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'Fiquei 3 dias em casa no escuro para proteger 26 gatos e 2 cães': brasileira diz por que enfrentou Irma

Apesar das orientações para deixar a cidade, Suely Caramelo montou 'operação de guerra' para cuidar de animais: 'apenas três moradores do meu prédio resolveram permanecer aqui'.

12 set 2017 - 05h48
(atualizado às 07h54)
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Suely Caramelo conta que furacão foi 'aterrorizante' e que não conseguiu dormir
Suely Caramelo conta que furacão foi 'aterrorizante' e que não conseguiu dormir
Foto: BBC News Brasil

A paulistana Suely Caramelo, de 60 anos, dos quais 36 radicada nos Estados Unidos, foi uma das que contrariou o alerta das autoridades e decidiu permanecer em casa durante a passagem do furacão Irma, o mais potente a atingir o Atlântico em uma década.

O motivo? 26 gatos e dois cachorros, parte dos quais recolhidos temporariamente das ruas de Miami, na Flórida.

Suely conta ter decidido colocar a própria vida em risco pelos animais, por quem diz ser apaixonada "desde muito pequena".

"Fiquei três dias na mais completa escuridão com 26 gatos e dois cachorros. Parte deles recolhi das ruas apenas por causa do furacão. Os outros eram meus e de amigos, que deixaram a cidade. Nunca os abandonaria aqui à própria sorte", diz em entrevista por telefone à BBC Brasil.

Segundo ela, "nenhum abrigo me aceitaria".

"Tenho quatro gatos e nenhum abrigo me aceitaria - o limite é de dois animais por pessoa. Uma parente do Brasil chegou a me dizer: 'Por que você não escolhe os dois de que mais gosta e deixa os outros dois para trás?'. Fiquei chocada. Não faz o menor sentido. Se você tem quatro filhos, levaria dois consigo e deixaria os outros dois para trás?", questiona.

Moradora de Bay Harbor Islands, bairro no norte de Miami, ela é, atualmente, presidente da ONG Friends of Surfside Cats ('Amigos dos Gatos de Surfside', em tradução livre), que recolhe e castra gatos que vivem nas ruas da cidade ─ população estimada em 800 mil, segundo autoridades.

"Foi aterrorizante", conta ela, sobre a passagem do Irma no sábado. "O vento batia muito forte. Moro no quarto andar de um edifício com cinco andares. Coloquei compensado em todas as janelas, menos na do banheiro. Não conseguia dormir. O barulho era ensurdecedor. Rezei todos os dias."

Suely ainda se emociona ao falar dos momentos "apavorantes" pelos quais passou.

"Apenas três moradores do meu prédio resolveram permanecer aqui. Em dado momento, me vi sozinha, com todos os gatos e os cachorros, sem eletricidade, no meio daquele furacão. Da janela do banheiro, via as árvores se arquearem, quase tocando o solo. Foi impressionante", diz.

"Mas acho que, embora tenha ficado apavorada, tentei passar tranquilidade aos animais. Eles reagiram bem à passagem do furacão", acrescenta.

Alguns dos gatos que Suely abrigou em casa durante passagem do Irma
Alguns dos gatos que Suely abrigou em casa durante passagem do Irma
Foto: BBC News Brasil

'Operação de guerra'

Com 26 gatos e dois cachorros em casa, Suely precisou montar uma "operação de guerra". Comprou comida e garrafas de água.

"Dias antes da passagem do furacão, os supermercados ficaram lotados. As prateleiras ficavam vazias em poucos minutos. Todo mundo estocou o quanto pôde", explica.

Desempregada desde fevereiro, ela também contou com doações de amigos.

"Meus amigos sempre me ajudam e dessa vez não foi diferente", explica.

Suely hoje "paga as contas" recolhendo gatos em Miami - quatro por dia. Em seguida, eles são castrados. Após a cirurgia, em parceria com clínicas veterinárias locais, os animais acabam encaminhados à adoção ou devolvidos aos locais onde foram capturados.

"Só devolvemos aqueles que não são adaptados ao convívio humano. Por viverem na rua durante muito tempo, muitos ficam muito selvagens", ressalta.

Riscos

Ao falar por telefone com a BBC Brasil na tarde desta segunda-feira, Suely diz estar feliz de "ver o sol brilhando e os céus sem nuvens".

O cenário era muito diferente do dos últimos dias, quando ventos acima de 200 km/h e chuvas torrenciais atingiram a cidade.

O Irma deixou um rastro de destruição por onde passou. No Caribe, matou pelo menos 27 pessoas, além de deixar milhares de desabrigadas. Também reduziu cidades inteiras a escombros.

"Já saí de casa e devolvi alguns dos gatos que estavam aqui comigo. Mas ainda estou sem luz. Também não posso sair do meu bairro porque ainda há muitas árvores caídas e existe o risco de eletrocussão. As autoridades também alertaram para o roubo", conta.

"A situação ainda é de calamidade pública. Mas, felizmente, a cidade está começando a se reconstruir", conclui.

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