A costureira Neide Mortean acompanha o cardeal Dom João Braz de Aviz desde que ele foi ordenado padre, em 1972, em Apucarana, no interior do Paraná. Ela define o catarinense nascido em Mafra em 1947 como um padre muito preocupado com o que acontecia além dos muros da igreja. “Era muito atencioso com a comunidade, com simplicidade e humildade, não fazia diferença entre as pessoas". Hoje, Dom João, atual prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, mora em Roma, e será um dos cinco cardeais brasileiros que vão participar do Conclave que elegerá o sucessor do papa Bento XVI.
“Nossa relação foi muito boa. Além de excelente padre, é um grande amigo. Viajamos para acompanhar a ordenação dele como bispo (em 1994 Aviz foi sagrado bispo, atuando em Vitória, no Espírito Santo) e fui a Brasília, no ano passado, na celebração de 40 anos de sua ordenação (como padre)”, conta Neide. “Quando olhei para ele, falei: você está com uma cara de papa”.
A ordenação de Dom João em 1994 foi o momento mais marcante que a costureira diz ter vivido com o cardeal. “Quinze dias antes ele fez uma celebração, seguida de um jantar na minha casa para se despedir da comunidade. Neste dia, convidou meu marido (Helio Mortean) para ser o comentarista da missa de ordenação. Mas meu marido faleceu uma semana antes”, contou. “Ele foi meu grande amparo. Foi um grande amigo, me deu muita força. Mesmo prestes a se tornar bispo, me acompanhou neste momento de tristeza, conversou com meus filhos também”, disse.
A relação de Dom João Braz de Aviz com Neide mostra seu comprometimento com a comunidade do interior do Paraná. Grande parte da sua trajetória foi construída no Estado. Após passar a infância em Borrazópolis, distrito rural do Estado, Dom João passou por Londrina e Assis, no interior de São Paulo, antes de se transferir para Curitiba, onde estudou Filosofia do Seminário Maior Rainha dos Apóstolos. Foi para Roma concluir seus estudos e retornou a Apucarana.
Na comunidade, lembra a costureira, ele sempre expressou sua opinião, nas rádios da cidade, sobre os principais temas. "Procurava os jovens, dava força para as comunidades de base, frequentava os grupos de vivência, ministrava cursos, celebrava missas nas casas das pessoas".
Entre os papáveis europeus, o cardeal italiano Angelo Scola, 71 anos, é visto como o preferido do papa Bento XVI. O sinal teria sido dado em 2011, quando Joseph Ratzinger promoveu Scola para o comando da diocese de Milão, uma das mais influentes da igreja católica o cargo já alçou a papa dois arcebispos no século XX, Paulo VI e Pio XI.
Foto: Reuters
Odilo Pedro Scherer, 63 anos, indicou que, para a imprensa estrangeira, ele está entre os mais cotados para suceder o papa Bento XVI. Dom Odilo nasceu em uma família de 13 filhos, de pais descendentes de alemães radicados no interior do Rio Grande do Sul.
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O cardeal nigeriano Francis Arinze, 80 anos, é prefeito regional emérito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Também visto como um conservador em assuntos como a homossexualidade, Arinze já entrou nas apostas dos "papáveis" no Conclave de 2005, quando Bento XVI foi escolhido como papa. O clérigo nigeriano, que se converteu ao catolicismo aos nove anos, se formou doutor em Teologia em Roma, foi ordenado sacerdote em 1958 e bispo em 1965, sendo que, em 1985, João Paulo II lhe designou como cardeal.
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Jorge Bergoglio, cardeal da Argentina, tem 77 anos. Sua idade, um pouco mais velho que seus adversários, pesa contra no momento em que a Igreja busca por um papa mais jovem. Bergoglio tem origem jesuíta e ficou conhecido por haver sido responsável na América Latina pela redação do documento sobre o segredo de Aparecida.
