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Ucrânia anuncia medidas de exceção após morte de 26 pessoas em Kiev

Nas últimas semanas, a adoção de um eventual estado de emergência foi mencionado pelas autoridades ucranianas

19 fev 2014 - 16h46
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O governo ucraniano anunciou nesta quarta-feira, 19, uma série de medidas, no dia seguinte aos confrontos que deixaram pelo menos 26 mortos no centro de Kiev, incluindo uma mudança na cúpula das Forças Armadas e uma operação "antiterrorista" contra grupos radicais.

Um clérigo caminha em meio a pessoas dentro da catedral Mikhailovsky Zlatoverkhy, que tem servido de abrigo temporário aos manifestantes antigoverno, em Kiev
Um clérigo caminha em meio a pessoas dentro da catedral Mikhailovsky Zlatoverkhy, que tem servido de abrigo temporário aos manifestantes antigoverno, em Kiev
Foto: Reuters

O presidente Viktor Yanukovytch substituiu o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, depois de ter lançado uma operação de combate ao "terrorismo" que concede amplos poderes aos militares.

Yanukovytch nomeou Yuri Ilyin, chefe do Estado-Maior, no lugar de Volodymyr Zamana, segundo o texto do decreto publicado no site da Presidência, que não apresenta o motivo dessa nomeação.

Anteriormente, serviços de segurança ucranianos (SBU) tinham anunciado o início de uma ampla operação contra o "terrorismo" no país, tendo como alvos "os grupos extremistas e radicais que ameaçam com suas ações a vida de milhões de ucranianos".

Mais de 1.500 armas de fogo e 100.000 cartuchos de munições passaram pelas "mãos dos criminosos" desde terça-feira, indicou o SBU. Nas últimas semanas, a adoção de um eventual estado de emergência foi mencionado pelas autoridades ucranianas.

De fato, o Exército poderá utilizar a partir de agora suas armas para "limitar ou proibir a circulação de veículos e pedestres" como parte da operação "antiterrorista", de acordo com o Ministério da Defesa. Além disso, os militares poderão revistar e deter pessoas que cometerem "atos ilegais".

No centro da capital ucraniana, a situação parece mais calma, com centenas de pessoas na Praça da Independência - ou Maidan -, último refúgio dos opositores ao presidente Viktor Yanukovytch. "A próxima etapa será a guerra civil", considerou Igor, um opositor de 23 anos.

O registro mais recente do Ministério da Saúde indica 26 mortes desde a explosão de violência na terça-feira em Kiev, e 241 feridos hospitalizados, incluindo 79 policiais e cinco jornalistas.

Ao menos dez policiais estão entre os mortos, segundo o Ministério do Interior.

Um repórter do jornal Vesti morreu ao ser alvejado por disparos de arma de fogo perto do local dos confrontos, anunciou a publicação.

Um dos líderes da oposição, o campeão de boxe Vitali Klitschko, considerou nesta quarta que apenas a renúncia do presidente pode trazer calma para o país.

"O sangue correu pelas ruas de Kiev (...). Viktor Yanukovytch é responsável pelo assassinato de cidadãos pacíficos", declarou Klitschko em um vídeo divulgado no site do partido Udar.

As manifestações começaram em novembro, quando o governo decidiu repentinamente suspender as negociações de associação à UE e estreitar as relações econômicas com a Rússia.

Em um discurso à nação exibido durante a madrugada após um encontro infrutífero com líderes da oposição, o presidente do país acusou os manifestantes de terem ultrapassado os limites ao defenderem a "luta armada" para assumir o poder.

Os confrontos começaram na terça-feira nas imediações do Parlamento. Durante a noite, as forças de segurança iniciaram uma ofensiva com gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral para desocupar a Praça da Independência.

Mas na manhã desta quarta-feira, milhares de manifestantes permaneciam no local, diante das barreiras policiais.

Apesar das críticas da comunidade internacional, Yanukovytch havia exigido que os manifestantes abandonassem a praça, segundo os líderes da oposição após uma reunião na noite de terça.

A violência ameaça se alastrar para o restante da Ucrânia. Em Leopolis, reduto dos protestos no oeste do país, 5.000 manifestantes assumiram o controle das sedes do governo local e da Polícia, assim como de prédios militares e depósitos de armas.

Neste contexto de crise política, uma das piores atravessadas por esta ex-república soviética desde a sua independência em 1991, a União Europeia anunciou que estudará sanções contra os responsáveis pela violência.

A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, indicou que analisará junto às autoridades de segurança do bloco "todas as opções, incluindo sanções contra os responsáveis pela repressão e pelas violações aos direitos humanos na Ucrânia.

A chanceler alemã, Angela Merkel, anunciou na noite desta quarta-feira que havia conversado com o presidente russo, Vladimir Putin, e que ambos concordaram em "fazer o máximo para evitar uma escalada da violência" na Ucrânia, durante declarações concedidas à imprensa no Palácio do Eliseu, em Paris.

Angela Merkel disse ter "informado" ao presidente russo da viagem dos chefes da diplomacia francesa, Laurent Fabius; alemã, Frank-Walter Steinmeier; e polonesa, Radoslaw Sikorski, na quinta-feira a Kiev. "Nós decidimos manter contatos com a Rússia", acrescentou.

Fabius considerou em Paris que "é necessário restabelecer o diálogo político entra a oposição e o poder", na presença do secretário de Estado americano John Kerry. Os três ministros prestarão contas a seus colegas europeus, segundo fontes diplomáticas.

John Kerry afirmou, por sua vez, que o presidente ucraniano Viktor "Yanukovytch pode escolher entre proteger o povo ao qual serve- que é a escolha do compromisso e do diálogo - ou entre a violência e o confronto." "Acreditamos que a escolha seja clara", acrescentou Kerry.

"Desejamos que o presidente Yanukovytch reúna o povo, dialogue com a oposição, encontre meios para alcançar um compromisso", afirmou Kerry.

Ele afirmou estar "convencido (...) de que a violência pode ser evitada e que as aspirações do povo ucraniano podem ser ouvidas por meio do diálogo".

"Estamos discutindo a possibilidade de sanções ou outras medidas com nossos amigos na Europa e em outros países para tentar criar o ambiente propício a um compromisso", indicou Kerry.

"Todos nós ficamos consternados com as cenas de violência e com o nível de abuso que os cidadãos sofreram nas ruas nos últimos dias. Estamos com o povo ucraniano", acrescentou o secretário americano.

Já o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, fez um apelo à União Europeia, para que convença a oposição ucraniana a cooperar com as autoridades e se distanciar das forças radicais que querem um "golpe de Estado".

Lavrov pediu para que a UE "aproveite os contatos com a oposição para incitá-la a cooperar com as autoridades e a se distanciar das forças radicais que desencadearam confrontos sangrentos e que estão à caminho de um golpe de Estado", durante uma conversa por telefone com Frank-Walter Steinmeier.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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