Um ano depois, França ainda sente efeitos dos atentados
Há 20 anos, François Pasteau dirige o pequeno restaurante L'Épi Dupin, no sul de Paris. Desde o começo, os turistas eram parte importante de sua clientela, sendo responsáveis por cerca de um quinto de seu faturamento. Foi assim até os atentados de 13 de novembro de 2015, em que terroristas mataram 130 pessoas na capital francesa.
"Depois dos atentados, os turistas se afastaram inicialmente, por medo de um novo ataque", diz Pasteau. "Como empresário, tem-se empregados a ser pagos e custos fixos a ser cobertos. Eu tive de tomar cuidado para que meu negócio não entrasse no vermelho."
Em consequência, o chef de cozinha congelou seus investimentos em novos materiais. Quando mais tarde um de seus funcionários pediu demissão, ninguém foi contratado para substituí-lo.
Após o 13 de Novembro, os próprios franceses ficaram tão chocados, a princípio, que muitos permaneceram em casa durante a noite. Mas depois de apenas algumas semanas do atentado, eles passaram a sair novamente. Até um pouco mais do que antes, diz Mark Watkins, da Coach Omnium, empresa de consultoria no ramo de turismo.
"Trata-se de um fenômeno psicológico conhecido", explica. "Depois de um primeiro momento de bloqueio, as pessoas de repente compram mais e vão com mais frequência a restaurantes. Elas supercompensam a interrupção."
Desde então, Pasteau também registrou um número um pouco maior de clientes franceses. Mesmo assim, ele não conseguiu compensar as quedas no faturamento devido à ausência de visitantes estrangeiros.
"Os turistas se dão ao luxo de algo mais, como, por exemplo, uma bela garrafa de vinho. Afinal de contas, estão de férias", afirma o chef. "Os clientes franceses, por outro lado, gastam menos no dia a dia - também porque a economia francesa não vai bem no momento, e eles, simplesmente, não dispõem de muito dinheiro.
Além da capital
Assim como Pasteau, muitos comerciantes franceses também foram afetados - principalmente em Paris e na Côte d'Azur. Ali, na cidade de Nice, um terrorista avançou com um caminhão sobre a multidão que comemorava o Dia da Bastilha, o feriado nacional francês, matando 84 pessoas em 14 de julho último.
Segundo estimativas, a economia da França perdeu bilhões de euro em receita como resultado da falta de turistas. Afetados estão sobretudo proprietários de restaurantes, hoteleiros e agentes de viagem, como explica Claude Boulle, presidente da associação comercial parisiense Alliance du Commerce. "Os taxistas, farmacêuticos e supermercados também sentiram que há menos turistas na cidade", afirma.
Por esse motivo, a sua associação exige agora do governo que reembolsem aos turistas uma parcela maior do Imposto sobre Valor Agregado (IVA). "Essa seria uma medida concreta que poderia trazer de volta os turistas a Paris."
Até agora, não somente o governo tomou medidas para recuperar turistas. Ele pretende gastar mais de 40 milhões de euros em segurança adicional e numa campanha de divulgação do país. Também a região da Île-de-France quer entrar em ação e pretende introduzir um passe para que o turista possa utilizar todos os transportes públicos e visitar as principais atrações turísticas.
A prefeitura de Paris iniciou a sua própria campanha. "Desde junho, investimos 2 milhões de euros ", diz Jean-François Martin, vice-prefeito de Paris e responsável, entre outros, pelo turismo. "Contatamos agentes de viagem no mundo todo e convidamos jornalistas a Paris para que vejam que a vida continua como antes. Também rodamos um filme sobre a cidade."
Boca a boca
Segundo a administração municipal, neste ano, a capital francesa recebeu cerca de 10% menos turistas. Martin afirma que Paris vai conseguir compensar essa perda - mesmo que sob uma condição.
"Não existe uma fórmula mágica quando se trata de turismo, e vai demorar um pouco até que recuperemos a nossa reputação e a confiança em Paris", afirma. "Mas acredito que, em nove meses, vamos ter tantos turistas quanto antes. É claro que só se não houver novos ataques."
Watkins coloca em dúvida se campanhas publicitárias podem trazer de volta os turistas para a França. "É como se alguém segurasse uma tela sobre a miséria e projetasse um belo filme sobre ela", afirma o especialista em turismo. "Todos sabem que a situação por trás dela não mudou fundamentalmente."
Para ele, portanto, só basta esperar e torcer para que a França não seja abalada por um novo atentado. Então o número de turistas deverá se estabilizar, em cerca de um ano, no mesmo nível de antes dos ataques, acredita Watkins.
Enquanto isso, o chef Pasteau faz a sua parte para atrair novamente a clientela internacional para o seu restaurante. "Eu sempre apostei muito em propaganda de boca. Os próprios turistas são os melhores embaixadores. E quando vejo algum deles no meu restaurante, então tento tratá-lo com o maior cuidado."