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Saída do Reino Unido da UE é bom ou ruim para o Brasil?

22 jun 2016 - 17h03
(atualizado às 17h03)
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Foto: ASCOM/VPR

Os britânicos preparam-se para decidir, nesta quinta-feira (23), se desejam continuar ou não na União Europeia - o tão falado Brexit. Para aumentar o suspense, o Reino Unido chega às vésperas do referendo praticamente dividido entre os favoráveis e os contrários à ruptura. Embora cause calafrios no mercado financeiro, a saída do Reino Unido pode ser um bom negócio para o Brasil - no longo prazo.

"Isso poderia estreitar ainda mais as relações com o Brasil", afirma Otto Nogami, professor de economia no MBA do Insper. Atualmente, a Grã-Bretanha sofre com as limitações impostas pela União Europeia para fechar acordos bilaterais. É a mesma dificuldade que o Brasil enfrenta em relação ao Mercosul. Sem a sombra do bloco europeu, o Reino Unido ficaria mais livre para cuidar de seus próprios interesses.

Seria o momento certo para que o Brasil se aproximasse: com o governo em exercício de Michel Temer, a política externa do país está voltando a focar em acordos comerciais com os países desenvolvidos - algo que foi deixado em segundo plano no governo da presidente afastada Dilma Rousseff.

É claro que o Brasil não será o único país interessado em se aproximar do Reino Unido. É preciso lembrar que 53 nações e territórios integram a Commonwealth, uma organização que reúne as ex-colônias britânicas.

Cliente gold

Mesmo assim, o Brasil não faz feio no comércio bilateral. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, entre janeiro e maio, o saldo comercial acumulado com o Reino Unido é de quase US$ 112 milhões. Ao contrário do que costumamos ver com outros países, soja, minério de ferro e carnes não são o carro-chefe das exportações para a terra da Rainha Elizabeth. O que mais vendemos para lá é ouro, com 29% de participação na receita. Não é à toa que as empresas que mais exportam para lá são as unidades brasileiras da sul-africana AngloGold; a canadense Kinross Gold; e a Serra Grande Mineração, controlada pela Kinross.

É verdade que a eventual saída do Reino Unido da União Europeia não será indolor para a economia global - e, portanto, para o Brasil. Segundo Nogami, caso isso ocorra, a tendência é que o euro se enfraqueça, o que mudará muito o fluxo comercial em todo o planeta. "Mesmo fora da Zona do Euro, o Reino Unido faz parte do tripé que sustenta a União Europeia, ao lado da França e da Alemanha", afirma o professor do Insper.

Mas nem tudo é motivo de otimismo. Se, no médio e longo prazo, o Brasil poderia se beneficiar com o aumento das relações comerciais, no curto prazo, seria chacoalhado pelo mesmo nervosismo que afetariam outros países. O próprio Banco da Inglaterra alertou que sair do bloco de 28 países causaria danos a todos. O aumento dos prêmios de risco para a concessão de créditos aos governos e empresas britânicas e europeias já é dada como certa, caso o Brexit se confirme.

Efeito bumerangue

Isso atrapalharia ainda mais os esforços de retomada da economia europeia, que ainda se ressente da crise econômica global que eclodiu em 2008, na esteira do estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos. Desde então, os governos europeus injetaram rios de dinheiro na economia, a fim de conter a recessão. As economias mais fracas, como a grega e a espanhola, chegaram à beira da moratória e foram socorridos pelos países mais sólidos, como Alemanha, França e a própria Inglaterra.

Agora, os ingleses podem fazer falta no momento em que a Europa ainda patina, a China desacelera e os Estados Unidos ensaiam novas altas da taxa de juros. Tudo isso, somado aos milhares de refugiados do Oriente Médio e da África que desembarcam diariamente na sua costa. É improvável relações comerciais entre britânicos, europeus e brasileiros passem ilesas por isso. Resumindo: o que o Brexit pode nos dar com uma mão, talvez nos tire com a outra.

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