Paixão por corridas e cometa excomungado; veja curiosidades papais
Por trás da solenidade que rodeia o cargo de pontífice da Igreja Católica também podem ser encontrados fatos insólitos e curiosos
A cadeira de São Pedro ficará vazia durante alguns dias. Bento XVI renunciou na última quinta-feira a seu cargo devido a sua "idade avançada" e, embora não seja a primeira vez que um papa apresenta sua renúncia, este gesto é extraordinariamente raro na história da Igreja.
Não deixa de ser curiosa a fotografia que percorreu todo o mundo e que tirada no mesmo dia no qual o papa anunciou sua renúncia na Cidade do Vaticano, quando um raio atingiu a Basílica de São Pedro. Mau augúrio? Casualidade? Certo é que ao longo dos mais de dois mil anos de existência da Igreja Católica houve muitas curiosidades.
Quanto a abandonar voluntariamente o trono de São Pedro, até agora só a renúncia apresentada por Celestino V é considerada uma decisão pessoal e voluntária. Sua saída ocorreu após um pontificado muito breve, que durou de 29 de agosto de 1294 até 13 de dezembro do mesmo ano.
Já haviam passado dois anos desde a morte de Nicolau IV quando o Conclave finalmente optou por Pietro da Morrone, um monge asceta que vivia em uma caverna e que subiu ao trono de São Pedro com o nome de Celestino V. Porém, depois de poucos meses, este religioso acostumado à vida austera abdicou do cargo.
Muitos papas
No entanto, o último pontífice a apresentar sua renúncia foi Gregório XII. Aconteceu no ano 1415 e para entendê-la é necessário aprofundar-se nas intermináveis disputas do chamado Cisma do Ocidente.
No início do século XV, havia dois papas reinando na cristandade: um em Roma e o outro em Avignon (França). Em 1409, tentaram solucionar este problema por meio Concílio de Pisa, mas o resultado não foi o esperado. No final das contas, a convenção começou com dois papas e terminou com três.
A ideia era escolher um novo papa que servisse para depor os dois anteriores. Mas nem Gregório XII, o de Roma, nem Bento XIII, o de Avignon, reconheceram a validade do concílio. Por sua parte, Alexandre V, o eleito em Pisa, morreu um ano depois e foi sucedido por João XXIII - conhecido como o antipapa - (que não deve ser confundido com o João XXIII do século 20).
Assim, houve uma nova tentativa de pôr fim ao excesso de papas. Desta vez, foi no concílio de Konstanz, que começou em 1414. Uma mudança no sistema de votação pôs fim à causa de João XXIII em 1415. Nesse mesmo ano, Gregório XII cedeu às pressões e renunciou. Mais tarde, a escolha de Martinho V em 1417 representou o fim do Cisma do Ocidente.
Mas ainda restava Bento XIII, que, mesmo deposto e exilado, continuou considerando a si mesmo o máximo pontífice até o dia de sua morte. Não à toa, procede dele a expressão "obstinar-se".
Algumas décadas depois, um papa espanhol, Calisto III, tomou uma das decisões mais extravagantes de toda a história vaticana. Segundo conta a jornalista Nieves Concostrina em seu livro "Menudas historias de la Historia" (“Pequenas histórias da História”, em tradução livre), este pontífice excomungou o cometa Halley.
Calisto III pensou que a aparição do cometa era um sinal da ira de Deus porque os turcos haviam se apropriado de Constantinopla. Por isso, "tomou várias medidas: primeiro, excomungou o cometa; depois, ordenou que todos os príncipes cristãos se unissem contra a invasão muçulmana; e, por fim, decretou que todos os católicos rezassem o Ângelus ao meio-dia para fazer desaparecer o cometa ou, em outro caso, provocar sua queda sobre Constantinopla".
De acordo com a autora, felizmente, o cometa levou a sério a excomunhão e não caiu sobre a Terra. No entanto, não é necessário que se alinhem os astros para que coincidam no tempo os fatos mais inesperados.
Em 1981, o Liverpool venceu a Liga dos Campeões da Europa, o príncipe Charles da Inglaterra se casou e o papa João Paulo II sofreu um atentado. O curioso é que, em 2005, o Liverpool voltou a ganhar a Champions e o príncipe Charles casou-se outra vez. Tudo isso no mesmo ano em que faleceu João Paulo II.
Karol Józef Wojtyla, aliás, foi um grande fã de esportes. Tanto que no dia 22 de outubro de 1978, dia em que começou seu pontificado, foi realizado um grande jogo de futebol e o recém eleito papa antecipou a cerimônia para não tirar audiência do evento esportivo, segundo conta o teólogo Jaime Vázquez Allegue no jornal espanhol ABC.
Este mesmo especialista comenta que Pio XII, por sua vez, adorava as corridas de carros, enquanto Paulo VI era um grande leitor e sempre que viajava levava consigo montanhas de livros.
Essas são algumas das pequenas curiosidades que mostram a vertente mais humana dos representantes do filho de Deus na Terra.