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O cardeal Tarcisio Pietro Bertone, secretário de Estado do Vaticano, é o atual camerlengo, como se denomina o administrador de bens e direitos temporários da Santa Sé até a escolha do sucessor de Bento XVI. Bertone nasceu na cidade turinesa de Romano Canavese, em 2 de dezembro de 1934. Membro da Sociedade de São Francisco de Sales São João Bosco (salesianos), estudou no Oratório di Valdocco e no noviciado salesiano de Monte Oliveto, em Pinerolo (Itália).
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João Braz de Aviz, atual prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, mora em Roma, e será um dos cinco cardeais brasileiros que vão participar do Conclave que elegerá o sucessor do papa Bento XVI.
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O cardeal Timothy Dolan, 63 anos, arcebispo de Nova York, está na lista dos mais cotados. Entre os 117 cardeais que votam no Conclave, Dolan se destaca pelo bom humor: está sempre sorrindo e não perde a oportunidade de fazer piadas. Caso seja eleito, sua personalidade pode ajudar a Igreja Católica a reconstruir uma imagem danificada por escândalos sexuais e divisões internas.
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Aos 61 anos, o arcebispo de Budapeste, Peter Ergö, 60 anos, é um dos mais jovens cardeais do Vaticano, mas isso não o impede de defender um catolicismo mais conservador. Como presidente da Conferência Episcopal da Europa, Erdö prega que, apesar das pressões, a Igreja revitalize e dissemine os seus dogmas tradicionais.
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O cardeal dom Cláudio Hummes, de 78 anos, é um dos brasileiros com maior trânsito na burocracia vaticana. Ex-arcebispo de São Paulo, foi prefeito para a Congregação para o Clero (espécie de ministro papal) até 2011. Desde então, é membro da Pontifícia Comissão para a América Latina.
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John Onaiyekan, cardeal da Nigéria, foi ordenado em 3 de agosto de 1969. Professor de Sagrada Escritura e francês no Colégio São Kizito, Isanlu em 1969, reitor do Seminário Menor São Clemente de Lokoja, em 1971, e estudou em Roma a partir desse ano.
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O cardeal canadense Marc Ouellet já chegou a afirmar que virar Papa "seria um pesadelo", mas este defensor ferrenho da ortodoxia, que viveu muitos anos na Colômbia e comanda a Pontifícia Comissão para a América Latina, é considerado um dos favoritos para suceder Bento XVI. Ouellet, um teólogo de prestígio, de 68 anos, provocou fortes polêmicas em Quebec, a província francófona do Canadá, ao defender nos anos 2000 as posições do Vaticano contra o casamento gay e contra o aborto, inclusive nos casos de estupro, e criticar a "decadência" de uma sociedade na qual duas em cada três crianças nascem fora do matrimônio.
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Oscar Andres Rodriguez, cardeal-arcebispo de Tegucigalpa desde 8 de janeiro de 1993, recebeu a ordenação presbiteral no dia 28 de junho de 1970, pelas mãos de Dom Girolamo Prigione. Foi ordenado bispo no dia 8 de dezembro de 1978 e se tornou cardeal no consistório de 21 de fevereiro de 2001, presidido por João Paulo II, recebendo o título de Cardeal-presbítero de Santa Maria da Esperança. Apoiou o Golpe de Estado em Honduras em 28 de junho de 2009. Desde 2007 é Presidente da Cáritas Internacional, sendo reeleito em maio de 2011 para o período que se concluirá em 2015.
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O cardeal-arcebispo austríaco Christoph Schönborn, ao contrário, tem uma idade considerada ideal: 67 anos, que lhe conferem ao mesmo tempo experiência e longos anos de pontificado pela frente. A dedicação profunda aos estudos também o aproxima do atual papa, chamado de "pai intelectual" do austríaco.
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O cardeal filipino Luis Antonio Tagle, de 55 anos, o mais jovem dos cardeais cotados para suceder Bento XVI, é considerado um progressista por sua pregação por uma Igreja humilde, em um país de grande fervor religioso e de muita pobreza. Especialista do Concílio Vaticano II e teólogo brilhante formado nas Filipinas e nos Estados Unidos, Luis Antonio "Chito" Tagle tem trinta anos a menos que Bento XVI, o Papa que renunciou aos 85 anos por falta de forças.
