoio a governo da Crimeia

Presidente russo rebate argumentação de dirigentes europeus, reafirmando curso de secessão da península no Mar Negro em relação à Ucrânia. Forças russas continuam a ocupar postos estratégicos na Crimeia

9 mar 2014 - 16h50
(atualizado às 16h54)
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<p>Chefe do Kremlin afrima que o governo pr&oacute;-russo da pen&iacute;nsula &eacute; uma institui&ccedil;&atilde;o leg&iacute;tima</p>
Chefe do Kremlin afrima que o governo pró-russo da península é uma instituição legítima
Foto: AP

Devido a seu grande potencial de escalada e alastramento, a crise no Mar Negro continua sendo foco de atenção e preocupação internacional neste domingo. O presidente americano, Barack Obama, marcou para a próxima quarta-feira um encontro na Casa Branca com o chefe de Estado interino da Ucrânia, Arseniy Yatsenyuk.

Anders Fogh Rasmussen, secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte, declarou ter assegurado a Yatsenyuk que "a Otan está do lado da Ucrânia".

Por sua vez, o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, sugeriu que se garanta à Rússia a manutenção de sua frota na Crimeia, como tentativa de amenizar as tensões na região.

Na última semana, potências ocidentais de ambos os lados do Oceano Atlântico ameaçaram Moscou com sanções, caso não desista de sua ingerência na crise da Crimeia.

Putin desafia, Kremlin abranda

Em conversa telefônica com o presidente russo, Vladimir Putin, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, ressaltou que o planejado referendo na Crimeia infringe a Constituição da Ucrânia e o direito internacional.

Em 16 de março, os cidadãos da península decidem sobre uma eventual secessão em relação à Ucrânia e consequente anexação pela Rússia. Como os russos compõem cerca de 60% da população, o resultado da votação já é tido como certo.

O chefe do Kremlin rebateu que o governo pró-russo da península é uma instituição legítima, que estaria cumprindo seu dever para com o povo que representa. Fontes oficiais de Moscou revelam que Putin empregou os mesmos argumentos em conversa com o primeiro-ministro britânico, David Cameron.

O presidente russo "também chamou a atenção de seus interlocutores para a ausência de qualquer ação por parte das presentes autoridades em Kiev no sentido de restringir as atividades ilícitas de forças ultranacionalistas e radicais na própria capital e em muitas regiões [da Ucrânia]", declarou o Kremlin.

A Rússia vem insistentemente tentando impor o quadro de uma Ucrânia fora de controle, com cidadãos de origem russa como alvo de multidões enfurecidas. Observadores ocidentais, contudo, afirmam não haver qualquer indício de violência étnica no país, e acusam Moscou de propaganda.

Mencionando planos para contatos de mediação, "inclusive no nível dos ministros do Exterior", o comunicado do Kremlin sobre os telefonemas de Putin com Cameron e Merkel termina em tom conciliatório: "Apesar das diferenças existentes na avaliação do que está ocorrendo, [os dirigentes] expressaram interesse comum numa distensão e na normalização da situação, o mais rápido possível."

Kiev corta verbas

O presidente interino Arseniy Yatsenyuk, reiterou neste domingo o direito da Ucrânia à integridade territorial, incluindo a península da Crimeia. "Esta é a nossa terra, não vamos ceder nem um centímetro dela. É preciso que a Rússia e o seu presidente saibam disso", declarou o chefe de Estado durante uma manifestação em Kiev, por ocasião do bicentenário do herói nacional Taras Chevtchenko.

Yatsenyuk rechaçou qualquer pretensão territorial de Moscou em relação à República Autônoma da Crimeia, em território ucraniano, mas cujo controle de fato é detido há mais de uma semana por tropas russas, através da ocupação de numerosos postos estratégicos e órgãos públicos.

Precipitando ainda mais os acontecimentos, a nova liderança pró-ocidental em Kiev bloqueou o fluxo de verbas para o governo da Crimeia. A informação partiu do vice-primeiro-ministro da península no Mar Negro, Rustam Termigaliev. Segundo ele, não é mais possível financiar os negócios em andamento, e o governo em Simferopol já requereu a abertura de contas em bancos russos.

Para reforçar a decisão, Termigaliev comentou que, de qualquer modo, a península adotará o rublo como moeda, caso, a maioria da população opte pela anexação pela Rússia no referendo de 16 de março, como já se espera.

Tropas russas ocupam mais postos de fronteira na Crimeia

O Ministério de Relações Exteriores em Kiev informou que tropas pró-russas tomaram mais um posto da guarda de fronteira ucraniana na Crimeia. Cerca de 30 homens armados e sem insígnias militares penetraram um posto de apoio no oeste da península, destruindo suas instalações técnicas.

No sábado, ainda segundo fontes de Kiev, um posto avançado no leste da península foi tomado por forças russas, que expulsaram os soldados ucranianos. Assim, subiu para 11 o número de postos de fronteira na Crimeia sob controle russo.

Estão estacionados na República Autônoma milhares de homens armados e uniformizados. Apesar de não portarem distintivos, supunha-se tratar-se de soldados russos – o que foi confirmado neste domingo pela revista alemã Der Spiegel.

Segundo peritos em segurança internacional de diversos Estados da Otan, desde o início da crise, pelo menos 2 mil militares russos foram levados por via aérea de suas bases até a península ucraniana, afirma o semanário. Antes, as Forças Armadas de Moscou haviam ocupado os aeroportos locais.

Algumas fontes ligadas à Otan chegam a falar num contingente adicional de 6 mil soldados russos. Até o momento, o Kremlin nega terminantemente haver enviado tropas adicionais para a península, base de sua frota militar do Mar Negro.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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