Rei da Espanha ignora repressão e ataca governo da Catalunha
Felipe VI chamou autoridades regionais de "irresponsáveis"
Em um raro pronunciamento televisivo, o rei da Espanha, Felipe VI, subiu o tom e acusou nesta terça-feira (3) o governo da Catalunha de "descumprir" a Constituição e promover uma "fratura" na sociedade da comunidade autônoma.
Sem comentar as ações das forças de segurança espanholas contra os eleitores do plebiscito do último domingo (1º), o monarca não usou meias palavras para condenar o anseio separatista das autoridades catalãs, a quem chamou de "irresponsáveis". O discurso foi feito simultaneamente a uma greve geral na região, convocada para protestar contra a repressão policial à consulta popular.
"Estamos vivendo momentos muito graves para nossa vida democrática. E, nestas circunstâncias, quero me dirigir a todos os espanhóis. Todos fomos testemunhas dos fatos ocorridos na Catalunha, com o objetivo final da Generalitat [governo catalão] de que seja declarada - ilegalmente - a independência da Catalunha", disse Felipe VI.
Segundo o rei, o governo da comunidade autônoma "descumpriu a Constituição" de maneira "reiterada, consciente e deliberada", "quebrou os princípios do Estado de Direito e solapou a harmonia e a convivência na própria sociedade catalã, chegando, desgraçadamente, a dividi-la".
"Essas autoridades menosprezaram os afetos e os sentimentos de solidariedade que uniram e unirão o conjunto dos espanhóis e, com sua conduta irresponsável, inclusive podem pôr em risco a estabilidade econômica e social da Catalunha e de toda a Espanha", declarou o monarca.
Além disso, Felipe VI acusou a Generalitat de estar "à margem do direito e da democracia" e de querer "quebrar a unidade da Espanha e a soberania nacional". "Por tudo isso e ante essa situação de extrema gravidade, é responsabilidade dos legítimos poderes do Estado assegurar a ordem constitucional e o normal funcionamento das instituições", acrescentou.
Embora sem mencioná-las diretamente, a declaração funciona como justificativa para as ações da Guarda Civil e da Polícia Nacional, enviadas pelo primeiro-ministro Mariano Rajoy para evitar a realização do plebiscito. Durante a votação, agentes invadiram e interditaram centenas de colégios, apreenderam urnas e entraram em confronto com civis, deixando um saldo de mais de 800 feridos, segundo dados do governo catalão.
A consulta popular, tida como inconstitucional pela Espanha, teve a participação de 2,2 milhões de eleitores (41,5% do total), e 90% votaram pela independência da Catalunha. Contudo, boa parte dos apoiadores do "não" preferiu não comparecer às urnas.
"Sei muito bem que na Catalunha também há muita preocupação e grande inquietude com a conduta das autoridades regionais. Aos que se sentem assim, os digo que não estão sozinhos nem estarão", salientou o rei, que encerrou seu pronunciamento defendendo a "união e a permanência da Espanha".