Papa convoca palestinos e israelenses a retomar negociações
O papa Francisco convocou palestinos e israelenses a assumir "decisões corajosas", e pediu uma "rápida retomada das negociações" de paz, indica um comunicado do Vaticano divulgado nesta terça-feira, após um encontro do pontífice com o presidente Shimon Peres.
"Decisões corajosas" e a "disponibilidade das duas partes" devem permitir uma "retomada rápida" das negociações conduzindo a um "acordo respeitoso das legítimas aspirações dos dois povos e contribuindo assim de forma decisiva para a paz e a estabilidade da região", disse o comunicado.
Sobre a Síria, o Papa e o presidente israelense desejaram "uma solução política que privilegie a lógica da reconciliação e do diálogo".
Peres se mostrou preocupado com as "enormes quantidades de armas químicas" do regime sírio que podem cair "em mãos irresponsáveis", indicou um porta-voz da Presidência israelense em Jerusalém.
Durante o encontro foi abordado o delicado tema do status da cidade de Jerusalém, decisivo para a paz, assim como as relações entre os dois Estados e entre as autoridades locais e as comunidades católicas. Ambos também falaram sobre a construção do muro, batizado pelos palestinos de "Muro do apartheid", que irá separar Belém de Jerusalém. Israel justifica a sua construção por motivos de segurança.
"Eu o espero em Jerusalém. Não apenas eu, mas todo o povo de Israel", reiterou Peres após a reunião a portas fechadas de meia hora com o Papa, segundo jornalistas presentes.
De acordo com a Presidência israelense, Peres convidou o Papa a realizar "uma visita de Estado", considerando que "todos os cidadãos, independentemente de religião, raça o nacionalidade, o receberão calorosamente". "Quanto antes melhor", acrescentou.
O Papa respondeu que "deseja visitar Israel e tentará encontrar um momento oportuno para uma visita num futuro próximo", indicou a Presidência.
Sobre o encontro, o porta-voz do Vaticano, o padre Federico Lombardi, declarou que "o Papa recebeu com alegria e disponibilidade o convite do presidente (Peres). Ele espera fazer uma peregrinação à Terra Santa, mas nenhum projeto foi concretizado".
Uma visita conjunta aos locais santos do cristianismo em 2014 do Papa e do Patriarca Ortodoxo Bartolomeu é abordada desde a eleição em 13 de fevereiro, mas nunca confirmada. Seria simbólico para celebrar o 40º aniversário da histórica visita do Papa Paulo VI e do Patriarca Atenágoras em 1974.
De acordo com o porta-voz da presidência, o antissemitismo foi abordado pelo Papa Francisco durante a reunião. "O antissemitismo é contra o cristianismo. Como Papa, eu não vou tolerar qualquer expressão de antissemitismo", assegurou.
Ele também condenou a violência em nome da religião. "O Papa sugeriu uma reunião global de esperança com líderes religiosos, que se pronunciaria contra a violência e o terror", relatou o porta-voz israelense.
A visita do presidente Peres a Roma, a primeira de um líder do Oriente Médio ao novo Papa, foi seguida de perto, devido ao contexto de tensão, com as negociações entre israelenses e palestinos paralisadas, a guerra na Síria e a ascensão do islamismo em vários países.
O conflito entre palestinos e israelenses tem afetado diretamente a Igreja, já que os lugares mais sagrados do cristianismo estão localizados em regiões de Israel e Palestina onde uma minoria cristã vive há dois mil anos.
A eleição de Francisco despertou uma enorme esperança entre os cristãos no Oriente Médio. Os patriarcas da região pediram que o Papa apresente iniciativas de paz, embora a margem de manobra do Vaticano seja muito limitada.
A comunidade cristã palestina de Beit Jala, perto de Belém (Cisjordânia), enviou uma carta aberta ao Papa na segunda-feira para denunciar a decisão israelense de construir um muro de separação que favorece as colônias israelenses.
"Sua santidade, sua escolha trouxe-nos a esperança de que as coisas podem mudar. Nós ainda temos esperança", afirmou a carta, que pediu ao Papa para "enviar uma forte mensagem" para o povo palestino.
Os palestinos em Beit Jala acusam o presidente Peres de ser "um dos principais autores da política de assentamentos israelenses na Palestina ocupada".