Execução com gás nitrogênio nos EUA pode matar conselheiro espiritual de condenado: 'Estou arriscando minha vida'
O reverendo Jeff Hood afirmou que foi avisado sobre o risco de vazamento do gás e precisou assinar um documento do Estado
Condenado à morte, o detento Kenneth Eugene Smith deverá ser executado nesta quinta-feira, 25, no Alabama, nos Estados Unidos, usando uma máscara hermética sobre o seu rosto e inalando nitrogênio puro. Essa será a segunda vez que o Estado tentará executá-lo. Na primeira, em novembro de 2022, os funcionários não conseguiram devido à dificuldade de injetar na veia dele uma mistura letal de produtos químicos dentro do tempo estabelecido para cumprir a sentença.
A execução de Smith por asfixia com gás nitrogênio se transformou em polêmica no Alabama. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos afirmou que o método nunca antes utilizado pode ser o equivalente à tortura e pediu para que o plano fosse abandonado.
Segundo o Estado, no entanto, a execução causará inconsciência rapidamente. Por outro lado, médicos e ativistas alertaram sobre o risco de consequências, como convulsões e até sobrevivência em estado vegetativo. Outra possibilidade é de que o gás vaze da máscara e mate outras pessoas no local, como o conselheiro espiritual de Smith.
Em entrevista à BBC, o conselheiro, o reverendo Jeff Hood, afirmou que foi avisado sobre o risco e assinou um documento do Estado sobre a possibilidade do vazamento de nitrogênio.
"Estarei a alguns metros dele e fui avisado repetidamente por vários médicos de que estou arriscando minha vida para fazer isso. Se houver algum tipo de vazamento na mangueira, na máscara, no selo em torno de seu rosto, certamente poderia haver vazamento de nitrogênio na sala", afirmou Hood.
Ainda conforme o conselheiro, Smith tem medo de ser torturado na execução. "Tenho certeza de que Kenny não tem medo de morrer, ele deixou isso muito claro. Mas acho que ele tem medo de ser ainda mais torturado no processo", disse.
Smith foi condenado em 1989 pelo assassinato da esposa de um pastor, Elizabeth Sennett, que foi esfaqueada e espancada. Em 1996, um júri recomendou prisão perpétua sem liberdade para Smith, mas o juiz decidiu sentenciá-lo à morte. Na época, o condenado afirmou que estava presente quando a vítima foi morta, mas negou participação nos golpes.
À BBC, em entrevista por telefone, ele pediu que o Alabama "pare [com a execução]", "antes que seja tarde demais". Um pedido de liminar dos advogados de Smith foi rejeitado pelo tribunal, mas ainda há um recurso pendente que pode mudar a decisão final de execução.