O primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan e a oposição disputam neste sábado os últimos votos dos eleitores, na véspera de uma eleição municipal crucial, em um contexto de perseguição policial após o vazamento de uma gravação de uma reunião secreta sobre a Síria.
Forçado a uma pausa de 24 horas por ter perdido a voz, Erdogan deve retomar sua campanha para uma última ofensiva dedicada exclusivamente a grande cidade de Istambul, cuja escolha eleitoral dará o tom da eleição em todo o país.
"Quem vencer em Istambul, conquistará a Turquia", repetiu em diversas ocasiões Erdogan, que foi prefeito da maior cidade da Turquia.
O primeiro-ministro programou cinco discursos ao longo do dia, enquanto que o principal partido de oposição, o Partido Republicano do Povo (CHP) também escolheu encerrar sua campanha na megalópole com um grande comício.
Em Atasehir, Erdogan apelou os eleitores a votar em massa no domingo para "expor a traição" que tem sofrido, segundo ele. Ele defendeu, mais uma vez, a tese de conspiração orquestrada pelo pregador Fethullah Gülen, líder de um influente movimento religioso.
Candidato do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) no poder, o atual prefeito Kadir Topbas aparece à frente nas pesquisas de opinião de seu adversário do CHP, Mustafa Sarigül.
Após semanas de uma campanha tensa, com episódios de violência, a eleição de domingo se anuncia como um referendo para Erdogan, de 60 anos, cuja maioria islamo-conservadora reina sobre o país há doze anos.
Dez meses após as manifestações que deixaram o governo em alerta, Erdogan e seu Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), no poder desde 2002, encaram este teste eleitoral em uma posição desconfortável.
Desde 17 de dezembro, o chefe do partido islâmico conservador é alvo de denúncias de corrupção que lhe valeram críticas na Turquia e no exterior.
Estas acusações ganharam força com a publicação na internet de uma série de conversas telefônicas comprometedoras pirateadas.
Ao longo da campanha eleitoral, o primeiro-ministro tem se defendido denunciando "uma conspiração" organizada por seus antigos aliados da confraria do pregador muçulmano Fethullah Gülen e pediu a seus partidários a dar-lhe "uma boa lição" em 30 de março.
Esta disputa teve seu auge na quinta-feira com a publicação do áudio de uma reunião confidencial em que as autoridades turcas discutiam uma intervenção militar na Síria.
Nesta gravação pirata, quatro líderes turcos, entre eles o próprio ministro das Relações Exteriores e o chefe do serviço secreto (MIT) Hakan Fidan falam sobre a hipótese de uma operação para justificar uma intervenção militar da Turquia na Síria.
Após a abertura de uma investigação judicial por "espionagem e traição", um primeiro suspeito foi colocado sob custódia na sexta à noite em Ancara. Universitário especializado em questões de segurança, Önder Aytaç, foi libertado neste sábado, de acordo com a cadeia CNN-Türk.
A polícia turca procura outros suspeitos e também pessoas próximas ao movimento de Gülen.
Outubro de 2012 - o governo de Ankara proíbe uma marcha planejada para o Dia da República, sob a alegação de que serviços de segurança do Estado receberam a informação de que grupos pretendiam causar tumultos. Ainda assim, milhares de pessoas, incluindo o líder do maior partido da oposição, desconsideram a ordem e desafiaram os policiais, que reagiram com lançamento de jatos d'água
Foto: AFP
Fevereiro de 2013 - milhares de mulheres turcas protestam contra declaração do primeiro-ministro Erdogan de que considera o aborto um assassinato. Na Turquia, o aborto é legal nas 10 primeiras semanas de gestação quando há consentimento da mulher e do marido
Foto: AFP
Abril de 2013 - começam as escavações para a construção da controversa mesquita Camlica, em Istambul, de mais de 55 mil metros quadrados e com capacidade para até 30 mil fieis. O projeto recebe críticas da população, que, além de julgar a construção desnecessária, acredita que ela causará grandes danos ao meio ambiente
Foto: Reprodução
Abril de 2013 - conhecido mundialmente, o renomado pianista turco Fazil Say é condenado a 10 meses de prisão por insultar as crenças religiosas de uma parcela da população. O fato causa revolta de simpatizantes do músico, ateu e opositor de Erdogan
Foto: AFP
Maio de 2013 - policiais recorrem à violência para dispersar manifestantes que participam do May Day, na praça Taksim. A população protesta contra o fechamento da praça, considerada necessária pelo governo para a sua renovação
Foto: AP
Dois carros-bomba matam 52 pessoas e ferem outras 140 em Reyhanli, na fronteira com a Síria. O governo turco acusa o governo sírio de estar envolvido no atentado, mas moradores locais culpam a própria política turca
Foto: AP
Erdogan se encontra com o presidente Barack Obama para discutir, entre outros assuntos, a crise na Síria. Ambos reforçam o compromisso de derrubar o presidente Bashar al-Assad, apesar da crescente impopularidade de Erdogan entre os cidadãos turcos
Foto: AP
O governo turco aprova a lei que proíbe a venda de bebidas alcóolicas entre 22h e 6h, o patrocínio de eventos por empresas de bebidas e o consumo de álcool a menos de 100 metros de mesquitas. A lei é aprovada duas semanas após ser proposta, sem que a população tenha sido consultada
Foto: AP
Em resposta à advertência feita por Erdogan contra demonstrações de afeto em público, dezenas de casais organizam um beijaço em uma estação de metrô na cidade de Ankara
Foto: AP
Manifestantes ambientalistas acampam no Parque Gezi para evitar sua demolição. Conforme a manifestação é violentamente contida pela polícia, outros protestos se espalham em outras regiões
Foto: AP
Maio de 2013 - forças de segurança usam gás de pimenta e jatos d'água para dispersar manifestantes. Centenas de pessoas ficam feridas e dezenas são presas. O Ministro do Interior comunica que o uso desproporcional da força por parte dos policiais será investigado
Foto: AP
Junho de 2013 - o primeiro-ministro Erdogan critica as redes sociais , especialmente o Twitter, classificando o microblog como uma ameaça e uma "versão extrema da mentira". Grupos de manifestantes lotam a praça Taksim e há novos confrontos. A mídia pró-governo acusa a rede de TV americana CNN de mostrar a Turquia em estado de guerra civil
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Agosto de 2013 - pessoas formam correntes humanas para pedir paz e intervenção na Síria
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Dezembro de 2013 - escândalos de corrupção envolvendo o primeiro-ministro e seu filho vem à tona, e recomeçam os protestos contra o regime
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Janeiro de 2014 - ligações telefônicas publicadas na internet reforçam as acusações de corrupção contra o primeiro-ministro Erdogan, e o governo ameaça exercer maior controle sobre a rede, dando origem a novas marchas
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Março de 2014 - o Governo bloqueia o Twitter e, depois, o Youtube. Milhares de pessoas participam do funeral de um adolescente morto, que ficou meses em coma depois de ter sido atingido por uma lata de gás de pimenta durante manifestações contra o governo. A população pede a renúncia do primeiro-ministro Erdogan
Foto: AP
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