Um ano depois de fugir da Ucrânia, presidente deposto fala em retorno
Viktor Yanukovich, ex-presidente ucraniano que fugiu para a Rússia há um ano depois de ser derrubado por meses de protestos de rua, disse estar pronto para voltar para a Ucrânia se a oportunidade surgir.
O líder pró-Rússia foi derrubado pela chamada revolta de Maidan (nome da praça que foi o centro dos protestos) em Kiev, contra sua decisão de recuar de um acordo que aproximaria o país de uma integração com a Europa. Em vez disso, o ex-presidente preferiu fortalecer os laços econômicos com Moscou.
Semanas depois de sua saída, a Rússia anexou a Crimeia, uma base da frota russa no Mar Negro, e separatistas pró-Moscou tomaram instalações-chave no leste ucraniano, o que levou a um conflito que já deixou mais de 5.000 mortos.
A Interpol colocou Yanukovich na lista internacional de procurados a pedido Kiev, sob a acusação de desvio de recursos e crimes financeiros. A Rússia, no entanto, deve recusar qualquer requisição para extraditá-lo, disse a agência de notícias Interfax no mês passado.
Yanukovich, que nega envolvimento em corrupção, disse numa entrevista transmitida pela TV neste sábado que lamenta não poder voltar ao país.
"Deus me deixou vivo. Então parece que sou necessário para algo. Tão logo haja uma possibilidade para eu retornar, eu vou voltar e farei tudo que puder para fazer a vida melhor na Ucrânia. Hoje, a principal tarefa é parar a guerra", declarou.
Yanukovich fugiu de Kiev de helicóptero depois de três dias de confrontos e ataques a tiros nos quais mais de cem civis foram mortos. Ele disse depois que fugira por que temia por sua vida.
Ele ainda é uma figura odiada na capital e em partes das regiões central e ocidental da Ucrânia, onde é responsabilizado pelos confrontos. Se retornasse, parece provável que seria preso e julgado.
Na sexta-feira, o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, declarou que registros telefônicos mostraram que há evidências de contatos regulares entre Yanukovich e serviços de segurança russos, o que revelaria "uma ligação russa clara" com os confrontos.
"Eles se prepararam para os ataques de forma antecipada e juntos", disse Poroshenko, segundo citação da Interfax. Ele acrescentou que um assessor do presidente Vladimir Putin havia comandado "grupos de atiradores estrangeiros".
Moscou disse que alegações de que um assessor do Kremlin estaria por trás de ataques não têm sentido.
Um acordo de paz foi negociado pela Alemanha e pela França neste mês numa tentativa de terminar com o conflito no leste da Ucrânia, mas o cessar-fogo tem sido violado.
No sábado, organizações pró-Kremlin fizeram uma manifestação em Moscou para condenar a queda de Yanukovich.
(Por Vladimir Soldatkin)