Saiba quem são os 17 mortos nos ataques em Paris
Ataque ao semanário Charlie Hebdo na quarta-feira deixou 12 pessoas mortas; um tiroteio na quinta-feira, matou uma policial. Na sexta-feira, um sequestro seguido de tiroteio deixou 4 vítimas fatais
A França viveu uma semana violenta. Há sete dias do primeiro ataque, em Paris, relembramos as vítimas fatais dos episódios violentos que atingiram os franceses na quarta, quinta e sexta-feira.
Charlie Hebdo
O ataque à revista satírica Charles Hebdo deixou 12 mortos e 11 feridos, quatro deles em estado grave. O atentado aconteceu pela manhã, durante a reunião editorial da revista. Dois atiradores teriam efetuado os disparos, de acordo com o relato de um sobrevivente.
Entre os mortos, estão os principais cartunistas da França.
Confira, abaixo, o perfil das vítimas.
Charb
(Foto: Reuters/Jacky Naegelen)
Stéphane Charbonnier, mais conhecido como "Charb", tinha 47 anos. Ele já havia recebido ameaças de morte no passado e vivia sob proteção policial. Um defensor contumaz da abordagem provocativa da revista de esquerda, ele rejeitava se curvar aos críticos.
"Eu não tenho filhos, não tenho mulher, não tenho carro, não tenho dinheiro no banco", disse Charb certa vez ao jornal francês Le Monde. "Talvez seja um pouco arrogante dizer isso, mas eu prefiro morrer de pé a viver de joelhos".
Depois do ataque a bomba à sede da revista em 2011, em decorrência da publicação de charges representando o profeta Maomé, ele disse em entrevista à BBC que o ataque tinha como alvo a liberdade de expressão.
Na ocasião, Charb culpou "os idiotas extremistas" que, em sua avaliação, não representavam a população muçulmana francesa.
A revista, dizia o editor, estava certa em desafiar os islamistas para "tornar a vida deles difícil, tanto quanto a nossa".
Cabu
(Foto: Reuters/Benoit Tessier)
Aos 76 anos, "Cabu" era um dos mais populares cartunistas da França, com uma carreira de mais de seis décadas.
Nascido em Châlons-sur-Marne, Cabu publicou seus desenhos pela primeira vez na década de 50.
Servindo como militar pela França durante a Guerra de Independência da Argélia (1954-1962), ele desenhava charges para a revista das Forças Armadas Bled e outras publicações.
Em 1960, ele tornou-se co-fundador da revista Hara-Kiri, uma precursora da Charlie Hebdo.
Seus personagens populares incluíam o 'Grand Duduche', um estudante loiro e magricelo, que se assemelhava ao próprio cartunista, e 'Mon Beauf', uma caricatura do típico homem francês.
"Algumas vezes a piada pode machucar, mas a piada, o humor e a sátira são nossas únicas armas", dizia ele.
Georges Wolinski
(Foto: AP/Lionel Cironneau)
Wolinski, mais conhecido como "Wolin" por seus amigos, tinha 80 anos e era considerado um dos maiores nomes do desenho mundial.
O chargista nasceu na Tunísia, filho de pais judeus. Seu pai foi assassinado em 1936, e Georges ─ na época apenas um bebê ─ disse certa vez: "O fantasma do meu me assombrou por toda a vida".
Ele mudou-se para a França em 1940 para estudar arquitetura, mas mais tarde ficou obcecado pelas charges.
Na década de 60, Wolinski começou a contribuir ─ normalmente abordando temas eróticos e políticos ─ para a Hara-Kiki e outras publicações do gênero.
Em 2005, ele recebeu a maior condecoração francesa, a Legião de Honra.
Logo depois de saber que seu pai havia morrido, a filha de Wolinkski, Elsa, escreveu nas redes sociais "Meu pai se foi. Mas não Wolinski" junto com uma foto que retrata a mesa de trabalho de seu pai vazia.
Segundo o jornal francês Le Parisien, o cartunista era um famoso "fanfarrão" e um "bon vivant".
Crítico mordaz das religião, ele disse certa vez que o "paraíso é cheio de idiotas que acreditam que ele existe".
Bernard Verlhac
(Foto: Reprodução/Twitter)
"Tignous", de 57 anos, também contribuía para as revistas Marianne e Fluide Glacial.
Verlhac ganhou o apelido ("Tignous" ou "pestinha"), pelo qual se tornaria conhecido, de sua avó.
Um integrante do grupo de artistas "Cartunistas para a Paz", seu trabalho tornou-se famoso pelos fortes ataques à hipocrisia.
Uma de suas charges mais memoráveis, segundo o jornal francês Le Monde, retratava um homem rico perguntando: "Em uma época em que todos corremos o risco de morrer de gripe aviária, você está obcecado com meu salário exorbitante?"
Na noite antes de sua morte, ele enviou seu último desenho, supostamente uma caricatura do presidente francês, François Hollande, desejando Feliz Ano Novo, à 'Presse Judiciaire', a associação de jornalistas franceses que cobre assuntos ligados à Justiça.
Bernard Maris
(Foto: AP/Marthe Lemelle)
O economista francês Bernard Maris, de 68 anos, tinha uma coluna semanal na Charlie Hebdo chamada 'Oncle Bernard' ('Tio Bernard').
Ele falava regularmente sobre assuntos econômicos na rádio France Inter e era professor de economia na Universidade de Paris.
Maris também era membro do conselho-geral do Banque de France, o banco central francês.
