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Veterana do cerco de Stalingrado descreve horrores da guerra

1 fev 2013 - 14h31
(atualizado em 2/2/2013 às 08h03)
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Era junho de 1941, verão na Rússia, e Zoya Kornyakova, assim como muitos outros estudantes, se preparava para o fim do ano letivo. Naquele dia 21 de junho, a festa de graduação da 8ª série da jovem Zoya parecia mais um costumeiro rito de passagem na vida de qualquer adolescente, com música, família e amigos. “Nós dançamos a noite toda e estávamos todos felizes com o início do verão”, conta a um grupo de jornalistas a agora octogenária. No entanto, no dia seguinte chegaria a notícia do início da Frente Oriental, a parte mais sangrenta da Segunda Guerra Mundial.

"Dezenas de milhares iam morrendo pelas ruas. Em poucos dias, Stalingrado era uma cidade destruída"
"Dezenas de milhares iam morrendo pelas ruas. Em poucos dias, Stalingrado era uma cidade destruída"
Foto: Arquivo da Associação de Veteranos de Volgogrado / Divulgação

“Apesar de sermos jovens, todos os estudantes de Stalingrado (como era chamada a cidade de Volgogrado na época) queriam participar da guerra e ser úteis à Mãe Pátria”, explica Zoya. Em 1941, sua cidade, às margens do rio Volga, ainda estava longe da frente do combate e ninguém imaginaria a importância que a cidade chegaria a ter para a vitória contra a Alemanha nazista.

“O tempo ia passando e começamos a receber mais feridos do oeste da União Soviética. Eu era do Komsomol (organização juvenil do Partido Comunista da URSS) e ajudava a transportar as pessoas para os hospitais. E a cada dia a Wehrmacht (forças armadas alemãs) se aproximava mais de Stalingrado”.

A guerra chegou a Volgogrado no dia 23 de agosto de 1942. “Eu me lembro bem. Era um dia de sol e a cidade começou a ser bombardeada pelos alemães. Eles colocavam mais combustível nos aviões e voltavam pra lançar bombas em bairros residenciais, negócios... Muitas pessoas morreram. Dezenas de milhares iam morrendo pelas ruas. Em poucos dias, Stalingrado era uma cidade destruída”, conta Zoya.

Daí pra frente, a batalha de Stalingrado foi tomando a dimensão que a colocaria na história, com soldados e oficiais do III Reich chegando aos milhares à cidade. “Foram meses difíceis. A gente tentava comer e beber tudo o que era possível com medo de que depois já não houvesse”, relata Zoya emocionada. “Eu lembro que uma vez eu trouxe da rua um pedaço de pele de ovelha. Fervemos a pele na água e esta foi a nossa comida durante alguns dias”.

"Decidir o próprio destino"

Setenta anos após o fim da batalha, a memória de Zoya ainda guarda os detalhes dos últimos meses da vitória soviética e da cidade de Stalingrado, que, protegida por montes nevados, conseguiu vencer as forças alemãs. “O fim de cada dia era uma esperança para os que conseguiam sobreviver. Às vezes tínhamos alguns dias de descanso, mas depois, a guerra recomeçava. Minha mãe me via de volta a casa, viva, e desmaiava”.

Zoya mostra com orgulho as fotos e as inúmeras medalhas. Quase 760 mil pessoas receberam a medalha soviética pela defesa de Stalingrado e Zoya é uma delas. A cidade, que em 1961 passou a se chamar Volgogrado, teve que ser quase completamente reconstruída.

Na Rússia, a Frente Oriental da Segunda Guerra Mundial é ensinada até hoje nos colégios como a “Grande Guerra Patriótica” (Великая Отечественная война, Velikaya Otechestvennaya voyna, no termo em russo). E é este o sentimento compartilhado pela maioria dos russos – a batalha de Stalingrado foi a defesa da Mãe-Pátria e uma prova de amor à terra natal.

Zoya gosta de cantar e relembra a música “Meninas lutadoras”, que homenageia as mulheres que lutaram na batalha de Stalingrado.  “Eu tinha muitos planos, como toda criança, mas o maior sonho naquele momento era o mais básico de todos – viver em paz sob o céu e poder decidir o meu próprio destino”.

Fonte: Especial para Terra
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