WikiLeaks revela espionagem dos EUA a presidentes franceses
Jacques Chirac, Nicolas Sarkozy e o atual governante, François Hollande, foram alvo de grampo da agência americana, segundo documentos
Documentos divulgados nesta terça-feira (23/06) pelo WikiLeaks revelam que os três últimos presidentes da França – Jacques Chirac, Nicolas Sarkozy e o atual, François Hollande – foram espionados pela Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA).
Segundo os documentos divulgados pelo jornal francês Libération e pelo site investigativo Mediapart, também foram alvos de escutas assessores próximos aos três governantes, como diplomatas e chefes de gabinete. O material recolhido foi catalogado sob o título "Espionagem Eliseu" – em referência à sede da presidência em Paris. A espionagem teria ocorrido entre 2006 e maio 2012, mês em que Hollande sucedeu Sarcozy na presidência.
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Apesar de não comentar as revelações, o gabinete presidencial em Paris convocou para a manhã desta quarta-feira uma reunião emergencial do Conselho de Defesa do país, que reúne os principais ministros e autoridades militares, a fim de discutir o assunto. A reunião está prevista para as 7h15 (horário de Brasília) entre Hollande e cerca de 20 parlamentares, entre eles os representantes do Senado e da Assembleia Nacional, para também analisar a situação e a reação a respeito.
França convoca embaixadora dos EUA por revelações sobre espionagem
Hoje também o Ministério das Relações Exteriores da França convocou, de forma imediata, a embaixadora dos Estados Unidos na França, Jane D. Hartley, para que dê explicações sobre as últimas informações sobre as ações de espionagem às quais foram submetidos os três últimos presidentes franceses.
A última convocação desse tipo foi em outubro de 2013, data na qual seu antecessor no cargo, Charles Rivkin, foi chamado a prestar esclarecimentos pelas revelações sobre a espionagem americana a empresários e políticos franceses, entre outros.
Agora, os franceses querem explicações sobre as escutas iniciadas em 2006, e que prosseguiram até maio de 2012, pela Agência Nacional de Segurança (NSA, sigla em inglês) dos EUA para espionar - segundo divulgaram ontem à noite os meios franceses "Libération" e "Médiapart" - Jacques Chirac, Nicolas Sarkozy e François Hollande.
Essas práticas entre países aliados são "inaceitáveis", disseram o governo e a presidência da França em comunicado. Além disso, afirmaram que o país não está disposto a tolerar "nenhum ato que questione sua segurança e a proteção de seus interesses".
A veracidade do material não foi imediatamente confirmada, mas o porta-voz do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, declarou estar confiante de que os documentos são autênticos, ressaltando que revelações anteriores do site mostraram-se verdadeiras. Ele não comentou, porém, como o site obteve os documentos.
O Partido Socialista de Hollande divulgou uma nota em tom irritado, afirmando que, embora o governo esteja consciente de interceptações, isso não significa que uma "espionagem massiva, descontrolada e sistemática seja tolerável". O gabinete presidencial também ressaltou que as autoridades americanas se comprometeram no passado a pôr fim às escutas indiscriminadas em países aliados e, segundo a França, esses compromissos "devem ser recordados e estritamente respeitados".
Na manhã de hoje, o porta-voz governamental e ministro da Agricultura, Stéphane Le Foll, garantiu para a emissora "i-Télé" que essas escutas não eram "aceitáveis, nem compreensíveis" entre dois países que frequentemente atuam juntos "em nome da democracia e da liberdade".
Um assessor próximo de Sarcozy, que preferiu não se identificar, disse à agência de notícias Associated Press que o ex-presidente considera inaceitável o uso de tais métodos, especialmente vindo de um país aliado.
Em nota, o porta-voz do Conselho Nacional de Segurança dos EUA, Ned Price, disse que o governo americano não iria comentar detalhes sobre o material vazado. "De maneira geral, não conduzimos atividades de vigilância estrangeira, a menos que haja razões especificas de segurança nacional. Isso é válido tanto para cidadãos comuns, quanto para líderes globais", afirmou.
Números interceptados
Em seu site, o WikiLeaks traz o conteúdo de cinco interceptações de comunicações envolvendo presidentes franceses. Entre os temas das conversas estão o processo de paz no Oriente Médio e negociações sobre a crise do euro. A página traz ainda uma lista com números de telefones de representantes do governo francês que seriam alvos de escutas, incluindo o celular pessoal do presidente, com alguns dígitos riscados.
Entre os documentos vazados estão uma conversa interceptada pela NSA em março de 2010 entre o embaixador da França nos Estados Unidos e um assessor do então presidente francês Sarcozy, na qual os dois comentam sobre a tentativa frustrada dos franceses de chegar a um acordo de não espionagem com Washington.
Há ainda informações sobre a realização de uma "reunião secreta" de gabinete convocada por Hollande, segundo escutas realizadas em 22 maio de 2012, para avaliar eventuais consequências para a economia francesa diante de uma possível saída da Grécia da zona do euro.
O documento mostra ainda que o recém-empossado socialista teria ficado desapontado após seu primeiro encontro como presidente com a chanceler federal alemã, Angela Merkel, por ela aparentar ter "desistido" da Grécia durante uma reunião entre os dois líderes na semana anterior, em Berlim.
"Isso fez com que Hollande ficasse muito preocupado com a Grécia e com o povo grego, que pode reagir votando em um partido extremista", traz o WikiLeaks citando o documento vazado da NSA. Em seguida, o governante francês convidou o presidente do Partido Social Democrata alemão (SPD), Sigmar Gabriel, para uma conversa em Paris, que ocorreu em 13 de junho.
Documentos vazados pelo ex-agente da NSA Edward Snowden no ano passado mostraram que a agência americana interceptou comunicações de Merkel e também da presidente brasileira, Dilma Rousseff. Desde então, o governo americano vem tentando se explicar diante das acusações de uso da agência de segurança para espionar políticos aliados.
As informações são da Deutsche Welle e EFE.