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Snowden acusa Reino Unido de espionar comunicações com fibra ótica

Jornal britânico The Guardian publicou declarações do ex-consultor acusado de espionagem nos Estados Unidos

22 jun 2013 - 16h10
(atualizado às 16h58)
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Eric Snowden em hotel de Hong Kong em imagem divulgada pelo jornal The Guardian
Eric Snowden em hotel de Hong Kong em imagem divulgada pelo jornal The Guardian
Foto: AP

Os serviços britânicos de inteligência tiveram acesso aos cabos com fibra ótica e desempenharam um papel importante na vigilância das comunicações mundiais, segundo documentos vazados por Edward Snowden ao Guardian que indignaram os defensores das liberdades individuais.

Segundo o ex-consultor, acusado de espionagem nos Estados Unidos por ter divulgado programas norte-americanos de vigilância das comunicações, este fenômeno não é "só um problema norte-americano".

"O Reino Unido desempenha um papel predominante", declarou Snowden, citado sábado pelo jornal britânico The Guardian. "São piores que os norte-americanos", acrescentou, em relação ao Quartel Geral de Comunicação do Governo (GCHQ), serviço britânico de escutas.

Uma porta-voz da agência britânica afirmou que a GCHQ respeita "escrupulosamente" a lei. "Não comentamos questões relacionadas à inteligência. Nossas agências de inteligência continuam a agir respeitando a lei", se limitou a declarar.

Em um sinal de crescente tensão internacional pelo caso, a Alemanha disse, neste sábado, que a Europa precisa que o Reino Unido esclareça estas últimas revelações. A ministra da Justiça, Sabine Leutheusser-Schnarrenberger, acrescentou que certamente as acusações seriam uma "catástrofe".

Segundo o jornal britânico, o GCHQ teve acesso aos cabos transatlânticos com fibra ótica que permitem o tráfego na Internet e nas ligações telefônicas, por "acordos secretos" com empresas privadas, e compartilha dados obtidos com a Agência de Segurança Nacional norte-americana (NSA).

O GCHQ pode armazenar, por um período de até 30 dias, os dados obtidos por meio de redes de cabos de fibra ótica, a fim de analisá-los no âmbito de uma operação chamada "Tempora", que começou há 18 meses, indicou o jornal neste sábado.

O diretor da comissão parlamentar britânica encarregada da informação e da segurança, Malcolm Rifkind, disse esperar ter uma resposta por parte do GCHQ sobre este caso nos próximo dias. "A pergunta chave não é tanto saber a quantidade de dados que (o GCHQ) pode coletar em teoria, mas sim ao que pode ter acesso, se é uma intromissão na vida privada dos cidadãos", resumiu na BBC, acrescentando que a comissão poderia decidir perguntar diretamente ao diretor do GCHQ e se deter, sobre "todo documento que permita esclarecer a situação".

A oposição trabalhista informou que as informações do Guardian destacavam a "urgência e a importância do trabalho sobre este tema por parte da comissão sobre a inteligência e a segurança", enquanto os militantes para a proteção da vida privada expressaram sua preocupação.

"Se o GCHQ interceptou um grande número de comunicações de pessoas inocentes no marco de uma operação de grande envergadura, não vejo como isso pode cumprir com o procedimento que prevê uma autorização (governamental) para cada interceptação de comunicação individual", declarou o diretor da associação Big Brother Watch, Nick Pickes. "Este tema deve ser tratado urgentemente no Parlamento", disse.

Shami Chakrabarti, diretora de Liberty, outra associação de proteção das liberdades individuais, se mostrou "escandalizada, mas não surpresa" pelas informações do Guardian e acusou o GCHQ de realizar "uma interpretação muito generosa da lei". "Exploram o fato de que a internet é internacional por natureza", disse na BBC.

Segundo o Guardian, os dados obtidos incluem gravações de conversas telefônicas, o conteúdo de e-mails, mensagens do Facebook e o histórico da atividade online de um internauta.

Os documentos consultados pelo Guardian mostram que, em 2012, a agência britânica tinha acesso a mais de 200 cabos com fibra ótica e poderia tratar 600 milhões de comunicações telefônicas diárias.

Os dois principais componentes do programa de vigilância de GCHQ são "Dominar Internet" ("Mastering the Internet") e a "Exploração das telecomunicações mundiais" ("Global Telecoms Exploitation") e são, indica o Guardian, realizadas sem "que o público tenha o menor conhecimento".

Em declarações ao South China Morning Post, Snowden afirmou também que o governo norte-americano está hackeando companhias de celulares chineses para obter dados de milhões de mensagens de texto. Espiões dos EUA também teriam hackeado a famosa universidade de Tsinghua em Pequim e a operadora de redes de fibra ótica asiática Pacnet, disse o jornal nesta edição deste sábado.

Neste sábado, Snowden recebeu o apoio do fundador do WikiLeaks, Julian Assange, que solicitou a um "país corajoso" a ser voluntário para conceder asilo ao norte-americano. "Que país corajoso o apoiará e reconhecerá o serviço que presta à humanidade?", questionou Assange. "Edward Snowden é um dos nossos. Bradley Manning é um dos nossos. São jovens dotados para a tecnologia, que pertencem à geração que foi traída por Barack Obama", acrescentou.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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