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Peter Kodwao Appiah Turkson, cardeal de Gana, talvez o mais preparado dos papáveis africanos, foi designado arcebispo de Cape Coast em 1992 pelo papa João Paulo II, quem lhe ordenou cardeal em 2003. Turkson é um especialista na Bíblia, já que estudou as Sagradas Escrituras no Instituto Pontifício Bíblico de Roma, onde se formou em 1980 e se tornou doutor nessa mesma matéria em 1992.
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O cardeal americano Sean O'Malley, com muita fama na internet, cumpriu uma importante tarefa há dez anos ao limpar a diocese de Boston, atingida por um escândalo de padres pedófilos. Conhecido por sua simplicidade, de acordo com a pregada por sua ordem - do padre Pierre da França -, este erudito de 68 anos e língua hispânica, de óculos e barba branca, retomou em 2003 a diocese onde eclodiu o primeiro escândalo com impacto internacional sobre abusos sexuais na Igreja Católica.
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Combate à corrupção
Em Ponta Grossa, também no Paraná, a atuação extra-muros de Dom João, já bispo da cidade, ganhou mais destaque. Ele liderou, no final dos anos 1990, o Movimento Ética e Cidadania que, ao lado de entidades como a Associação Comercial e a Ordem dos Advogados do Brasil na cidade, cobrava transparência e combate à corrupção na administração municipal. ”Foi um momento marcante. “Ele chegou a ser criticado por se expor daquela forma, mas, na sequência, todos perceberam a importância do movimento (que virou um Conselho e funciona até hoje na cidade)”, disse o padre Joel Nalepa, contemporâneo de Dom João na Diocese de Ponta Grossa.
“E esse era o diferencial dele: clareza no seu posicionamento, trato aberto e franco com relação ao povo”, emendou. “Ele se posicionou dessa forma contra a corrupção no município, como fez em Brasília também e como sempre fez em relação as situações internas de Igreja. Nunca colocou panos quentes nas situações que precisavam ser resolvidas”, concluiu. “Um dos momentos mais marcantes foi quando ele nos convocou para uma caminhada da catedral até o santuário de Vila Velha (cerca de 15km) para um exercício de renovação da fé”, contou.
Outro padre de Ponta Grossa que trabalhou ao lado de Dom João, Ademir da Guia disse que o cardeal foi um bispo bastante ativo, “visitando as paróquias, focado na verdade, na justiça social e no direito das minorias”. O padre também destacou a participação do então bispo no movimento contra a corrupção. “Foi um bispo de verdade e abriu um campo para termos fé não só na Igreja, mas na comunidade, na educação, na comunicação, na política”, contou.
O padre Ademir da Guia, de Ponta Grossa, confirma as impressões de Neide, de Apucarana. “Gostei muito dele no sentido da preocupação com os padres, a evangelização, não separava as pessoas, tratava padre, empresário e pobre da mesma forma”, disse.
Renovação no Vaticano
Os dois padres concordam que Dom João Braz de Aviz pode representar, no Vaticano, a renovação que o papa Bento XVI pediu para a Igreja Católica. “Para essa renovação, é preciso ter coragem. E essa é uma das virtudes que ele já demonstrou. Não tem medo de enfrentar os problemas que têm que ser resolvidos”, disse o padre Nalepa.
“De certa forma, a Igreja da América Latina já está realizando essa renovação defendida por nosso Papa. É uma Igreja muito mais criativa e alegre que a europeia, capaz de se ajustar e responder aos anseios do mundo de hoje. E esse pode ser um diferencial do nosso Dom João neste Conclave, tem essa experiência para apresentar aos cardeais e a vivência de quem cresceu em um distrito rural, foi padre no interior e arcebispo no mundo político de Brasília”, disse Ademir da Guia.