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'Foi como estar no inferno': brasileiro conta como sobreviveu à explosão de um dos vulcões mais ativos da Europa

Thiago Takeut contou à BBC News Brasil como presenciou a explosão; ele fazia uma excursão na ilha Stromboli, no sul da Itália, com o amigo italiano, Massimo Imbasi, que morreu após a erupção.

6 jul 2019 - 09h16
(atualizado em 8/7/2019 às 09h40)
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'Foi como estar no inferno', relatou Thiago Takeuti à BBC News Brasil
'Foi como estar no inferno', relatou Thiago Takeuti à BBC News Brasil
Foto: Cortesia/Thiago Takeuti / BBC News Brasil

O brasileiro Thiago Takeuti sobreviveu à explosão de um dos vulcões mais ativos da Europa, localizado em uma pequena ilha, no sul da Itália.

Ele estava fazendo uma excursão na ilha Stromboli, na costa da Sicília, com o amigo italiano, Massimo Imbasi, que morreu após a erupção, ocorrida no dia 4 de julho.

Takeuti filmou com seu celular parte das atividades do vulcão. À BBC News Brasil, ele contou como escapou das pedras, cinzas e fumaça provocadas pela erupção e como tentou ajudar o amigo, que caiu e parou de respirar quando tentavam se afastar do vulcão.

"Estávamos em uma zona de acesso permitido. Não havia nenhum aviso de perigo, estávamos a 200 metros de altitude, enquanto a altura permitida para a visitação sem guias especializados é de até 400 metros", disse Takeuti à BBC News Brasil.

O vulcão, ativo há mais de dois mil anos, mede 920 metros de altura e prossegue por 2.400 metros abaixo do nível do mar.

"De repente, ouvimos uma explosão. Olhamos para cima e vimos uma chuva de lava solidificada que caia por todo lado, era uma chuva de detritos do tamanho de um fogão, ou de uma máquina de lavar."

"Começamos a retornar pela trilha. Massimo já havia feito o percurso inúmeras vezes e me dava dicas de como me comportar, como colocar o mochila na cabeça e caminhar sem correr, para evitar quedas e fraturas."

"Como ele trabalhava com barcos, ele tinha um rádio transmissor e enquanto caminhávamos ele pediu socorro à guarda costeira, dando a eles a nossa localização."

"Entre a primeira chamada de socorro até a chegada de polícia acredito que tenha transcorrido uma hora."

"Foi como estar no inferno. Além da queda de pedras, cinzas e fumaça, o calor entrando em contato com a vegetação seca deu origem a vários incêndios".

"Encontramos um espaço onde o fogo já tinha se apagado, mas o solo estava fervendo. Mas a partir daí o Massimo começou a passar mal e acabou caindo sentado. Acho que ele estava desidratado."

"Tentei impedir que ele se deitasse no chão quente para não piorar a situação, mas vi que ele estava com a respiração acelerada, e perdendo consciência. Agachado, comecei a dar tapas no rosto dele e a fazer respiração boca a boca, apoiando as costas dele nas minhas pernas. Ele chegou a voltar a respirar umas três ou quatro vezes, mas aí não voltou mais. Tentei fazer massagem cardíaca com força, mesmo não sabendo muito como fazer. Tentei em todos os modos de salvar a vida dele."

"Ainda fiquei come ele ali por cerca de 20 minutos, mas quando percebi que não havia nada a fazer, fechei os olhos dele e peguei o rádio para chamar socorro novamente."

"Eu tinha certeza de que eu seria o próximo a morrer ali, desidratado como ele."

Thiago Takeuti perdeu o amigo italiano, Massimo Imbasi, que morreu após a erupção, ocorrida no dia 4 de julho
Thiago Takeuti perdeu o amigo italiano, Massimo Imbasi, que morreu após a erupção, ocorrida no dia 4 de julho
Foto: Cortesia/Thiago Takeuti / BBC News Brasil

Takeuti disse que a primeira pessoa a encontrá-los foi um guia turístico. "Os policiais chegaram bem depois".

"Depois que desci da montanha, tossindo e com ferimentos, fui prestar declarações aos carabinieri (polícia italiana). Eles me ouviram, mediram a minha pressão e me liberaram".

"Achei que alguém viesse me socorrer. Além da desidratação, dos ferimentos e das queimaduras nas pernas, eu estava preocupado em estar intoxicado pela fumaça. Mas ninguém me levou ao hospital nem ofereceu qualquer tipo de ajuda."

"Até agora, só a imprensa me procurou."

Os jovens, ambos com 35 anos, tinham se conhecido na Itália uma semana antes do acidente. "Massimo fazia este percurso com frequência. Na noite anterior, dormi na casa dele, em Milazzo, junto com outros amigos. Fizemos uma festa, comemos pizza e planejamos a nossa excursão."

O prefeito de Lipari, Marco Giorgianni, responsável pela administração da ilha, informou, em um comunicado divulgado no site oficial após as explosões do dia 4 de julho, que a visitação ao vulcão Stromboli continua aberta até os 400 metros de altitude e que "ao momento nada indica que o episódio possa se repetir ou que fenômenos similares possam ocorrer".

De acordo com especialistas, a atividade ordinária do Stromboli consiste em explosões moderadas, com expulsão de fragmentos de lava e cinzas a cada 20 minutos, aproximadamente. Mas o vulcão também é capaz de violentas e imprevistas explosões de matéria incandescente, com fluxo de lava que escorre principalmente em duas de suas encostas.

Ao todo, os vilarejos de Stromboli contam com cerca de 400 habitantes, mas durante o verão o número de moradores sobe para 4 mil pessoas.

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