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Sobe para 21 o número de mortos em protestos na Ucrânia

Ao menos 21 pessoas, sendo nove policiais e 12 civis, morreram nas últimas 24 horas nos violentos distúrbios em Kiev, a capital da Ucrânia, segundo informações atualizadas nesta quarta-feira pelos ministérios de Interior e Saúde do país

18 fev 2014 - 21h12
(atualizado em 19/2/2014 às 03h38)
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Manifestantes contra o governo se juntam perto do fogo em acampamento montado durante os confrontos com a polícia, em Kiev
Manifestantes contra o governo se juntam perto do fogo em acampamento montado durante os confrontos com a polícia, em Kiev
Foto: Reuters

A polícia antidistúrbios da Ucrânia voltou a entrar em confronto com manifestantes que ocupavam uma praça central de Kiev na madrugada desta quarta-feira (horário local), depois do dia mais sangrento desde que a ex-república soviética, que se tornou o centro de uma disputa geopolítica entre Rússia e Ocidente, conquistou sua independência há mais de 20 anos. Pelo menos 12 manifestantes e nove policiais foram mortos durante a violência que eclodiu na capital ucraniana nessa terça-feira.

A polícia avançou em direção à Praça da Independência, reduto de três meses de protestos contra o presidente do país, Viktor Yanukovich, mas os manifestantes, alguns armados com paus e usando capacetes e armaduras, tentaram se manter firmes.

Era possível ver muita fumaça saindo da queima de tendas e pilhas de pneus e madeira, enquanto milhares de manifestantes ficaram isolados no centro da praça, disse um cinegrafista da Reuters. Vários andares de um edifício sindical, usado como base antigoverno, estavam em chamas.

Pelo menos 14 manifestantes e sete policiais morreram na terça-feira durante horas de violência entre forças de segurança e civis. Muitos foram mortos por tiros e centenas de pessoas ficaram feridas, sendo dezenas em estado grave, de acordo com a polícia e representantes da oposição.

Governos ocidentais alarmados com a situação pediram contenção e diálogo. O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, telefonou para o presidente Yanukovich, pressionando para que ele recue as forças do governo e exerça a máxima contenção, segundo a Casa Branca.

Mais cedo, o serviço de segurança do Estado fixou um prazo para os manifestantes encerrarem a desordem ou, do contrário, enfrentariam "duras medidas". Então, a polícia avançou em direção à Praça da Independência e iniciou sua ofensiva nas primeiras horas da quarta-feira lançando granadas de efeito moral.

As manifestações irromperam por todo o país no fim do ano passado depois que Yanukovich cedeu à pressão russa e abandonou um acordo comercial abrangente com a União Europeia (UE), decidindo, em vez disso, aceitar um pacote de ajuda da Rússia para a economia ucraniana, fortemente endividada.

Potências ocidentais alertaram Yanukovich contra a tentativa de esmagar os manifestantes pró-europeus, instando-o a se voltar para a Europa e a perspectiva de uma recuperação econômica com o apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI), enquanto a Rússia os acusava de intromissão nos assuntos internos ucranianos.

Enquanto as forças de segurança avançavam, um dos líderes oposicionistas, Vitaly Klitschko, reagiu de modo desafiador, dizendo a seus seguidores na praça: "Nós não vamos sair daqui. Esta é uma ilha de liberdade. Nós vamos defendê-la."

No entanto, Klitschko, campeão mundial de boxe que se tornou político, chegou ao gabinete de Yanukovich para conversações no fim da noite, disse a porta-voz dele. Segundo a mídia local, ele deixou a reunião sem chegar a um acordo sobre como acabar com a violência.

"Infelizmente, eu não trago nada positivo das negociações", disse Klitschko, de acordo com o site Ukrainska Pravda. Ele disse que deixou a reunião depois que o presidente exigiu que a praça central de Kiev ocupada por manifestantes antigoverno fosse esvaziada incondicionalmente.

Um pouco antes, o Serviço de Segurança do Estado, em um comunicado conjunto com o Ministério do Interior, sinalizou as intenções do governo. "Se por volta das 18h os distúrbios não terminarem, nós seremos obrigados a restabelecer a ordem por todos os meios previstos na lei", disseram eles.

A polícia antidistúrbios avançou horas depois de o governo russo ter entregue à Ucrânia 2 bilhões de dólares em ajuda para sua enfraquecida economia. A Rússia estava segurando o montante enquanto não fossem tomadas ações decisivas para esmagar os manifestantes.

Rezando pela Ucrânia

O comissário de expansão da União Europeia (UE), Stefan Fuele, disse ter conversado com o primeiro-ministro interino da Ucrânia, que lhe deu garantias de que as autoridades tentariam evitar o uso de armas de fogo. "Para o bem dos ucranianos e para o bem do futuro daquele país, vou rezar para que ele esteja certo", disse Fuele em um evento público em Bruxelas.

Uma porta-voz da polícia deu uma variedade de razões para as mortes, incluindo ferimentos de bala, um acidente de trânsito e ataques cardíacos. Um manifestante morreu em um incêndio.

Um grupo militante de extrema-direita aumentou as tensões ao apelar às pessoas que detêm armas que fossem à Praça da Independência - também conhecida como Maidan - para proteger o local das forças de segurança.

Enquanto manifestantes e policiais se enfrentavam nas ruas de Kiev, a Rússia definia a escalada da violência como o "resultado direto da conivência de políticos ocidentais e estruturas europeias que fecharam seus olhos... para as ações agressivas de forças radicais".

A chefe de Política Externa da UE, Catherine Ashton, que tenta mediar uma transição compartilhada de poder, pediu aos líderes da Ucrânia que "resolvam a origem das causas da crise".

O ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, telefonou ao chanceler ucraniano para alertar contra o retorno à violência e fez um apelo ao governo para continuar se empenhando em uma solução política.

"As notícias de uma nova escalada da violência são alarmantes. Nós estamos chocados em ouvir sobre mortos e feridos hoje", declarou Steinmeier em um comunicado, indicando a possibilidade de sanções da UE contra os líderes ucranianos.

"Os responsáveis por adotar quaisquer decisões que conduzam a mais derramamento de sangue têm de saber que a reserva que a Europa mostrou em termos de sanções pessoais será reconsiderada", acrescentou.

A injeção de US$ 2 bilhões na segunda-feira, na retomada de um pacote de ajuda de 15 bilhões de dólares, foi interpretada como um sinal de que a Rússia acreditava que Yanukovich tinha um plano para pôr fim aos protestos e havia abandonado qualquer ideia de incorporar os líderes oposicionistas ao governo.

Embora o presidente russo, Vladimir Putin, pareça ter ganhado, por ora, a batalha por influência na Ucrânia, os manifestantes que ocupam o centro da capital não vão sair calmamente.

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