Rússia dá aval a eleição criada por separatistas na Ucrânia
Situação no leste da Ucrânia permanece tensa e os combates foram retomados na segunda-feira, após um fim de semana de relativa calma
A Rússia anunciou que reconhecerá os resultados das eleições legislativas e presidenciais de 2 de novembro nas regiões do leste ucraniano controladas pelos insurgentes pró-Rússia, uma decisão criticada por Kiev.
"Esperamos que as eleições sejam celebradas como estão previstas e reconheceremos, certamente, os resultados", declarou o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, ao jornal Izvestia.
Enquanto os partidos pró-Ocidente que venceram as eleições de domingo na Ucrânia negociam a formação de um novo governo na capital, Moscou recorda, com suas declarações, que uma parte do território não está sob controle do Executivo.
Moscou, que segundo Kiev e os países ocidentais, fornece apoio militar aos insurgentes, não havia reconhecido formalmente em maio os referendos de independência celebrados pelos separatistas.
Mas, de acordo com Lavrov, se trata desta vez de "legitimar as autoridades rebeldes", como parte dos acordos de Minsk que estabeleceram um cessar-fogo, em 5 de setembro, para tentar deter os combates que deixaram 3.700 mortos, segundo a ONU, no leste ucraniano.
Os acordos de paz preveem uma ampla autonomia para as zonas separatistas com um "governo autônomo provisório" e eleições locais, parte de uma descentralização e não de uma independência.
Os separatistas, que não votaram nas legislativas de domingo, não atenderam Kiev, que apresentou a proposta de eleições em 7 de dezembro, e acabaram organizando por conta própria eleições nas duas "repúblicas" autoproclamadas de Donetsk e Lugansk.
Para a Ucrânia, Moscou viola o acordo de paz de Minsk.
"A intenção da Rússia mina o processo de paz, fragilizando a confiança no país enquanto sócio internacional seguro", declarou à AFP Dimytro Kuleba, alto funcionário do ministério ucraniano das Relações Exteriores.
A crise ucraniana com a destituição do ex-presidente pró-Rússia Viktor Yanukovytch, a anexação da Crimeia pela Rússia e o conflito armado no leste provocou a maior crise entre Moscou e os países ocidentais desde o fim da Guerra Fria.
A economia russa, abalada por sanções que afetam os grandes bancos e o fundamental setor petroleiro, está à beira da recessão. O rublo voltou a registrar um recorde negativo nesta terça-feira em comparação ao euro e ao dólar.
O fenômeno tem incidência direta sobre os preços, com uma inflação que já supera 8%.
A situação no leste da Ucrânia permanece tensa e os combates foram retomados na segunda-feira, após um fim de semana de relativa calma.
Em Donetsk, os confrontos prosseguiam na área próxima do aeroporto.
Com 86% dos votos apurados, a vitória eleitoral das forças pró-Ocidente foi confirmada.
A Frente Popular do primeiro ministro Arseni Yatseniuk lidera com 22% dos votos, seguida pelo bloco do presidente Petro Poroshenko (21,7%).
Ambos terão que trabalhar para formar uma coalizão que incluirá provavelmente integrantes do Samopomitch (10,9%), um movimento que reúne jovens que participaram nos protestos pró-Europa da praça Maidan de Kiev, e talvez o partido da ex-primeira-ministra Yulia Timoshenko (5,7%).