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Rússia e Ucrânia entram em acordo sobre comboio humanitário

Veículos serão inspecionados e, depois, a Cruz Vermelha deve distribuir seu conteúdo aos civis do leste ucraniano

16 ago 2014 - 20h08
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Ucrânia disse que a segurança do comboio, que deve passar sem escolta militar por zonas de conflito, é responsabilidade de Moscou
Foto: Maxim Shemetov / Reuters

Rússia e Ucrânia concordaram neste sábado sobre o procedimento a ser adotado pelo comboio humanitário russo para atravessar a fronteira com a Ucrânia, embora as garantias de segurança ainda sejam insuficientes - afirmou um representante da Cruz Vermelha.

O próximo passo é a aprovação, por parte de Kiev, da entrada dos caminhões com ajuda humanitária. Os veículos serão inspecionados e, depois, a Cruz Vermelha deve distribuir seu conteúdo aos civis do leste da Ucrânia. Há quatro meses, as forças ucranianas enfrentam separatistas pró-russos nessa região.

"Os dois governos concordaram sobre como proceder para a inspeção da carga e para preparar o comboio", declarou à imprensa Pascal Cuttat, chefe da delegação regional do Comitê Internacional da Cruz Vermelha que cobre Rússia, Bielorrússia, Moldávia e Ucrânia.

"Nesse ponto, o elemento principal que falta são as garantias de segurança", frisou Cuttat.

As autoridades ucranianas disseram que a segurança do comboio, que deve passar sem escolta militar por zonas de conflito, é responsabilidade de Moscou. Os jornalistas da AFP constataram várias explosões no lado ucraniano da fronteira e, próximo dela, do lado russo, viam-se blindados e veículos militares circulando.

"Esperamos agora o sinal verde para a entrada das mercadorias, o qual deve vir de Kiev. Uma vez que esse sinal verde tenha sido obtido, poderemos começar o procedimento de controle", explicou o representante da Cruz Vermelha.

Cerca de 300 caminhões russos com 1.800 toneladas de ajuda humanitária - segundo Moscou - continuavam neste sábado estacionados a 30 quilômetros da passagem fronteiriça, na localidade russa de Kamensk-Shakhtinski.

A Cruz Vermelha ficará responsável pelo comboio na Ucrânia e exigia um acordo entre ambos os lados antes de inspecionar a carga.

Depois do acordo, a inspeção será realizada no posto fronteiriço de Donetsk, localidade ucraniana homônima de um dos bastiões pró-russos na Ucrânia, completou Cuttat, informando ainda que a delegação recebeu "uma lista global" sobre o conteúdo dos caminhões.

Os países ocidentais continuam tentando apaziguar a tensão no leste da Ucrânia, com o retorno das negociações diplomáticas entre Kiev e Moscou. Neste domingo, os ministros das Relações Exteriores russo e ucraniano vão se reunir com seus colegas francês e alemão, em Berlim.

Em uma conversa por telefone com a chanceler alemã, Angela Merkel, o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, manifestou seu desejo de participar da próxima reunião do Conselho Europeu, em 30 de agosto, para "informar os dirigentes da União Europeia (UE) sobre a situação na Ucrânia" - segundo um comunicado divulgado pela presidência.

A tensão aumentou na sexta-feira quando Kiev disse ter destruído parte de uma coluna de blindados russos em seu território, o que provocou uma onda de indignação nos países ocidentais. A Rússia negou ter enviado tropas para a Ucrânia.

Em outro telefonema hoje, entre o vice-presidente americano, Joe Biden, e o presidente ucraniano, ambos consideraram que o envio de colunas de blindados russos para a Ucrânia e a entrega de armas sofisticadas para as forças separatistas são incompatíveis com o desejo de melhorar a situação humanitária da população do leste do país.

Biden e Poroshenko reiteraram seu apelo a uma solução diplomática à crise, convidando a Rússia a aceitar o começo de negociações, de acordo com um comunicado divulgado neste sábado pela Casa Branca.

Também neste sábado, o presidente francês, François Hollande, reiterou seu apelo à Rússia para que se comprometa "a respeitar a integridade territorial da Ucrânia".

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Em um vídeo divulgado na sexta-feira, o líder dos separatistas pró-Moscou em Donetsk, Alexandre Zakharchenko, declarou ter recebido "150 equipamentos militares, entre eles, 30 tanques e outros blindados, e cerca de 1.200 homens" treinados durante quatro meses no território russo.

Neste sábado, o Exército ucraniano tomou dos separatistas a cidade de Khdanivka, 45 quilômetros ao noroeste de Donetsk, e bombardeou o leste desse município e da localidade vizinha de Makiivka.

Os disparos de artilharia e as explosões registradas durante toda a noite mataram quatro civis, relataram as autoridades locais.

Em Lugansk, outro bastião rebelde cercado pelo Exército ucraniano, a organização Human Rights Watch (HRW) evocou uma situação humanitária "muito difícil". Essa cidade se encontra há semanas sem água, energia elétrica, ou rede telefônica.

A HRW também denunciou o uso de armas pesadas por parte de ambos os lados em áreas habitadas, o que provocou a morte de dezenas de civis nos últimos dias.

Estados Unidos e França pediram "moderação" a Kiev para limitar o número de vítimas civis em sua ofensiva contra os separatistas pró-russos do leste do país. Em quatro meses, mais de duas mil pessoas morreram.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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