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Sátiras escrachadas são marca de revista atacada em Paris

Charlie Hebdo usa escárnio e charges ácidas para expressar seu ponto de vista

7 jan 2015 - 14h56
(atualizado às 15h12)
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<p>Capa da revista Charlie Hebdo</p>
Capa da revista Charlie Hebdo
Foto: BBC Brasil / Reprodução

O atentado desta quarta-feira foi o mais violento, mas não é o primeiro ataque contra a sede da revista satírica francesa Charlie Hebdo, em Paris.

Com cerca de três décadas de história, a Charlie Hebdo sempre incomodou alguns grupos ao desafiar tabus e usar o escárnio e a sátira escrachada para expressar seu ponto de vista.

Em 2011, a sede da revista foi atacada com uma bomba incendiária depois de ter publicado na capa uma charge de Maomé com a manchete "Charia Hebdo" - em referência à lei islâmica.

Em 2006, muitos muçulmanos se irritaram com o fato de a publicação ter reimpresso as charges do profeta originalmente publicadas no jornal dinamarquês Jyllands-Posten. Na época, a polícia teve de ser mobilizada para proteger a redação.

O editor-chefe da publicação, Stephane Charbonnier, morto no ataque, já havia recebido ameaças de morte e andava com guarda-costas há três anos.

Revolução Francesa

Segundo o correspondente da BBC em Paris, Hugh Schofield, a Charlie Hebdo é parte de uma longa tradição do jornalismo francês que remonta às publicações que satirizavam Maria Antonieta no período que precedeu a Revolução Francesa.

Essa tradição combinaria um radicalismo de esquerda com um tom provocativo, com sátiras que muitas vezes beiram o obsceno. No século 18, essas sátiras tinham com alvo a família real.

Algumas publicações da época traziam relatos - muitas vezes ilustrados - de supostas extravagâncias sexuais e atos de corrupção dos integrantes da corte de Versalhes.

Hoje, os alvos são muitos: políticos, a polícia, os banqueiros e a religião.

Mas a imprensa satírica francesa ainda é marcada pelo mesmo espírito de insolência que no passado foi usado para colocar em xeque as estruturas do antigo regime. Para Schofield, a decisão da Charlie Hebdo de zombar do profeta Maomé é coerente com a sua história e razão de ser.

Criada em 1969 com o nome Hara-Kiri Hebdo, a revista provocou a fúria do governo um ano depois ao ironizar a morte do ex-presidente e herói de guerra francês Charles de Gaulle, na cidade de Colombey, fazendo menção a um trágico incêndio em uma discoteca, que havia matado mais de 100 pessoas dias antes. "Balada trágica em Colombey - um morto", anunciou.

Depois disso, a Hara-Kiri foi banida pelas autoridades francesas. Mas seus integrantes a relançaram com o novo nome.

Em 1981, a publicação da revista foi suspensa por falta de recursos e só seria retomada em 1992.

Visibilidade

A Charlie Hebdo nunca teve uma grande tiragem. O que faz com que seja tão incômoda é a visibilidade: com grandes charges coloridas e manchetes incendiárias, a revista chama a atenção em bancas de jornal e livrarias.

As charges provocativas são a marca registrada. Entre as publicadas pela revista nos últimos anos há desde policiais segurando cabeças decepadas de imigrantes até freiras se masturbando e papas usando preservativos.

A Charlie Hebdo é constantemente comparada com sua rival, mais popular, a Le Canard Enchaine. As duas publicações procuram desafiar o status quo.

Mas enquanto a Le Canard Enchaine aposta nos furos de reportagem e na revelação de segredos guardados a sete chaves, a Charlie Hebdo lança mão do escárnio e de um humor muitas vezes polêmico.

Em algumas ocasiões as polêmicas também dividiram a equipe de jornalistas da revista. Em um caso que teve alguma repercussão, um editor de longa data chegou a se demitir depois de uma divergência com outros editores sobre antisemitismo.

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