"Bernard Maris era um homem de grande coração, de grande cultura e de grande tolerância", afirmou Christian Noyer, presidente do banco central francês. "Ele fará muita falta".
Mas Maris também era um homem de esquerda, um devoto de Karl Marx e John Maynard Keynes que criticava o euro e a sociedade de consumo, escreveu o Le Monde. Ele dizia ficar decepcionado sobre o que chamava de "a morte da esquerda" na França.
Honoré
(Foto: Reprodução/Twitter)
Honoré, como o cartunista de 73 anos era conhecido, era um colaborador regular da Charlie Hebdo, e um crítico contumaz da injustiça e do cinismo.
Seus desenhos também apareciam em várias outras publicações da França.
A gentileza e a generosidade do "gigante barbado" eram lendárias entre seus colegas, segundo a revista francesa Paris Match.
Michel Renaud
(Foto: Reprodução/Twitter)
Ligado ao festival Carnet de Voyage em sua cidade-natal, Clermont-Ferrand, Renaud estava visitando o escritório com um colega que sobreviveu ao assassinato em massa.
Aqueles que trabalham com ele no festival afirmaram estar "de luto", segundo um comunicado publicado no site do evento.
Elsa Cayat
(Foto: Reprodução/Twitter)
A única mulher entre as 12 vítimas, a psicanalista de 54 anos escrevia uma coluna quinzenal na revista, intitulada o 'Divã de Charlie'.
Seus artigos abrangiam desde assuntos como a autoridade parental às raízes do Holocausto, afirmou a revista francesa Madame Figaro.
Psicanalista famosa, ela tinha centenas pacientes, atraindo intelectuais por sua capacidade de analisar e ouvir as questões humanas, afirmou sua tia, Jacqueline Raul-Duval.
Uma de suas pacientes mais longevas, identificada apenas como Valérie, escreveu uma afetuosa homenagem em sua conta no Facebook na qual dizia: "Eu penso no marido de Elsa, em sua filha adolescente, em seu cachorro, nos pacientes que ela deixando sem seu espelho, sua família, seus amigos".
A prima da psicanalista, Sophie Bramly, afirmou que Elsa dizia temer ser morta por ser judia.
Ahmed Merabet
(Foto: Reprodução/Twitter)
O policial de 42 anos foi a primeira vítima fatal do atentado. Ele era muçulmano. Merabet é pai de duas crianças.
Frederic Boisseau
(Foto: Reprodução/La Repubublique)
O zelador de 42 anos estava na recepção quando os atiradores entraram no prédio, escreveu o Le Monde.
Casado, ele era pai de dois filhos.
Em um comunicado, o empregador de Boisseau, Sodexo, descreveu a morte de Boisseau como "uma vida perdida terrivelmente" e de maneira "injusta".
Franck Brinsolaro
(Foto: Reprodução/Ouest-France)
O policial Franck Brinsolaro, de 49 anos, havia sido incumbido de proteger Charb depois de ele ter recebido ameaças de morte. Era casado, com dois filhos.
Segundo um colega, o policial não teve nem tempo de reagir, sendo rapidamente morto pelos atiradores.
Em seu discurso de homenagem, o irmão de Brinsolaro, Philippe, que também é policial, falou sobre a importância do trabalho da polícia.
"Nunca devemos nos esquecer do que aconteceu ontem (quarta-feira), independente do que acontecer depois – um policial, quando necessário, porá sua vida em perigo quando a segurança do país estiver em jogo. E hoje eu quero homenagear todos os meus colegas, todos aqueles que acordam todos os dias sabendo que terão um trabalho difícil pela frente".
Mustapha Ourrad
(Foto: Reprodução/Twitter Taxis-FR)
Chegando à cena do ataque, o policial de 42 anos abriu fogo contra os atiradores, mas foi ferido na troca de disparos, informou o jornal francês Le Figaro.
Deitado na calçada e agonizando, Merabet foi morto com um tiro fatal na cabeça à queima roupa.
Um vídeo amador capturou o momento em que o policial foi assassinado.
Ele era muçulmano ─ o que acabou sendo usado por blogueiros para defender a comunidade islâmicos do que chamaram de atos terroristas.
A hashtag #JeSuisAhmed ("Eu sou Ahmed") circulou nas redes sociais em sua homenagem. "Em sua memória, não permitiremos que pessoas machuquem e insultem a comunidade muçulmana por causa desse ato terrorista. Você é um herói", escreveu um usuário no Twitter.
Merabet havia sido recentemente promovido à Polícia Judiciária. O representante do sindicato da polícia, Rocco Contento, descreveu o policial como "alguém muito discreto e conscienciosa".
Tiroteio na periferia
(Foto: Reprodução/Twitter)
Clarissa Jean-Philippe, 26 anos, foi morta por Amedy Coulibaly em Montrouge, na periferia ao sul de Paris, na última quinta-feira (8).
Ela era policial e pode ter evitado um ataque contra uma escola próxima, o que uma investigação poderá confirmar, segundo revelou o presidente francês François Hollande durante cerimônia de enterro.
Sequestro no mercado judeu
(Foto: Reprodução/Twitter)
Os quatro judeus que morreram durante um sequestro em um mercado kasher, em Paris, na última sexta-feira são Yohan Cohen, 22 anos, Philippe Braham, 45 anos, François-Michel Saada, 64 anos, e Yoav Hattab, 21 anos.
O agressor, Amédy Coulibaly, que também teria sido o assassino da policial Clarissa Jean-Philippe, na quinta-feira, foi morto por policiais no dia do ataque aos judeus.